Renata Sorrah, a primeira Heleninha: “As mocinhas sempre foram chatas”

A atriz volta aos palcos cariocas em maio com o espetáculo Ao Vivo [Dentro da Cabeça de Alguém], inspirado nos textos do russo Tchekhov

Por Melina Dalboni
17 abr 2025, 15h44
Renata Sorrah
Renata Sorrah: " “É difícil fazer o remake de uma novela que é considerada a melhor já feita” (Fabio Audi/Divulgação)
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Em quase seis décadas de carreira, Renata Sorrah, 78 anos, deu vida a duas das mais emblemáticas personagens da teledramaturgia brasileira — Heleninha Roitman, a socialite alcoólatra de Vale Tudo (1988), e a icônica vilã Nazaré Tedesco, de Senhora do Destino (2004). Mas isso é apenas a ponta de um leque muito mais vasto, cujo marco zero foi a estreia no teatro, em 1967, seguida do primeiro papel na televisão, na Rede Tupi. Dali se seguiram mais de trinta novelas, sem nunca abandonar os palcos.

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E é para lá que Renata está voltando: no dia 2 de maio, no Teatro Carlos Gomes, ela dá a largada a Ao Vivo [Dentro da Cabeça de Alguém]. No espetáculo escrito e dirigido por Marcio Abreu, da Companhia Brasileira de Teatro, a partir dos textos do russo Anton Tchekhov (1860-1904), a veterana atriz, que nos anos 70 participou de uma célebre montagem de A Gaivota, do mesmo autor, divide a cena com cinco atores de diferentes idades. “Estar no teatro, ainda aprendendo, me mantém jovem”, diz Renata, que falou a VEJA RIO sobre o remake de Vale Tudo, com Paolla Oliveira interpretando o papel que já foi seu, o medo de fazer cinema e a percepção sobre a vida em fase madura. “O tempo se torna precioso”, diz.

O que está achando de Vale Tudo? Vi o primeiro capítulo e achei muito bom. Os atores e o diretor são ótimos, e a autora, excelente também. É difícil fazer o remake de uma novela que é considerada a melhor já feita.

Que tal Paolla Oliveira na pele da nova Heleninha Roitman? Gostei da escalação. Ela foi uma graça, me assistiu no teatro em São Paulo e pediu a bênção. Admiro a Paolla como mulher, por seus posicionamentos. Ela é boa atriz, vai fazer bem e é diferente de mim, o que é bom. Quanto mais distanciada ela for da personagem que eu fiz, melhor.

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Algumas novelas vêm enfrentando crise na audiência. O que está faltando? Isso aconteceu ao longo de toda a história das novelas: às vezes dava certo, às vezes não. Vem uma sequência de três ou quatro tramas que não são boas e, de repente, aparece uma que faz melhorar tudo.

Ainda tem espaço para as mocinhas das novelas de antigamente? As mocinhas sempre foram chatíssimas. Docezinhas, boazinhas. Chatas. Hoje em dia não é assim. Tem que retratar o que está acontecendo no mundo.

É por isso que as vilãs mobilizam tanto o público? Elas são mais interessantes, mais inteligentes e têm conflitos. A história anda para a frente nas mãos das vilãs.

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“É difícil fazer o remake de uma novela que é considerada a melhor já feita”

As questões levantadas por Tchekhov no texto do qual agora vocês trazem trechos ao palco permanecem atuais? Completamente. Um dos personagens da peça se mata aos 27 anos com um tiro e provoca a reflexão: como deixar uma arma junto de um jovem que está se sentindo sozinho? Quando escuto isso em cena, me vem imediatamente a série Adolescência. É o que está acontecendo hoje com os jovens e a internet, os jogos on-line, as redes sociais. Eles se matam, se machucam, se ferem, sofrem por não serem aceitos, por bullying, por depressão. Tchekhov escreveu sobre esse mesmo sentimento de solidão, abandono, lá no final do século XIX.

Você usa as redes sociais? Tenho um perfil por causa do teatro, para divulgar as peças. Mas procuro usar pouco. Se você posta demais, é um perigo. O tiro sai pela culatra, porque a pessoa passa o dedo direto. Fico meses sem mexer em nada.

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Como vocês, atores, enxergam as perspectivas abertas pela inteligência artificial? Ainda não pesquei o que é inteligência artificial direito, mas outro dia fiquei apavorada. Fui chamada para fazer um grande evento e me enviaram uma biografia minha. Estava tudo errado e mal escrito. Tinha meu nome, mas não era eu. Havia coisas da Dina Sfat, da Marília Pêra. A pessoa que me enviou pediu perdão e disse: “Eu peguei na inteligência artificial”. Diante desse pequeno exemplo, fiquei na dúvida se a IA pode realmente nos ajudar.

A Fernanda Torres diz ter orgulho de ter virado meme. Também sente isso? O meu meme é imbatível. E circula no mundo todo — França, Alemanha, Inglaterra. Meu sobrinho estava no dentista em Nova York, apareceu o meme da Nazaré, conhecido como Math Lady (Senhora Matemática), na televisão e ele disse: “É minha tia”. O dentista pirou.

Não a incomoda, então? Não, mas às vezes fico um pouco chocada. Estava em Porto Alegre fazendo uma peça dificílima e quando saí do teatro apontaram para mim: “Olha a mulher do meme”. Meu Deus do céu, eu, atriz há não sei quantos anos, virei a mulher do meme. Para uma geração é isso, sou a mulher do meme. Só não gosto quando usam para vender coisas.

Aí você processa? Na Itália, usaram para vender um remédio natural. Chamei um advogado e eles retiraram. Se eu ganhasse 1 centavo por uso do meme, seria milionária.

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As oportunidades para as atrizes vão diminuindo com o passar da idade? Eu nunca senti isso. Estou trabalhando no teatro, sempre me chamam para fazer novela. Para cinema também, mas eu digo não.

Por quê? Tenho medo de protagonista no cinema. Penso que não vou saber fazer e prefiro participações. Acabei de dizer mais dois “não, obrigada”, embora adore o cinema brasileiro.

Qual o lado bom de envelhecer? Meus anos agora são valiosos, só posso fazer aquilo que tenho vontade. Quando a gente é jovem, o tempo não existe, é largo. Agora, o tempo é precioso.

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