Lançado com pompa e um tanto de espanto no final de 2022, o ChatGPT se tornou um divisor de águas no universo das ferramentas de inteligência artificial, um termo por muito tempo mais conectado à ficção científica do que à realidade. Dois anos mais tarde, o software da OpenAI contabiliza 200 milhões de usuários ativos a cada semana e tem no Brasil um de seus principais mercados, atrás apenas de Estados Unidos, Índia e Indonésia. E o avanço das tecnologias torna ainda mais premente a atualização do setor de educação, que precisa estar um passo à frente para poder decodificar as novidades e entender a forma mais eficaz de fazê-las parceiras do aprendizado.
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A IA generativa já chacoalhou a sala de aula, impondo uma reflexão sobre os currículos existentes e abrindo as portas para a criação de novas grades. Em paralelo, correm discussões éticas que não podem ser ignoradas. “Uma delas envolve os direitos autorais nessas plataformas”, enfatiza Erica Rodrigues, coordenadora central de graduação da PUC-Rio. A universidade vem promovendo mudanças significativas em cursos como filosofia e direito.
Afinados em debates que dominam eventos globais de inovação, como o SXSW, em Austin, e a NRF Big Show, organizada em Nova York pela federação americana de varejo, docentes da ESPM e do Ibmec tentam propor ao ritmo dos acontecimentos grades e cursos renovados. “Há três anos, só se falava em metaverso e, hoje, o papo é sobre inteligência artificial. Essa velocidade exige flexibilidade da instituição e, acima de tudo, líderes acadêmicos conectados ao novo”, afirma Caio Bianchi, diretor acadêmico de graduação, ecossistemas e educação continuada da ESPM.
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Por lá, um curso livre, ministrado a distância, pode ser implementado em cinco dias úteis — no momento, há sete deles disponíveis e todos têm a inteligência artificial como base. “Não dá para fugir dessa realidade. Qualquer profissão está imersa no mundo digital”, lembra Sabrina Oliveira, head dos cursos de tech do Ibmec. “Nada impede que um profissional de letras se insira em uma grande equipe de TI, por exemplo, o que vai ser cada vez mais comum”, arremata Roberta Portas, coordenadora central de estratégias pedagógicas da PUC-Rio.
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Nesse cenário de acentuadas mudanças, os professores também precisam se adaptar. “Aquele modelo de aula expositiva, ao estilo “cuspe e giz”, no qual o docente fala e os estudantes escutam, ficou no passado. O aluno precisa estar no centro, e ninguém deve temer as tecnologias”, aponta Fábio Campos, especialista em inovação em educação e representante da Universidade Columbia no Brasil.
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No documento batizado de Bússola de Aprendizagem 2030, a OCDE, que reúne as nações mais desenvolvidas, destacou que habilidades socioemocionais, as soft skills, são cada vez mais valiosas no ambiente de trabalho. Esse rol abrange pensamento crítico e criativo, empatia, inteligência emocional e responsabilidade. “O tempo de formação de um educador leva de quatro a cinco anos. Quando ele finalmente está pronto para ensinar, a sociedade se transformou”, constata André Ozawa, coordenador de conteúdo e inovação de educação da Casa Firjan. O profissional do futuro deve ser capaz de formular perguntas e antecipar cenários. E só um lembrete: o futuro já chegou.