Um comentário da página Alerta Leblon em uma postagem publicada na última semana no Facebook gerou revolta em moradores da Rocinha. Após divulgar erroneamente a informação de que tiros estavam sendo ouvidos na região do Alto Leblon e ser desmentido por seguidores que vivem na favela, o responsável pelo site comparou a comunidade ao Iraque e disse que seus moradores deviam ser gratos por ele abordar o problema. “Tem gente que merece passar por isso mesmo, que fiquem aí sendo baleados, assassinados etc, tô nem aí”, concluiu Pedro Fróes, em texto depois apagado e conduta incompatível com o artigo 3 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, criada pelo Brasil e outros países em 1948.
A página Parceiros da Rocinha reagiu com indignação ao comentário, acusando seu autor de ser exibicionista. “A pessoa quer ter uma página de bairro e parece querer virar ‘celebridade’ na internet para tentar a todo custo sair na capa de jornal e matérias mentirosas em revista”, escreveram seus responsáveis. A briga esquentou ainda mais após circular nas redes sociais um áudio de autoria de Fróes sobre o caso, no qual ele diz não ser do seu interesse ter moradores da favela seguindo a Alerta Leblon e se defende das acusações de discriminação. “Não tenho preconceito, mas não gosto de gente mal-educada”, diz na gravação.
A discussão ganhou um novo round nesta segunda (05), quando Fróes divulgou um vídeo sobre o caso na Alerta Leblon. No filme, ele afirma que já morou na Rocinha e pede desculpas aos membros da comunidade que tenham ficado ofendidos com suas declarações. Mas voltou a atacar seus detratores, que definiu como “vagabundos”. “Tem muito morador que passa zap para o bandido avisando que a polícia chegou”, advertiu Fróes. Por trás da briga entre vizinhos, a distância no acesso a recursos pelos moradores dos dois locais surpreende. De acordo com avaliação da prefeitura do ano 2000, o Índice de Desenvolvimento Social (IDS) no Leblon (0,809), segundo bairro carioca com melhor performance no indicador (atrás apenas da Lagoa), era quase duas vezes melhor do que o verificado na Rocinha (0,458). O IDS avalia pontos como acesso à educação formal, renda, saneamento básico e outros itens que refletem o nível de bem-estar social. Enquanto dois lugares tão próximos forem tão diferentes, situações assim serão comuns, já que a pobreza – seja quando erradamente lida apenas como parte da paisagem, seja quando corretamente compreendida como um problema social de várias facetas – incomoda. O que muda é a forma como as pessoas reagem e que, muitas vezes, beira a barbárie.