Felipe Curi: “O desafio é melhorar a sensação de segurança”

Secretário da Polícia Civil do Rio fala a respeito dos investimentos da gestão, visão sobre o crime e estratégias para aproximar a instituição das pessoas

Por Redação VEJA RIO
Atualizado em 18 jul 2025, 09h40 - Publicado em 18 jul 2025, 07h00
 (Felipe Curi, secretário da Polícia Civil do Rio . Leo Lemos/Reprodução)
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Com quase duas décadas de carreira policial, Felipe Curi construiu sua trajetória passando por delegacias da capital e da Baixada Fluminense. Inaugurou a extinta 45ª DP no Complexo do Alemão, foi titular da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (antiga Delegacia de Combate às Drogas), dirigiu o Departamento-Geral de Polícia Especializada (DGPE) e o Departamento-Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa (DGHPP), além de atuar como subsecretário de Planejamento e Integração Operacional. 

Aos 18 anos, perdeu o pai em um latrocínio, episódio que marcou sua decisão de ingressar na corporação. Desde então, construiu uma trajetória marcada por operações de alto risco, prisões de líderes do crime organizado e atuação direta em investigações complexas, até chegar ao cargo de secretário da Polícia Civil do estado, em setembro de 2024. A VEJA RIO, Curi fala sobre os desafios da função, o cenário do crime no estado, as prioridades da gestão atual e os esforços para reverter a imagem negativa da corporação.

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O senhor já esteve em campo, em situações de alto risco. O que mais te marcou neste período? E como essas experiências moldaram sua visão sobre segurança pública? Carrego até hoje muita tristeza pela perda do meu colega e braço direito, Ellery de Ramos Lemos, baleado em 2018 durante uma operação em Acari, um profissional extremamente preparado e dedicado. Eu também já fui baleado no Complexo do Alemão, numa operação em uma das áreas mais perigosas, conhecida como Chuveirinho. Um dos tiros acertou meu dedo, que segurava o fuzil; outro atingiu meu ombro e saiu pelas costas. Mas eu considero as experiências de campo fundamentais. Conhecer o “chão da fábrica” dá legitimidade junto à tropa, ajuda na coordenação das equipes e nas tomadas de decisão.

Qual é a sua visão sobre o cenário da criminalidade no estado do Rio hoje? O cenário é desafiador. O crime organizado se fortaleceu e expandiu seu domínio territorial nos últimos anos. Em 2020, quando assumi como subsecretário, tivemos que lidar com a decisão da ADPF 635, que restringiu bastante a atuação policial. Na época, redigimos um relatório alertando que isso fortaleceria o crime e transformaria comunidades em bases operacionais — o que, infelizmente, se confirmou. As barricadas, que antes eram improvisadas, hoje são verdadeiras obras de engenharia. É como tentar abrir caminho numa floresta. E vemos agora uma espécie de “milicialização do tráfico”, em que facções passaram a controlar também serviços como internet, TV, gás e água, impondo seu domínio sobre os territórios.

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Quais foram as prioridades estabelecidas pela sua gestão ao assumir a Secretaria de Segurança Pública? Quando assumi, um dos problemas mais graves era o roubo de veículos, que estava no nível vermelho. O governador Cláudio Castro determinou prioridade absoluta para reduzir esses índices. Por isso, reeditamos a Operação Torniquete, com reforço de recursos, investigações, e os números vêm caindo mês a mês. Desde março deste ano, os índices têm se mantido no verde. O roubo de cargas também está estabilizado. Mais de 540 pessoas já foram presas pela operação, recuperamos automóveis e cargas avaliados em quase 40 milhões de reais, e mais de 70 milhões de reais em recursos foram bloqueados.

E quais são outros focos importantes atuais? Reativamos ações estratégicas, como a Operação Caminhos do Cobre, com investigações que resultaram na apreensão de mais de 250 toneladas de cobre. Também lançamos a Operação Contenção, voltada para conter o avanço do Comando Vermelho na zona oeste — nesse caso, alcançamos o maior bloqueio de bens e valores da história da Polícia Civil, de 6 bilhões de reais. Em março, realizamos a maior operação já feita pela instituição, a Espoliador, com 610 criminosos presos em um único dia. O investimento na modernização da corporação, com a aquisição de novos armamentos, uniformes e blindados, também é uma prioridade.

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Quais são os maiores desafios hoje quando o assunto é segurança pública? Temos hoje, infelizmente, uma legislação branda que favorece o criminoso. Um traficante de drogas, por exemplo, pode ser preso com a pena mínima de três anos. Com o aumento da pena por conta do porte de fuzil, vai para quatro. Mas em menos de um ano ele já consegue sair. Outro desafio é o de melhorar a sensação de segurança. Apesar de termos hoje índices menores de roubos e outros crimes, o clima de insegurança aumentou por conta das disputas territoriais e confrontos violentos entre grupos criminosos, com os ataques a aeronaves e blindados da polícia crescendo muito. Os roubos de celulares também contribuem para essa sensação. Nossa Operação Rastreio foca justamente em combater esse tipo de crime. Mais de 230 prisões foram realizadas e 4 300 aparelhos foram recuperados. Mas o processo é contínuo. 

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E quais são os próximos passos da pasta ainda neste ano? Temos projetos importantes, entre eles, a expansão e regionalização de três unidades especializadas da Polícia Civil: a Delegacia de Repressão a Entorpecentes [DRE], a Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis [DRFA] e a Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas [DRFC]. Essas unidades vão ganhar bases na Baixada Fluminense e em Niterói, funcionando nas sedes das Delegacias de Homicídios das regiões [DHBF e DHNSG]. Também vamos inaugurar duas novas Delegacias de Atendimento à Mulher, uma na zona sul e uma nova sede na zona oeste. E estamos estruturando duas divisões: a DCAV, que é a Divisão de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítima, e a DRCI, Divisão de Repressão a Crimes de Informática.

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Como as ferramentas tecnológicas contribuem hoje para a atuação da Polícia Civil? Adquirimos recentemente a versão mais moderna do software israelense Cellebrite, que é referência em investigação digital e acelerou a extração dos dados de aparelhos. Também investimos no iPol, um aplicativo que usa reconhecimento facial e facilitou muito a identificação de suspeitos. Usamos também outras ferramentas de inteligência que ajudam a cruzar dados e aumentam nossa produtividade.

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Diante de operações que terminam em cenas violentas, a população muitas vezes guarda uma imagem negativa da polícia. Há uma preocupação em reverter isso e ampliar o diálogo com as pessoas? Sim, e a comunicação tem sido uma ferramenta essencial. Estamos aos poucos furando bolhas e alcançando públicos que antes não acompanhavam a atuação policial, principalmente com as redes sociais. Falar de forma direta com a sociedade nos ajuda a desconstruir narrativas e contar nossa própria versão da história. Eu acredito e defendo que a reação da polícia é uma resposta à violência praticada pelos criminosos. Temos também ações educativas para aproximar a população, como o Papo de Responsa, de prevenção ao uso de drogas, e a própria Operação Rastreio, que orienta sobre a compra segura de celulares e a proteção de dados pessoais. 

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