A festa de Babete

A jovem atriz Thais Belchior rouba a cena ao interpretar uma hippie fora de época no musical Tudo por um Popstar, espetáculo para adolescentes inspirado em livro da escritora Thalita Rebouças

Por Rafael Teixeira
Atualizado em 5 jun 2017, 14h10 - Publicado em 13 fev 2013, 20h36
foto Fernando Lemos
foto Fernando Lemos (Redação Veja rio/)
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O primeiro contato entre a escritora Thalita Rebouças e a atriz Thais Belchior aconteceu de maneira fortuita, em dezembro de 2011. Autora da série de livros Fala Sério, Thalita havia ido ao teatro prestigiar uma amiga que atuava ao lado da jovem de 24 anos em uma peça e a cumprimentou nos bastidores depois da apresentação. Nada que levasse a crer que, meses depois, a escritora a indicaria para participar de um musical baseado em uma obra sua. A abordagem veio pelo Twitter. “Você sabe cantar?”, perguntou Thalita em uma mensagem no microblog. Essa foi a senha que levou Thais a se inscrever na seleção de elenco de Tudo por um Popstar e conquistar o papel de Babete, uma hippie fora de época, prima de uma das três meninas que vêm do interior para assistir a um show dos seus ídolos. A rigor, Babete não é a protagonista, mas os aplausos e os gritos do público são nitidamente mais fortes quando sua intérprete sobe ao palco para a reverência ao fim do espetáculo. “É um retorno impressionante, como eu nunca havia tido”, reconhece ela, que já se candidatara a vagas em outros musicais, até então sem sucesso.

foto divulgação
foto divulgação ()

Quem vê a desenvoltura com que representa a personagem anacrônica reconhece nela uma comediante nata. Na verdade, até pouco tempo atrás a atriz encarava com relutância seu talento para fazer rir. Filha de um contador e de uma bancária, a mais nova de duas irmãs, Thais começou a fazer teatro cedo. Aos 8 anos, apresentou uma peça, cujo nome nem se lembra, para os moradores do condomínio onde morava, na Barra da Tijuca. Dois anos mais tarde, ela subiu ao palco em seu primeiro espetáculo profissional, Aurora da Minha Vida, de Naum Alves de Souza, encenada na Casa de Artes de Laranjeiras ? uma das escolas que frequentou, assim como o Tablado e a Casa de Cultura Laura Alvim. Desde o início, a maioria de suas encenações passava longe do gênero de Tudo por um Popstar ? ela preferia textos densos de autores como Ariano Suassuna, Nelson Rodrigues e Bertolt Brecht, dirigidos por importantes nomes do teatro contemporâneo, como Ricardo Kosovski e Daniel Herz. “Muita gente dizia que eu tinha uma verve cômica forte. Mas eu ficava com receio de ser rotulada de comediante. Aos poucos, fui me libertando dessa neura e investindo mais nisso”, lembra Thais, que, recentemente, esteve em espetáculos de humor e improviso.

Tal guinada se mostrou de enorme valia em Tudo por um Popstar. Dona de algumas das falas mais engraçadas da peça, com referências a energias cósmicas e entes sobrenaturais, ela tem até mesmo um momento de improvisação, ao lado do ator Igor Pontes, em que interage com a plateia. A cada sessão, um espectador é escolhido ao acaso ? sempre um homem, com quem Babete começa a flertar. O público vem abaixo de tanto rir. “Ela tem um talento fora do comum. Eu diria que é meio que uma Regina Casé no início da carreira”, compara Pedro Vasconcelos, diretor do musical. Inicialmente, porém, ele estava inseguro com relação à sua escalação. Acabou convencido pela persistência de Thalita e foi definitivamente conquistado durante os ensaios. “Eu não tinha dúvidas de que ela era Babete. Estou roteirizando o filme baseado em Tudo por um Namorado, a continuação de Tudo por um Popstar, e não penso em outra pessoa para a personagem que não seja a Thais”, conta a autora.

Em cartaz em duas salas, no Teatro Clara Nunes e no Imperator, totalizando cinco sessões por semana, o espetáculo é uma produção da Aventura, a empresa responsável por sucessos de bilheteria como Hair, O Mágico de Oz e Um Violinista no Telhado. Para produzi-lo, foram investidos 3,5 milhões de reais, um valor alto para os padrões do teatro infantojuvenil carioca. “Sempre tivemos em mente uma montagem de qualidade, que cativasse o espectador e, assim, ajudasse a formar o público teatral de amanhã”, diz Aniela Jordan, sócia da produtora. Para fisgar essa plateia arisca, Thais e o restante do elenco se desdobram em performances cheias de energia. “Eu falo muito rápido na peça, e é de propósito. Apesar de Babete ser meio zen, se eu falasse devagar, como seria uma personagem dessas, o adolescente não embarcaria. A gente tem de se sintonizar com o nosso público”, explica Thais. Os aplausos mostram que a conexão está perfeita.

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