Violinistas tocam o tema de Titanic na porta da casa de Cabral e Adriana Ancelmo

Manifestações gaiatas amenizam um pouco a sucessão vertiginosa de más notícias

Por Pedro Tinoco
10 dez 2016, 00h00
Circo armado no Leblon: música, curiosos e indignados
Circo armado no Leblon: música, curiosos e indignados (Ana Branco/AG. O GLOBO/)
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Near, My God, to Thee, hino cristão inglês surgido no século XIX, ganhou fama mundial na trilha sonora de Titanic (1997). Em cena pungente do premiado filme de James Cameron, um conjunto enfrenta com altivez a tragédia quando decide continuar tocando, enquanto o barco afunda. Na terça (6), os jovens Tiago Ribeiro e Rodrigo Silva, estudantes de violino, interpretaram o hino, mas não pareciam nem um pouco chateados com o rumo do navio. O “palco” escolhido foi a calçada em frente ao prédio no Leblon onde, pela segunda vez em dezenove dias, o circo estava armado. Depois de visitar o endereço em busca do ex-governador Sérgio Cabral Filho, no último dia 17, a polícia voltou ao lugar para cumprir o mandado de prisão preventiva da advogada Adriana Ancelmo, a mulher dele.Do lado de fora, curiosos e indignados formaram a plateia em torno dos instrumentistas. Procurada em casa e no escritório, e não encontrada pelos agentes, a ex-primeira-dama apresentou-se à Justiça mais tarde. Cumpriu os procedimentos de praxe e foi encaminhada para o complexo penitenciário de Bangu, o mesmo destino de seu marido. O número musical no Leblon reforça uma saudável tradição carioca: a prática das manifestações gaiatas. O próprio Cabral teve seu quinhão. Quando chegou ao presídio, em novembro, ele foi recebido na entrada por um grupo que brindava com espumante no meio da rua, evidente alusão aos banquetes, regados a rótulos bem mais caros, dos quais participou mundo afora. Anos antes, em 2013, deu o que falar a atuação da turma do contra na missa de casamento da neta de Jacob Barata, empresário na área de transporte de ônibus — a cerimônia foi perturbada por uma encenação trash diante da igreja, com direito a ativista vestida de noiva e distribuição de baratinhas de plástico. Fica a dica: a gozação pode ser uma forma de protesto eficiente. É, no mínimo, mais divertida e menos danosa do que o quebra-quebra com hora marcada que vem se repetindo nos arredores da Alerj.

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