Respirar, ouvir o corpo e se permitir: o luxo invisível de parar
Entre o mar, o vento e a convivência em família, percebi que é no silêncio que o corpo escuta, a mente desacelera e os vínculos se fortalecem.
Em um mundo que nos cobra produtividade constante, parar parece quase um ato de rebeldia. Mas é justamente na pausa que a vida se reorganiza. Foi com esse desejo de escuta — do corpo, da mente e da alma — que eu me permiti desacelerar. Escolhi o mar, o céu aberto e o silêncio como aliados. Acordei com os pés descalços, o cabelo bagunçado e a alma em paz. O som vem do mar. A brisa toca a pele, fresca e revigorante.
Dessa vez, o destino foi Búzios — um lugar que já foi apenas uma vila de pescadores e ganhou o mundo quando Brigitte Bardot descobriu, nos anos 60, a sua beleza crua e despretensiosa. A Orla Bardot ainda guarda essa memória: um calçadão simples, ladeado por mar e esculturas, onde o tempo parece caminhar mais devagar. É como se cada passo fosse um convite a criar raízes no presente, e não correr para o próximo compromisso.
A experiência se dividiu entre o Hotel Aretê e a Pousada Villa Rasa, dois refúgios no início da península. Não são sobre luxo ostensivo, mas sobre o luxo invisível de se sentir acolhida. Nada de excessos: tudo equilibrado, silencioso, respeitoso. É como se a arquitetura de ambos sussurrasse: “aqui você pode descansar”. E quando o espaço nos autoriza a parar, o corpo escuta. A mente desacelera. A alma respira.
Foi nesse cenário que reencontrei a força da convivência. No Aretê, os espaços abertos, a atmosfera náutica, o por do sol especial, pareciam traduzir a importância de criar lugar para as coisas acontecerem: uma conversa sem pressa, um riso solto, até o silêncio compartilhado que não precisa ser preenchido. Na Villa Rasa, com a praia maravilhosa logo em frente, a família se deixou levar pelo ritmo do mar. Caminhamos sem destino, vimos o sol se deitar e entendemos que estar juntos é mais do que dividir um endereço — é dividir o tempo.
As refeições se tornaram um ponto alto nesses lugares. À mesa, sem pressa, cada uma das minhas filhas trouxe pedaços da vida que, no dia a dia, quase escapam. Entre garfadas e histórias, percebi como a intimidade verdadeira nasce quando há espaço para ouvir. O mesmo valeu para as regatas: ver as meninas velejando, com o vento como aliado, foi perceber a potência do movimento coletivo. Elas no barco, nós na torcida. Cada conquista era um pouco de todos nós. Família também é isso: remar em direções diferentes, mas ser sustentado pelo mesmo mar.
Entre uma prática e outra do Onix Yoga, fui lembrada de que a lógica é a mesma: a respiração só existe porque há intervalo, o corpo só cresce porque há pausa, e o vínculo só se fortalece quando há tempo. Não é o esforço desenfreado que gera potência, mas a escuta.
No fim, esse novo Búzios foi cenário. Mas a transformação aconteceu dentro — e entre nós. Não foi sobre fugir da vida, e sim sobre se reconectar com ela. Sobre sentir-se inteira, bonita, leve, não porque se atendeu a um padrão, mas porque existe coerência entre o que pulsa por dentro e o que se expressa por fora.
Se há algo que quero deixar com você é: crie espaço. Pode ser numa orla famosa, numa serra distante, ou no silêncio da sua casa. O cenário compõe, mas o que transforma é quando você diz “sim” a si mesma — sem pressa, sem culpa, sem amarras.
Porque quando você pausa, você se encontra. Quando respira, você se escuta. Quando se permite, você floresce. E quando compartilha esse espaço com quem ama, a vida ganha raízes.
Namastê