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Analice Gigliotti

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Comportamento

Por que a gravidez da atriz Claudia Raia incomodou tanta gente?

Anúncio de que atriz está esperando o terceiro filho causou uma onda de comentários maldosos nas redes sociais

Por Analice Gigliotti
Atualizado em 4 out 2022, 17h21 - Publicado em 4 out 2022, 16h22
A jornalista Renata Ceribelli com a atriz Claudia Raia e o marido.
Claudia Raia e Jarbas Homem de Mello em entrevista a Renata Ceribelli, no "Fantástico": atriz falou sobre seu espanto com mensagens raivosas sobre a sua gravidez. (Divulgação/Reprodução)
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Era para ser um momento absolutamente feliz. Toda mulher que anuncia estar grávida é cercada de afeto e bons votos de saúde durante a gestação. Mas e quando a gravidez foge um pouco ao script do que se convencionou chamar de “normal”? Foi o que pode viver na pele a atriz Claudia Raia.

Mãe de dois jovens de sua união com o ator Edson Celulari e casada há anos com o ator Jarbas Homem de Mello, Claudia desejava ter um terceiro filho com o novo marido. Fez tratamento com óvulos colhidos anteriormente para viabilizar a gravidez que acabou não acontecendo. Eis que agora, aos 55 anos, depois de já ter desistido da ideia de ser mãe mais uma vez, a gravidez aconteceu espontaneamente – quando a atriz já estava até na menopausa. A facilidade para engravidar parece ser um traço genético na família, segundo a própria atriz: ela mesma foi gerada aos 45 anos, de forma natural.

Os médicos – inclusive os que acompanham a atriz na gestação – são unânimes em dizer que se trata de um caso raro: apenas 0,014% das 8,5 milhões de mulheres que deram à luz no Brasil entre 2018 e 2020 tinham mais de 50 anos. Se a gravidez for espontânea, a probabilidade é de uma em cada mil mulheres.

Diante de um verdadeiro feito como este, era de se esperar que a atriz fosse coberta de carinho. E foi. Mas também se viu alvo de xingamentos e deboches questionando que ela já tinha idade para ser avó ou até mesmo questionando a razão de engravidar nesta idade, já tendo dois filhos.

As manifestações raivosas levantam uma série de provocações que fazem pensar. Antes de mais nada, reforçam a ideia da internet e das redes sociais como um tribunal inquisidor, uma verdadeira praça pública onde qualquer pessoa se sente autorizada a emitir opiniões sobre todos os assuntos – inclusive no que diz respeito à vida dos outros. Será que essas pessoas se comportariam do mesmo modo se estivessem frente a frente com a atriz ou vociferam contra elas apenas porque estão protegidas pela distância da tela de um computador?

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O segundo ponto flagrante é que a maioria das críticas contra a gravidez de Claudia Raia é  emitida por mulheres. Em um mundo que defende a sororidade como um valor a ser perseguido, onde está a empatia dessas mulheres com uma outra mulher?

Um terceiro ponto que vale reflexão é o etarismo, o preconceito que envolve pessoas mais velhas. Que livro, que métrica, que dogmas regulam o que pode ou não pode ser feito por uma mulher de 55 anos? VEJA RIO, em matéria de capa deste mês, lista uma série de mulheres que estão em plena fase de explosão criativa, todas com mais de 50 anos: Andrea Beltrão, Maitê Proença, Clarice Niskier, Fafá de Belém e Deborah Evelyn. É ou não é um timaço? Em pleno 2022 ainda estamos medindo o que “cabe” ou “não cabe” a uma mulher de acordo com convenções sociais que herdamos das nossas avós?

O quarto e último ponto que acho interessante destacar é o quanto a gravidez de Claudia Raia depõe sobre a evolução da mulher nas últimas décadas. Claudia é dona do seu nariz, trabalha, é uma profissional reconhecida e premiada, casou e descasou quando quis. Uma mulher do seu tempo, que não precisa pedir licença a ninguém para levar a vida que deseja. Aos haters da internet, a atriz dedicou apenas um comentário: “que pena”.

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Boa sorte à atriz durante toda a gestação. Às demais, fica a proposta de pensar a vida, as escolhas e a felicidade dos outros com mais empatia e menos julgamento.

Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp; professora da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif de Psiquiatria e Dependência Química.

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