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As Ruas do Rio

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É alto, tem boa vista e faz jus ao nome

O relato de uma manhã de domingo no bairro mais frio da cidade, o Alto da Boa Vista Ciclistas no acesso às Paineiras, pela Rua Amado Nervo: rotina comum no Alto da Boa Vista aos domingos O Alto da Boa Vista é um daqueles bairros que ninguém sabe exatamente em que zona fica, se é […]

Por Pedro Paulo Bastos
Atualizado em 25 fev 2017, 19h32 - Publicado em 21 nov 2011, 22h20

O relato de uma manhã de domingo no bairro mais frio da cidade, o Alto da Boa Vista

paviseu3Ciclistas no acesso às Paineiras, pela Rua Amado Nervo: rotina comum no Alto da Boa Vista aos domingos
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O Alto da Boa Vista é um daqueles bairros que ninguém sabe exatamente em que zona fica, se é norte, sul ou oeste. Pudera, com suas características tão peculiares, é difícil agrupá-lo em um conjunto de bairros que mais ou menos se pareçam. Lá é inigualável, fresco e uma das principais conexões entre as zonas oeste e norte. E, claro, conta ainda com um atalho para o Horto, no Jardim Botânico, de onde surgem dezenas de ciclistas devidamente equipados à base de suas pernas superpotentes. É preciso força para pedalar naquelas ruas, cheias de altos e baixos, que te levam também para a incrível Estrada das Paineiras, caminho para o nosso tão querido Corcovado.

O Alto é assim. Desde a Tijuca, onde começa, até o Itanhangá, onde termina, é formado por uma estrada sinuosa e contínua, com algumas ramificações em seu percurso, onde escondem-se casas bastante confortáveis e alguns poucos edifícios baixinhos. As curvas são agraciadas por espaços verdes com lagos sobrepassados por minipontes. Alguns deles contam com fontes artificiais e, dependendo da proximidade, cascatas. Tudo com um ar levemente abandonado, é válido dizer, mas ainda muito vivo e esplendoroso, graças às árvores monumentais que embelezam o Alto da Boa Vista.

No que parece ser o “pico do Alto”, ou pelo menos a sua parte mais plana, a 350 metros do nível do mar, está a praça-símbolo, a mais importante, tal qual todo bairro tem ou deveria ter. A Praça Afonso Vizeu, como chama, foi construída em 1903 como Largo da Boa Vista na gestão municipal de Pereira Passos. O antigo coreto, no entanto, deu lugar ao chafariz de Grandjean de Montigny, renomado arquiteto francês que contribuiu em muito para o desenvolvimento urbano aqui no Rio, que ficava na antiga Praça Onze, no Centro. Foi removido de lá em virtude da abertura da Avenida Presidente Vargas. Hoje, é um chamariz para uma caminhada mais vagarosa pela Afonso Vizeu. Foi o que me aconteceu – gosto muito desses passeios.

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As nuvens deram uma trégua nesse domingo, brindando um maior espaço para que o sol se reapresentasse a nós, cariocas e agregados. Já tinha até esquecido como era sentir calor, ainda mais seco desse jeito. No Alto é diferente. Um simples deslocamento entre as partes mais urbanizadas da Tijuca até a Praça Afonso Vizeu pode diminuir substancialmente as sensações térmicas. É o ar condicionado natural em mode on, tudo o que nós cariocas desejamos. Como nada é perfeito, os mosquitos são personagens importantes no Alto da Boa Vista. O café da manhã dos clientes do Bar da Pracinha, o simpático restaurante dali, era compartilhado por edições de domingo do O Globo, óculos escuros e repelentes Off!.

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O charmoso chafariz do francês Grandjean de Montigny no centro da Praça Afonso Vizeu. Ao fundo, o restaurante Bar da Pracinha, referência gastronômica no Alto.


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Espaço de lazer pra lá de arborizado, a praça é boa tanto para crianças que queiram brincar como para adultos que queiram relaxar ou ler um livro.

 

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Os ciclistas seguem dois caminhos: ou vão para as Paineiras, através da Rua Amado Nervo, ou para Floresta da Tijuca, que tem entrada exatamente pela Praça Afonso Vizeu. Alguns param e sentam-se aos bancos do local para reabastecer as energias enquanto outros simplesmente passam direto, apenas figurantes em meio a esse bucolismo. Essa praça é um lugar para ser apreciado mais calmamente, ideal para crianças. É difícil achar uma área de lazer “lá para baixo” que seja tão limpa quanto a Afonso Vizeu. De verdade – não tem lixo, pichação e nem brinquedos depredados. Se há coliformes fecais nos minúsculos grãos de areia da praça, que dividem o espaço do chão com pétalas despedaçadas de flores, já não sei, mas ela é bem confiável aos olhos para deixar seu filhote solto sem muitas preocupações mundanas.

Um ponto interessante do Alto da Boa Vista é a arquitetura. Existem muitas casas naquele estilo suíço, que conferem um aspecto bastante sulista a um bairro de uma cidade do sudeste brasileiro, como o Rio. Representam a passagem de uma época em que esse estilo era muito valorizado e copiado pela elite, até no formato do telhado, todo moldado para reter a neve (que neve é essa, cara pálida?!) e saída para chaminé. Devem ter associado a construção dessas casas com o clima serrano do Alto. Hoje em dia, uma ou outra coisa já foi descaracterizada, embora ainda se veja muitos casarões antigos, de aparência um pouco colonial, e outras em estilo eclético. Uma delas, aliás, está muito bem mantida. A dúvida é saber se são residências ou casas de festa.

Comprei uma lata de refrigerante e sentei sobre um muro baixinho, que separa a rua e a passagem de um pequeno rio, que vinha de dentro da Floresta da Tijuca. O barulho de água corrente, sem nenhuma buzina por perto, é aconchegante. Deixei-me embalar por essa trilha sonora um pouco mais, admirando as flores, nas suas mais diversas cores, aparentes entre um ou outro arbusto. Foi aí que decidi esticar um pouco mais o passeio e caminhar lá para dentro, até a famosa Cascatinha.

Manhã agradável, desestressante e quase sem custo nenhum, se não for o traslado.
Visitem o Alto da Boa Vista. Esse lugar é especial, vai por mim.

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Uma das casas na Praça Afonso Vizeu: essa foi construída em 1865 pelo inglês Barlett-James, junto à entrada da Floresta da Tijuca.

 

Em tempo
# 1 – Afonso Vizeu, o homenageado pelo nome da praça, foi gaúcho e grande comerciante de tecidos no Rio, apesar da infância pobre. Além de filantropo e presidente da associação comercial, foi amigo de conhecidos na roda social e de políticos influentes. Morava exatamente na praça, no imóvel onde hoje funciona a casa de festas Vila Cabral. Curiosamente, a casa pertencia ao Barão do Lavradio nos primórdios e tem aquele estilo suíço que eu comentei.
# 2 – Além de largo e, posteriormente, de praça, ali também já foi chamado de Jardim do Alto da Boa Vista. No momento de sua inauguração, houve grande festa com a presença do presidente – na época, Rodrigues Alves -, além do prefeito, ministros, senadores, deputados. Foram transportados até a praça por um bonde saído do Largo de São Francisco, no Centro. Já no Alto da Boa Vista, tomaram café e biscoitos na Vista Chinesa, almoço ao ar livre no Hotel White, que ficava próximo à praça, e um passeio pela Floresta e Cascatinha.
# 3 – Retomando o início da postagem, o Alto da Boa Vista pertence oficialmente à zona norte do Rio de Janeiro.

Fonte
OLIVEIRA, Lili Rose Cruz. Tijuca, de rua em rua / Lili Rose Cruz Oliveira, Nelson Aguiar – Rio de Janeiro: Ed. Rio, 2004.

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