Conhecido popularmente como o “tempero” da cerveja, o lúpulo, que durante anos no passado sequer fez parte da bebida, atualmente é parte indissociável de qualquer receita. Além de suas propriedades bateriostáticas, antioxidante, sua colaboração à qualidade da espuma, o ingrediente mágico salta aos olhos dos cervejeiros pela nobre contribuição às características de aroma e sabor da cerveja, dada a vasta possibilidade de notas (florais, herbais, cítricas, resinosas, terrosas, frutadas,etc) que suas variedades podem conferir.
Não por acaso, de olho nesse nicho ávido por novidades, a indústria investe pesado no desenvolvimento de novos produtos para atender tal demanda. Daí que chegou ao mercado recentemente um produto que se tornou uma espécie de “menina dos olhos” do cenário nacional. Desenvolvido pela americana YCH Hops sob o nome comercial Cryo Hops™ e importado ao Brasil pela Realli Insumos, trata-se, grosso modo, de uma versão turbinada dos pellets (45 e 90), extratos e seus semelhantes. Explico melhor: a versão aqui em questão é resultado de um ultratecnológico processo de separação criogênica (leia-se extração a frio em temperatura que chega a 30ºC negativos), momento em que se obtém a divisão do cone de lúpulo entre o seu material vegetal (Pureleaf™) – ainda sem adesão no país, apesar de sua alta qualidade e bom custo-benefício para os lúpulos nobres de baixo alfa-ácido (ou seja, amargor) – e o potente pó de lupulina (LupuLN2™), esse último o item de desejo ao qual me refiro no segmento nacional.
Bom, corre nos bastidores que atualmente o produto vende quatro vezes mais que os congêneres. O motivo? Ali está a “nata” do que é preciso para se produzir uma cerveja lupulada, tanto em rendimento quanto em aroma e amargor. Para ser mais técnica, o pó concentra a maioria dos compostos resinosos e óleos aromáticos oriundos diretamente dos cones do lúpulo (no caso, da lupulina presente na flor da espécie fêmea da planta trepadeira), promovendo, portanto, um altíssimo rendimento de amargor (fino e nobre) e aroma sem aquela adstringência indesejada do material vegetal. Não sem razão, o item já figura no portfólio de lançamentos das cervejarias Dádiva, Bodebrown, Nacional, Heroica e Perro Libre (ainda em desenvolvimento). “Além de conferir aromas mais intensos no dry hopping da Lucid Dream, deixando a cerveja mais aromática e refrescante, comprovamos, ao utilizar o pó de lupulina, um rendimento superior a 8% na brassagem do que quando usamos o pellet tradicional”, explica o cervejeiro Victor Marinho, da paulista Dádiva.
Confira a seguir os rótulos já lançados com o pó de lupulina:
1) Lucid Dream
Com 4,9% de teor alcoólico e produzida em parceria entre as cervejarias Dádiva e Suricato Ale, a Lucid Dream é uma New England American Pale Ale com levedura selvagem brettanomyces claussenii que confere ao líquido notas frutadas, sobressaindo o abacaxi, e leva o pó de lupulina no processo de dry hopping.
2) Coralina
Lançada no último dia 5 de julho pela Cervejaria Nacional com a importadora Realli, a receita sazonal é um chope India Pale Ale de coloração avermelhada (chamada por eles de Red India Pale Ale) e leva doses cavalares do pó de lupulina. Com 7% de teor alcoólico, a novidade exibe notas cítricas, no aroma, que remetem a frutas tropicais, a exemplo de maracujá. Para conseguir tal efeito de aroma e amargor, as variedades americanas do pozinho escolhidas foram Simcoe, Cascade e Mosaic.
3) Cryo Hoperation
Apresentada ao público no fim de junho no Empório Alto dos Pinheiros (EAP), a New England IPA da Cervejaria Heroica (conhecida por suas criações inusitadas) elaborada em parceria com a portuguesa Postscriptum, tem 7% de teor alcoólico e 65 IBUs (unidades de amargor). Aqui, a versão do pó de lupulina adotada foi a Mosaic a fimd e extrair mais aromas e sabores.
4) Mago de Houblon
Lançada pela curitibana Bodebrown, a Juicy IPA com 6,1% de teor alcoólico foi elaborada com muito pó de lupulina, que lhe conferiram aroma de frutas tropicais.