Antigo hospital em Cascadura recebe projeto de lei para seu tombamento
O Hospital Nossa Senhora das Dores, uma das joias do subúrbio carioca, estava sendo sondado pela especulação imobiliária para ser derrubado
Pouca gente sabe, mas um dos maiores patrimônios do subúrbio carioca é um hospital. Você já ouviu falar do Hospital Nossa Senhora das Dores, da Santa Casa de Misericórdia, em Cascadura?
Localizado no início da Avenida Ernani Cardoso, o Hospital N. S. das Dores tem uma história de origens imperiais. Foi estabelecido em 1884, em uma das mais antigas fazendas da região: a Chácara do Ferraz. A propriedade havia sido comprada pelo Barão de Cotegipe, provedor da Irmandade da Misericórdia, no ano anterior.
Nessa época, a Tuberculose era a maior causadora de mortes do Rio de Janeiro, então capital do Império. O Hospital N. S. das Dores foi o primeiro estabelecimento hospitalar do Brasil destinado exclusivamente a essa doença que tanto afligia a nossa população.
Em 1910, com a supervisão do sanitarista Oswaldo Cruz, a Santa Casa deu o pontapé nas tão necessárias obras de ampliação do Hospital N. S. das Dores, que, desde 1884, funcionava no antigo casarão da Chácara do Ferraz, sempre com capacidade máxima.
Em 25 de junho de 1914, a obra foi inaugurada, com a presença do Marechal Hermes, da Primeira-Dama, Nair de Tefé, e do Cardeal Arcoverde. O novo hospital seria destinado apenas a mulheres tuberculosas e tinha suas enfermarias em uma série de pavilhões interligados por passarelas.
Vale também destacar a imponente Capela de N. S. das Dores, um belo exemplar da arquitetura neogótica, que foi construído entre 1911 e 1917, no lugar de uma pequena capela que estava na antiga chácara desde o século XIX.
Ao longo de mais de um século, o hospital passou por mais ampliações e reformas, mudando o foco de seu atendimento para a Psiquiatria. Nos anos recentes, o Hospital N. S. das Dores tem passado por dificuldades financeiras, tendo parte de suas instalações desativadas.
Este ano, a Prefeitura inaugurou, dentro do complexo hospitalar, as instalações da “RUA (Residência e Unidade de Acolhimento) Sonho Meu”, como parte do programa “Seguir em Frente” para a população em situação de rua que sofre de transtornos psíquicos decorrentes do uso de álcool e outras drogas.
Apesar do recente interesse e investimento estatal, o estado de conservação de algumas de suas salas e enfermarias — e também da capela — requer mais atenção e cuidado. E, de acordo com fontes próximas a este colunista, ultimamente, a especulação imobiliária tem demonstrado interesse em adquirir o terreno, a fim de demolir a estrutura do hospital e transformá-lo num condomínio. Acreditam que um lugar desses não é sequer tombado em nenhuma esfera de governo e corre o risco de tornar-se mais um exemplar desprotegido do Rio Antigo a desaparecer?
A vereadora Tainá de Paula (PT) apresentou projeto de lei em 24 de abril de 2024, propondo o tombamento desse importante complexo hospitalar devido a sua relevância não apenas para a Medicina, mas para os subúrbios cariocas. Segundo a vereadora, que também é secretária de meio ambiente e clima da Prefeitura do Rio, o projeto deve entrar em pauta no mês de junho.
Este colunista observa atentamente a situação do Hospital N. S. das Dores e deseja que bons ventos soprem a favor de sua rica história a serviço da saúde carioca. Que as consciências das sras. e dos srs. Vereadores esteja em seus melhores momentos no dia da votação. Ou então, que o Prefeito Eduardo Paes, se for possível, tome para si a responsabilidade de oficializar o tombamento por meio de decreto.
Pelo tombamento do Hospital Nossa Senhora das Dores, já!
*Daniel Sampaio é carioca do Grajaú. Advogado, memorialista e ativista do patrimônio. Fundador do perfil @RioAntigo no Instagram.