A acne e seus desafios
Novos estudos, técnicas avançadas e pacientes mais conscientes aumentam as chances de sucesso dos tratamentos contra esse problema de pele tão frequente

O problema é tão frequente que até ganhou um mês inteiro dedicado a ele: junho é reconhecido mundialmente como o Mês de Conscientização sobre a Acne. Sem dúvida, é uma das doenças de pele mais comuns – e também uma das mais desafiadoras – nos consultórios dermatológicos.
Os adolescentes são os mais afetados: cerca de 80% deles, entre 12 e 18 anos, vão ter espinha, em algum momento. Isso porque é na puberdade que começam a ser produzidos os hormônios sexuais (andrógenos e estrógenos). E, junto a uma predisposição genética, eles são os principais responsáveis pelo surgimento de espinhas e cravos, que aparecem devido a um processo inflamatório das glândulas sebáceas e dos folículos pilossebáceos.
A boa notícia é que os tratamentos estão cada vez mais avançados e é possível atenuar – e muito – as cicatrizes que as espinhas deixam na pele. Ou seja, ninguém está condenado a carregar aquelas marquinhas na pele a vida toda.
Embora o problema seja mais frequente na puberdade e em mulheres, isso não significa que os adultos e homens estejam livres dele. Nem mesmo os que não sofreram com essas erupções na pele na adolescência.
O fato é que a acne tem um forte componente genético. E alguns fatores podem desencadear quadros acneicos em qualquer época da vida. Entre eles, alimentos ricos em gorduras e açúcares, elevado nível de estresse, disbiose, suplementos que tenham algum tipo de hormônio associado e, inclusive, polivitamínicos. Certos medicamentos como corticoides e a exposição exagerada ao sol também pioram o quadro.
As erupções também podem ser provocadas pelo uso de cosméticos inadequados para aquele tipo de pele. Isso vale para o filtro solar, o hidratante, a base… Antes de cair na tentação de sair comprando as novidades que vivem pipocando nas prateleiras ou viralizam nas redes sociais, converse com o seu dermatologista para saber se aquele produto é bom para você. Os mais indicados são os “oil-free” e “não comedogênicos”. Outra dica básica importante é manter a pele sempre limpa e jamais espremer as espinhas.
E atenção: a expressão matte, que indica que aquela maquiagem tem a textura sequinha, não é garantia de que ela seja recomendada para peles oleosas e acneicas. O fato de ter o efeito seco não garante que seja feita sem óleo. Muitas vezes, uma base usada para disfarçar imperfeições, com uma cobertura uniforme e opaca, acaba desencadeando espinhas e provocando mais marcas no rosto.
O bom funcionamento do intestino ajuda na melhora do quadro da acne. Aumente a ingestão de alimentos como frutas, vegetais, leguminosas e oleaginosas.
Sempre que o assunto é o tratamento para a acne severa, vem a pergunta: o Roacutan é um medicamento perigoso? As polêmicas em torno da medicação, lançada em 1982, são muito antigas e volta e meia reaparecem, envoltas em muita desinformação. Falei sobre isso, recentemente, no programa Sem Censura, da TV Brasil, comandado por Cissa Guimarães.
Antes de mais nada, é preciso deixar bem claro que esse medicamento, à base de isotretinoína oral, só pode ser usado com prescrição médica. Também é importante esclarecer que ele não é a única alternativa para o tratamento da acne. Existem outras.
Mas, hoje, com os avanços dos estudos e da experiência clínica, já dominamos bastante esse remédio, que considero uma boa ferramenta para quando não é possível tratar só topicamente e/ou quando o paciente tem dificuldade de aderir à rotina. Ele abrevia o tempo de tratamento e reduz as chances de que as erupções na pele deixem cicatrizes.
O acompanhamento médico e a realização de determinados exames são imprescindíveis para que o Roacutan possa ser usado com segurança, na dosagem certa – muitas vezes, optamos por microdoses – e sem colocar a saúde do paciente em risco. Ele é absolutamente contraindicado quando há possibilidade de gravidez, pois pode causar danos graves ao feto, e não pode ser usado, por exemplo, por pessoas com problemas hepáticos.
O tratamento da acne é sempre desafiador. Mas também costumo dizer que é um dos mais gratificantes. Sabe por quê? Quando acontece a melhora do quadro, vemos uma mudança muito significativa na autoestima do paciente. É muito bom poder contribuir não só para a saúde da pele como para a saúde emocional dos pacientes. Especialmente dos adolescentes, que estão vivendo uma fase tão delicada, cheia de transformações e de inseguranças em relação à aparência, que podem levar à baixa autoestima e à depressão. Por tudo isso, quanto antes começar o tratamento, melhor.
Em geral, é a acne que leva o adolescente a procurar um dermatologista pela primeira vez. E a relação de confiança que se estabelece ali é muito especial e fundamental para o sucesso do tratamento.