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Esquinas do Esporte

Por Alexandre Carauta, jornalista e professor da PUC-Rio Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Pelos caminhos entre esporte, bem-estar e cidadania

Uma maratona à carioca de corridas e experiências culturais

Rio concentra provas incrementadas com atividades artísticas, musicais, gastronômicas, como o festival que movimenta a cidade neste feriadão

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17 jun 2025, 08h00
Corredores na Maratona do Rio
Fora os 60 mil corredores, a programação cultural da Maratona do Rio reúne 160 mil pessoas na Marina (Thiago Diz/Divulgação)
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O Rio caminha para um mar de programas esportivos dourados de atividades culturais. Ou vice-versa. Sob o compasso do verde, do azul, da descontração a tiracolo, iniciativas como a Maratona do Rio, a Asics Golden Run e a estreante Prio Jockey revestem a corrida de rua com experiências banhadas por patrimônios materiais e imateriais.

O fundador da Maratona do Rio, João Traven, abre a série de entrevistas em torno do entrelace crescente entre esporte, entretenimento e cultura. Ele ressalta o casamento com a arte e a música; o progressivo crescimento de público, especialmente o feminino; a movimentação econômica superior a R$ 350 milhões; e o prestígio internacional que embala o sonho de se juntar às Majors, principais maratonas do planeta (Boston, Londres, Berlim, Chicago, Nova York, Tóquio):

“A integração entre esporte e experiências artísticas e culturais reforça a Maratona do Rio como o maior festival de corrida de rua da América Latina e consolida a cidade como capital do turismo esportivo”, empolga-se João, diretor da Spiridon, coprodutora da Maratona, ao lado da Dream Factory, com o apoio institucional da Prefeitura.

Maioria nesta 23ª edição, mulheres impulsionam o recorde de 60 mil participantes que ganham a orla, o Aterro, o Centro, de quarta (18) a domingo (22), em provas de 5, 10, 21 e 42 quilômetros. Os megadestemidos encaram o Desafio Cidade Maravilhosa: 21 quilômetros no sábado e, ufa, 42 no dia seguinte. O cardápio cultural inclui uma programação gratuita no Village (esplanada da Marina da Glória), com DJs, shows e apresentações infantis.

Quais as novidades ou os destaques desta 23ª Maratona do Rio?

João Traven: Um dos marcos é o número histórico de 60 mil inscritos, um crescimento de 33% em relação ao ano passado. Pela primeira vez, as mulheres são maioria: 52%. Entre as novidades, programamos dias específicos para as provas, o que melhora a experiência dos corredores e amplia o potencial técnico de cada distância. Os 5k são disputados na quinta; os 10k, na sexta; os 21k, no sábado; e os 42k, no domingo. Assim, mais pessoas podem se desafiar em múltiplas distâncias, como no Desafio Cidade Maravilhosa (21k + 42k). Os percursos de 10k e 42k passaram por ajustes que os tornaram mais fluidos e seguros. No caso da maratona completa, novos trechos foram incluídos no Centro, passando por vias simbólicas, como as avenidas Alfredo Agache e General Justo. A premiação para a elite também se destaca: serão distribuídos até R$ 312 mil igualmente entre homens e mulheres, reafirmando o compromisso com a equidade. Esta edição reúne um dos pelotões mais fortes da história do evento, com campeões olímpicos, recordistas e atletas de alto rendimento de diversos países.

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A união entre esporte e cultura também se expande?

Cada vez mais. O programa Maratona com Arte ganha força, com ações culturais que conectam corrida, história e arte urbana. Uma das principais homenagens deste ano é o mural artístico referente ao bicampeão olímpico Adhemar Ferreira da Silva (foto abaixo). O coletivo Negro Muro retrata o ícone do atletismo e da luta pela igualdade racial nos muros da Escola Municipal João de Camargo, em São Cristóvão, bairro onde Adhemar viveu. A iniciativa envolve alunos, professores, familiares, e inclui um treino promovido pelo Arte Corre Crew, reforçando a integração entre comunidade, esporte e cultura. Outra iniciativa é a oficina de grafite no Morro Santo Amaro, na Glória, parceria com o projeto sociocultural Ademafia. A atividade vai reunir, dia 4 de julho, 74 crianças para revitalizar um espaço urbano por meio da arte, sob curadoria da artista Lidia Viber, incentivando a expressão criativa, o pertencimento e o uso positivo da cidade.

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Mural homenageia Adhemar Ferreira da Silva (@celulardopedro/Divulgação)

Quais os setores mais beneficiados pelo impacto econômico acima de R$ 350 milhões?

O impacto econômico da Maratona do Rio é expressivo e distribuído por diversos setores. O festival movimentou, ano passado, R$ 355 milhões na economia local. Gerou mais de 2.800 empregos diretos e indiretos. E atraiu 135 mil pessoas à Casa Maratona. Agora em 2025, com 60 mil corredores, estimamos 160 mil pessoas circulando pela Marina da Glória ao longo dos cinco dias. Os setores mais beneficiados são turismo, hotelaria, gastronomia, comércio local, transporte e economia criativa. Como mais de 85% dos inscritos vindos de fora do Rio, o festival injeta receita direta em hotéis, restaurantes, bares, táxis, motoristas de aplicativo e até em pequenos empreendimentos. Além disso, marcas parceiras investem em ativações e experiências lúdicas, movimentando a cadeia de produção de eventos e mídia. Em 2024, a Maratona do Rio alcançou mais de R$ 107 milhões em mídia espontânea. Ou seja, fora a movimentação direta, o evento consolida o Rio como capital do turismo esportivo.

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De que forma o formato de festival estimula a prática esportiva como propulsora de saúde?

A Maratona do Rio vai muito além da linha de chegada. Ao se apresentar como um festival de corrida, cultura e experiências, ela cria um ambiente acolhedor que inspira pessoas de todos os perfis a se movimentar, seja correndo os 5k pela primeira vez, por exemplo, seja encarando o Desafio Cidade Maravilhosa, ou simplesmente frequentando os espaços abertos ao público, como o Village, a Casa Maratona e o Bosque. Esse modelo reduz barreiras de entrada para o esporte, gera identificação e mostra que correr é para todos, independente de idade, ritmo ou histórico. A corrida se torna um estilo de vida, baseado em qualidade, bem-estar emocional, autoconhecimento e pertencimento social. Ao longo do ano, especialistas vinculados à Maratona do Rio (médicos, nutricionistas, psicólogos, treinadores) compartilham, nas redes sociais, orientações sobre saúde, alimentação, treinamento.

A Maratona do Rio se torna a 11ª mais valiosa do mundo. O que falta para se incorporar às chamadas Majors?

Essa é a pergunta de um milhão de dólares e, ao mesmo tempo, um reconhecimento histórico. Ser eleita a 11ª marca de maratona mais forte do mundo pela Brand Finance, superando nomes como Tóquio e Chicago, representa uma conquista sem precedentes para um evento sul-americano. Entrar para o circuito das World Marathon Majors é um processo longo. Depende de uma combinação de fatores técnicos, institucionais e estratégicos, como certificações internacionais, capacidade de atrair sistematicamente participantes da elite mundial, engajamento da comunidade global de corredores e estrutura logística compatível com eventos de altíssimo padrão. O mais importante é que a Maratona do Rio já se consolidou como uma referência que mistura esporte, cultura e cidade. O fato de ter se tornado uma love brand nacional e agora ganhar destaque internacional mostra que, se ainda não está oficialmente entre as Majors, já é uma gigante em valor, essência e influência.

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Alexandre Carauta é jornalista e professor da PUC-Rio, integrante do corpo docente da pós em Direito Desportivo da PUC-Rio. Doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação Física. Organizador do livro “Comunicação estratégica no esporte”.

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