A QUÍMICA DO AÇÚCAR E DO CÉREBRO:
O açúcar é um dos alimentos estimulantes denominados hiperpalatáveis - aqueles que estimulam os centros de prazer no cérebro. Por isso, ao comer açúcar, você estimula a liberação de dopamina, um neurotransmissor que controla a recompensa do cérebro e os centros de prazer. Daí que logo se experimenta uma sensação prazerosa e, por vezes, viciante.
A ciência mostra que o açúcar atua no sistema de recompensa de seu cérebro da mesma forma que a cocaína. Como acontece com qualquer substância que produz a dopamina, seu cérebro fica dessensibilizado com o consumo excessivo crônico, e você desenvolve uma tolerância, por isso você acaba tendo que consumir mais açúcar. Na prática, isso significa que para criar o sentimento prazeroso, você tem que usar mais e mais o ingrediente!
Logicamente, isso leva a um ciclo vicioso de aumento do consumo, gerando cada vez mais dessensibilização, e o resultado é um apetite insaciável pelo carboidrato (aqui consumido na forma de açúcar).
Tornando as coisas mais difíceis, a ciência mostrou que, à medida que os receptores da dopamina diminuem, há uma marcada diminuição na atividade do córtex pré-frontal – a parte do seu cérebro responsável por funções como planejar, organizar e tomar decisões racionais.
Quanto de açúcar é seguro para nossa saúde ? Quanto açúcar precisamos?
Para fins de saúde, o consumo ideal de açúcar é ZERO. O açúcar adicionado à nossa alimentação não tem nenhuma função biológica específica e, portanto, não é por definição um “nutriente”.
É o componente da frutose que cumpre quatro critérios que justificam sua regulação: toxicidade, inevitabilidade, potencial de abuso e seu impacto negativo na sociedade.
Cabe ressaltar, que a sacarose (do açúcar refinado que compramos no mercado ) é composta de 50% de glicose e 50% de frutose. Isso significa que o consumo de pequenas quantidades de açúcares, que inclui todos os presentes em sucos, xaropes e mel, já têm um impacto nocivo sobre as doença crônicas como câncer, hipertensão e diabetes. Ou seja, nem mesmo um copo de suco concentrado de fruta é capaz de te livrar desses riscos.
A indústria alimentícia muitas vezes argumenta que o público deve ter uma “responsabilidade pessoal” ao escolher os alimentos que come, eximindo-se de sua própria culpabilidade na epidemia de obesidade para o consumidor.
A verdade é que a maioria do público se confunde com as informações confusas nos rótulos e não tem conhecimento técnico para discernir o que é saudável daquilo que não é. Na verdade, o consumidor leigo acaba não tendo escolha, porque o açúcar é adicionado a aproximadamente 80% dos alimentos processados.
As semelhanças entre a indústria do tabaco e açúcar :
Foram 50 anos antes dos primeiros elos entre o ato de fumar e o câncer de pulmão publicados no British Medical Journal e antes de uma regulamentação eficaz contra o tabaco. A chave para defender a indústria do tabaco era negar, plantar dúvidas, confundir o público, comprar a lealdade dos cientistas e dar munição aos aliados políticos.
As semelhanças entre a indústria do cigarro e a indústria do açúcar são assustadoras!
Como uma publicação recente na JAMA Internal Medicine mostrou, a indústria do açúcar pagou três influentes cientistas de Harvard para minimizar o papel do açúcar na doença cardíaca e transferir a culpa para a gordura.
No ano passado, o New York Times revelou que a Coca-Cola Company desembolsou milhões de dólares para financiar pesquisas que minimizaram o papel das bebidas açucaradas no desenvolvimento da obesidade, culpando a falta de exercício como fator principal para tal epidemia.
Os recentes apelos da OMS para taxar bebidas açucaradas são notícias muito boas para os ativistas da saúde como a gente !
A mensagem para a saúde pública, entretanto, precisa ser mais clara.
O Brasil já desponta como um dos países mais obesos do mundo. Por isso devemos encarar o açúcar como inimigo um de todos nós. Não há nada de errado com o consumo ocasional do nosso docinho, massa, pão ou brigadeiro, mas o açúcar não deve ser encarado como parte de uma dieta saudável e equilibrada no nosso dia a dia.
A exemplo do tabagismo, quaisquer medidas regulatórias adicionais para reduzir o consumo de açúcar, como a proibição da propagação de bebidas açucaradas e a dissociação de bebidas açucaradas dos eventos esportivos, terão um impacto adicional na melhoria da saúde da população em um curto espaço de tempo.
Os dados científicos são mais que suficientes. As evidências negativas contra o açúcar são irrefutáveis. O açúcar é o novo cigarro, então vamos começar a tratá-lo dessa maneira.