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Fabiano Serfaty

Por Fabiano M. Serfaty, clínico-geral e endocrinologista, MD, MSc e PhD. Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Saúde, Prevenção, Tratamento, Qualidade de vida, Bem-estar, Tecnologia, Inovação médica e inteligência artificial com base em evidências científicas.

Empatia na medicina: o poder do cuidado além da prescrição

A verdadeira essência da medicina envolve tanto a precisão científica quanto a compaixão humana, proporcionando um cuidado integral para o paciente

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Atualizado em 30 jan 2025, 10h29 - Publicado em 29 jan 2025, 16h18
Executivo de terno e gravata segura uma arte que remete à tecnologia da inteligência artificial.
Inteligência Artificial: responsabilidade do uso da I.A. na Medicina está em discussão em todo mundo. (Shutterstock/Reprodução)
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A medicina avança a passos largos com novas tecnologias, tratamentos inovadores e abordagens personalizadas para diversas doenças. No entanto, um dos fatores mais determinantes para o sucesso terapêutico não pode ser fabricado em laboratórios ou programado por algoritmos: a empatia. Estudos científicos demonstram que médicos que adotam uma abordagem empática não apenas proporcionam maior conforto emocional aos seus pacientes, mas também impactam diretamente a adesão ao tratamento, a resposta fisiológica aos cuidados médicos e até a evolução clínica das doenças. Isso ocorre porque o cérebro humano responde biologicamente ao acolhimento e à confiança, ativando mecanismos neuroquímicos que influenciam o sistema imunológico, a percepção do tratamento e os níveis de estresse. A empatia na medicina não é um luxo ou um traço de personalidade isolado. É uma ferramenta poderosa e comprovada cientificamente, capaz de modificar desfechos clínicos e a experiência do paciente.

Evidências científicas: como a empatia influencia a saúde do paciente?

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A relação médico-paciente sempre foi um fator essencial no sucesso de qualquer tratamento. Mas apenas recentemente a ciência começou a quantificar os impactos biológicos da empatia no organismo humano. O estresse crônico está diretamente ligado à disfunção imunológica, inflamação sistêmica e pior resposta a tratamentos médicos. Pesquisas demonstram que pacientes que se sentem compreendidos e acolhidos por seus médicos apresentam níveis reduzidos de cortisol, o hormônio do estresse, que quando elevado pode inibir a função imunológica e retardar a recuperação. Um estudo publicado no Journal of General Internal Medicine demonstrou que pacientes que percebem seu médico como empático apresentam menores taxas de internação hospitalar e melhor resposta a tratamentos para doenças crônicas como diabetes e hipertensão.

A eficácia de qualquer tratamento depende da adesão do paciente às recomendações médicas. No entanto, a baixa adesão ainda é um dos maiores desafios na medicina, especialmente em doenças crônicas. Uma revisão sistemática publicada no Patient Education and Counseling mostrou que pacientes tratados por médicos que demonstram empatia e comunicação eficaz têm uma adesão significativamente maior a tratamentos prescritos em comparação com aqueles que percebem seus médicos como distantes ou desinteressados. O motivo é simples: um paciente que confia no profissional de saúde e se sente ouvido tem mais motivação para seguir o tratamento corretamente. Essa conexão influencia desde a correta administração de medicamentos até a adoção de mudanças no estilo de vida. A forma como um paciente percebe sua dor e responde ao tratamento está diretamente relacionada ao seu estado mental e emocional. Pesquisadores da Universidade de Oxford demonstraram que interações empáticas entre médico e paciente podem levar à liberação de endorfinas e dopamina, neurotransmissores que atuam como analgésicos naturais. Além disso, a empatia ativa o sistema de recompensa do cérebro, reduzindo a sensação subjetiva de dor e promovendo relaxamento muscular. Outro estudo, publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences, revelou que pacientes que percebem suporte emocional do seu médico apresentam redução nos marcadores inflamatórios, um fator crucial na recuperação de lesões, infecções e doenças crônicas.

Um dos pilares do diagnóstico correto é a comunicação eficaz entre médico e paciente. Quando o profissional de saúde estabelece uma relação empática, o paciente se sente mais confortável para relatar sintomas e preocupações, o que aumenta a precisão do diagnóstico e reduz o risco de erros clínicos. De acordo com um estudo publicado no JAMA Internal Medicine, médicos que utilizam técnicas de escuta ativa e demonstram empatia durante as consultas apresentam taxas significativamente menores de diagnósticos errados. Isso ocorre porque a empatia facilita uma troca de informações mais completa e transparente.

A empatia também protege os médicos: redução do burnout e aumento da satisfação profissional

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A prática médica moderna é desafiadora. A carga horária intensa, a pressão por eficiência e o desgaste emocional são fatores que contribuem para o burnout, um problema crescente entre profissionais de saúde. No entanto, estudos mostram que médicos que adotam uma abordagem mais empática relatam menor exaustão emocional e maior satisfação profissional. Isso ocorre porque a empatia transforma a medicina de uma prática mecânica para um ato genuíno de cuidado, resgatando o propósito e a realização no exercício da profissão. Uma pesquisa conduzida pela Mayo Clinic revelou que médicos com alto nível de empatia apresentam menores taxas de esgotamento e maior resiliência emocional, pois sentem que seu trabalho tem um impacto positivo real na vida dos pacientes.

A empatia deve fazer parte do tratamento

A empatia na medicina não é um mero detalhe ou um aspecto secundário do atendimento. Ela é um fator essencial para o sucesso do tratamento e para o bem-estar do paciente e do médico. A ciência confirma que a empatia reduz o estresse e fortalece o sistema imunológico, melhora a adesão ao tratamento, diminui a percepção da dor e reduz inflamações, aumenta a precisão diagnóstica e reduz erros médicos, além de proteger os médicos contra o burnout. Diante dessas evidências, fica claro que a empatia não pode ser vista como uma característica opcional, mas sim como uma competência clínica fundamental.

A medicina contemporânea e futura não será apenas baseada em inteligência artificial e novas tecnologias. Será aquela que souber combinar ciência e humanidade, precisão e compaixão. Porque, no fim das contas, tratar é um ato técnico, mas cuidar é um ato humano, e a empatia é a ponte que conecta esses dois mundos. Tratar é uma ciência. Cuidar é uma arte. E é nessa fusão que a medicina encontra sua essência mais nobre: a capacidade de curar não apenas o corpo, mas também a alma.

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