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Fábio Barbirato

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Psiquiatra infantil

Agressão a autista em escola: quando a desinformação encontra a violência

Sucessão de erros no caso do jovem agredido em escola mostra o despreparo das instituições de ensino para lidarem com autistas

Por Fabio Barbirato
16 Maio 2023, 14h39
Garoto de costas, sentado diante da parede.
Mais que inserir a criança ou adolescente no meio social, é imprescindível preparar as famílias para saberem o quanto o menor consegue ser inserido. (Shutterstock/Reprodução)
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A sociedade brasileira assistiu a mais um lamentável episódio de violência contra um jovem autista. Na semana passada, um rapaz de 16 anos foi vítima de uma agressão covarde de seis colegas, em sala de aula, na Escola Municipal Marechal Pedro Cavalcanti, em Paciência, na Zona Oeste do Rio.

Muitas coisas chocam e entristecem nas imagens gravadas por um aluno. De cara, é possível constatar que ninguém tenta impedir as agressões: não havia nenhum professor em sala de aula e a turma estava cheia. É possível ouvir palmas e gritos de excitação dos demais alunos. As imagens atestam que o menino levou socos, tapas e até uma “gravata”. O primeiro ponto que gostaria de destacar é justamente essa passividade dos demais alunos diante da agressão a um dos seus pares. Como jovens assistem a um ato tão covarde e não tomam uma atitude?

A família do jovem registrou um boletim de ocorrência na delegacia. O caso foi registrado como injúria. A mãe da vítima relatou que só soube das agressões ao filho quando a responsável de um outro aluno a alertou que as imagens da agressão estavam viralizando nas redes sociais.

Infelizmente, essa não foi a primeira agressão contra o rapaz. Em outra ocasião, segundo relatos, os colegas de classe chegaram a cuspir na merenda do menino. A mãe do estudante conta que ele tem chorado muito, está traumatizado e que não quer mais ir à escola.

A família do jovem registrou um boletim de ocorrência na delegacia. O caso foi registrado como injúria. A mãe da vítima relatou que só soube das agressões ao filho quando a responsável de um outro aluno a alertou que as imagens da agressão estavam viralizando nas redes sociais. A mãe afirma que já foi à escola seguidas vezes, mas que nenhuma providência foi tomada. As agressões contra a família na escola são reincidentes: a filha mais nova também já foi agredida com ofensas homofóbicas.

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A mãe alega que em 2021 apresentou à escola um documento da neurologista atestando que o filho precisava de mediação em sala de aula. Porém, até hoje segue sem a figura do mediador. Para além de tratar-se de um caso óbvio de negligência do poder público, faz pensar o quanto a inserção de crianças e jovens autistas em um ambiente de ensino precisa vir acompanhada de uma série de cuidados e protocolos para que a medida seja de fato útil para o autista. E mais que inserir a criança ou adolescente no meio social, é imprescindível preparar as famílias para saberem o quanto o menor consegue ser inserido, para não se exigir algo que ele simplesmente não consiga dar conta.

De acordo com a família, foi grande a dificuldade de conseguir fechar um diagnóstico pelo sistema público de saúde. Quanto a isto, é importante ressaltar o despreparo, muitas vezes, dos profissionais destacados para tal função. Fechar um diagnóstico preciso exige observação e experiência de profissionais bem treinados, variantes que nem sempre o sistema público consegue oferecer a contento.

Diversas crianças e adolescentes que nos chegaram com diagnóstico de autismo foram avaliadas nas últimas semanas, tanto no Ambulatório da Santa Casa quanto no Ambulatório de Pesquisa da PUC-Rio. Resultado: 60% eram apenas portadoras de Deficiência Intelectual (não estavam dentro do espectro autista), 20% tinham TDAH e apenas o restante, ou seja, 20%, poderia ser de fato diagnosticada como autista.

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É fundamental a inserção de autistas na sociedade, mas isso vem acompanhado de responsabilidades e comprometimentos. As escolas e universidades precisam estar melhor preparadas para receberem esses alunos.

Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na pós-graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).

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