Ansiedade: transtorno é maior em crianças e adolescentes do que adultos
Desde 2022 o número de casos entre jovens e crianças ultrapassou os casos entre adultos no Brasil
O jornal Folha de São Paulo se debruçou sobre os dados da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) dos SUS referentes aos anos de 2013 a 2023. O jornal chegou à conclusão que, pela primeira vez, os registros de ansiedade entre crianças e jovens superam os de adultos.
O número de pacientes entre 10 e 14 anos com transtorno de ansiedade é de 125,8 a cada 100 mil. Já entre os adolescentes, esse número alcança a marca de 157 a cada 100 mil. Entre os adultos com mais de 20 anos, o número é de 112,5 a cada 100 mil, no último ano apurado (2023). O momento em que o número de casos de jovens ultrapassou o de adultos foi em 2022.
A ansiedade é hoje o problema de saúde mental mais frequente na atenção primária e na psiquiatria infantil. No entanto, diferente de outros transtornos, a ansiedade generalizada a que estamos assistindo não se deve ao uso de substâncias, como drogas ou medicamentos, ou por condições físicas prévias.
À medida que a criança vai se tornando mais capaz de compreender o passado e antecipar o futuro, ela passa a temer dificuldades e ameaças mais distantes do presente.
Assim, algumas das possíveis causas para este quadro são a pandemia, excesso do uso de telas e redes, autodiagnósticos equivocados, todo tipo de crises, como econômica e climática, que colocam os jovens diante de uma grande indefinição sobre o futuro, além de fatos estressantes da vida, como divórcio na família, mudança de endereço ou de escola, perda de um animal de estimação, término de uma relação amorosa, fraco desempenho na escola ou morte de parente.
Apesar de estudos afirmarem que pais são incapazes de identificar os sintomas de ansiedade em mais de 50% dos casos, eles devem ficar atentos a alguns comportamentos dos filhos que podem servir de alerta que é hora de buscar ajuda profissional: preocupação desproporcional e contínua, cansaço e desânimo excessivos, sono irregular, irritabilidade, excesso de falta à escola sem justificativa plausível, crises de choro e instabilidade alimentar (comer demais ou de menos) são alguns sinais fáceis de serem reconhecidos.
Apesar de o transtorno poder persistir na idade adulta (25% das pessoas atendem a algum critério diagnóstico de pelo menos um dos Transtornos de Ansiedade ao longo da vida, em sua maioria mulheres), tratamentos estão disponíveis e são eficazes: como terapia cognitivo-comportamental e medicação. A ansiedade, a preocupação ou os sintomas físicos causam sofrimento clinicamente significativo. A identificação precoce e o tratamento podem reduzir a gravidade e o comprometimento do funcionamento social e acadêmico.
Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na pós-graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).