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Fábio Barbirato

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Psiquiatra infantil

Quando os autistas crescem

Diagnosticados nas últimas décadas, jovens se tornaram adultos funcionais

Por Fabio Barbirato
Atualizado em 28 out 2021, 15h40 - Publicado em 28 out 2021, 09h43
Os atores Tom Cruise e Dustin Hoffman em cena do filme "Rain Man".
Cena do filme "Rain Man", em que Dustin Hoffman interpreta um autista adulto.  (Divulgação/Reprodução)
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É cada vez mais comum que se conheça crianças ou jovens no espectro autista. Nas últimas décadas, as pesquisas sobre o transtorno cresceram enormemente e, portanto, é maior a circulação de informação sobre o autismo, que já atinge até 2% das crianças e jovens do mundo. Soma-se a isso o fato de que os diagnósticos são feitos cada vez com mais precisão e precocidade, antes mesmo dos três anos de idade, embora demandem persistência e cautela. A consequência é que a prevalência que há 25 anos era de um caso para cada 10 mil crianças, agora é de um caso a cada 54 crianças.

Mas uma vertente sobre a qual pouco se fala é que temos gerações de autistas diagnosticados no espectro autismo, que antes receberiam, equivocadamente, o diagnóstico de outro transtorno. Embora não haja muitas pesquisas sobre o autismo entre adultos, estima-se que 2,21% dos americanos com mais de 18 anos tenham autismo, ou seja, mais de cinco milhões de pessoas, número bastante expressivo.

No Ambulatório de Psiquiatria da Infância e da Adolescência da Santa Casa do Rio de Janeiro, atendemos especificamente crianças no Programa de Avaliação e Acompanhamento ao Pré-Escolar nos últimos 20 anos. O que vemos agora é que essas crianças cresceram. Até o final do ano, iremos convidar algumas dessas crianças e jovens atendidos nos últimos anos a retornarem ao Ambulatório para investigarmos como elas estão na fase adulta e como o autismo impactou em suas vidas. Será um privilégio retomar esse contato e observar sua evolução com o passar dos anos.

Já o diagnóstico de autismo pela primeira vez na idade adulta é mais comum do que se pensa, apesar da carência de atendimentos médicos com essa finalidade no Brasil. Por se tratar de um transtorno do desenvolvimento, os sintomas já são aparentes na primeira infância. Com frequência, essas pessoas dizem que sempre souberam que algo “estava errado”, sempre pareceu “estranho” ou nunca “se encaixou”, mas eram confundidas com timidez excessiva, em muitos dos casos.

A exposição à enorme quantidade de material e aos testes e questionários de autodiagnóstico disponíveis gratuitamente na internet, pode levar à decisão de buscar esclarecimentos sobre a possibilidade de estar no espectro e, posteriormente, à sua chegada como adulto ao consultório. O diagnóstico, mesmo que tardio, pode ser útil para que haja melhor compreensão das dificuldades ao longo da vida, apoio de familiares e amigos, indicações de tratamentos e medicamentos, se for o caso.

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Os traços comportamentais dos autistas infanto-juvenis, de maneira geral, seguem os acompanhando quando adultos: metódicos, atrelados à rotina, dificuldade de comunicação e sociabilidade, como baixa interação social e relacionamentos amorosos, muitas vezes caracterizados por conflitos. A consequência é que há altas taxas de desemprego ou subemprego entre esse público, baixa participação na educação além do ensino médio, a maioria continua morando com familiares ou parentes e quase a metade passa pouco ou nenhum tempo com amigos.

No entanto, são crescentes os relatos de pessoas que conseguiram superar essas adversidades cognitivas, motoras e emocionais. Há muitos casos de autistas adultos que seguiram a vida acadêmica e tornaram professores, com titulação de Mestrado e até Doutorado. A seu favor nos estudos, os autistas têm a alta capacidade de concentração e foco.

Em uma sociedade que valoriza cada vez mais a diversidade, seja de gênero, raça ou idade, a inclusão de adultos com autismo, ou mesmo outros transtornos mentais, é mais que bem-vinda: é fundamental para a existência de um país mais múltiplo e justo.

Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na pós-graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).

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