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Fábio Barbirato

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Psiquiatra infantil

Bebê Reborn: o que significa cuidar de bonecos como se fossem reais?

Bonecos não demandam atenção ou responsabilidade como bebês reais

Por Fabio Barbirato
2 jun 2025, 14h38
Imagem de um boneco bebê reborn.
Bebê reborn: cuidar de um boneco como se fosse um bebê vivo é um indício de imaturidade. (Divulgação/Reprodução)
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O prefeito do Rio, Eduardo Paes, vetou hoje, dia 02 de junho, o projeto de criação do Dia da Cegonha Reborn que seria celebrado todo 04 de setembro. O projeto chegou a ser aprovado pela Câmara Municipal, mas não será sancionado por Paes. Nas últimas semanas não se falou em outra coisa nas redes sociais e nas mídias tradicionais: a “febre” dos bebês reborn, bonecos hiper-realistas, que reproduzem à perfeição bebês recém-nascidos. Ou melhor, quase à perfeição. Falta a eles algo essencial: vida. São brinquedos que não devem e não podem ser confundidos com bebês reais. Parece óbvio. Mas tem sido necessário explicar o óbvio nos últimos tempos. Chegou a circular informações de pessoas que procuraram o atendimento pediátrico para seus “filhos”, como se fossem de verdade.

Brincar com um brinquedo – é essa a sua utilidade, afinal de contas – não significa dar amor como se dá a uma pessoa real. Cuidar de um boneco como se fosse um bebê vivo é um indício de imaturidade, próximo à cultura da morte.

O que as pessoas precisam entender é que não existe parentalidade sem sacrifício e sem responsabilidade. Para além de tudo de bom que um filho traz, ele também exige dizer não, contrariar, educar, se impor. Um boneco, obviamente, jamais irá se contrapor às orientações paternas. Algumas pessoas, portanto, estão preferindo um bebê de borracha a enfrentar as incertezas e inseguranças da gravidez, do parto ou até mesmo da criação (como a adoção também exige), sem querer sofrer com o crescimento do filho, com o afastamento dele, com possíveis doenças. Uma postura sem responsabilidade emocional e empatia.

Muita gente se arvorou a rotular esse comportamento como patológico. A verdade é que não é possível cravar nenhum diagnóstico preciso. Isso dependeria de uma avaliação caso a caso. Mas o modismo de adultos cuidando de bebês reborn como se fossem crianças de verdade pode sim indicar alguma implicação mental ou a negação da realidade por parte de pessoas que tem dificuldade ou não sabem lidar com a solidão, perdas ou faltas. Ou ainda pior, uma imaturidade, absoluta falta de preparo para a vida.

De certa forma, é como as pessoas que se preenchem com a vida virtual, com bate-papos com pessoas que não conhece. A busca é sempre por um preenchimento de vazio existencial, uma ferramenta de fuga.

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Defensores do bebê reborn se defendem se comparando com os conhecidos “pais de pet”, pessoas que tem relação de “pai” com seus animais de estimação. A comparação não faz sentido, mais uma vez, por uma simples razão: animais estão vivos. Bichos de estimação respondem e dão amor, consolam, alegram e fazem companhia. Tudo que um boneco de silicone não é capaz de fazer.

O objetivo desses alertas não é julgar ou se apressar em diagnósticos. Porém, temos testemunhado muitos pais exaustos, reféns dos ditames dos filhos, uma total inversão de valores.

Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na pós-graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).

 

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