Covid-19 e as crianças: o quanto elas estão em risco?
Pesquisa americana conclui que o perigo da doença é baixíssimo para crianças
Desde que o programa de vacinação acelerou o passo e pessoas cada vez mais jovens foram sendo imunizados, criou-se um impasse: vacinar ou não vacinar crianças com menos de 12 anos? Enquanto alguns profissionais defendem que este público também seja vacinado, outros defendem mais cautela em aplicar a vacina nas crianças. Afinal, o quanto a Covid-19 representa um risco para as crianças?
Divulgado no começo de setembro pela Academia Americana de Pediatria e pela Children’s Hospital Association, um estudo aponta conclusões interessantes. Os estados americanos totalizaram pouco mais de 5 milhões de com Covid-19, representando 15,1% dos mais de 33 milhões de contaminados nos Estados Unidos. Isso significa 6.709 a cada 100 mil da população. A hospitalização de crianças nunca passou de 2% dos casos e a mortalidade nunca passou por 0,06% do total.
Os dados da pesquisa iluminam pontos fundamentais: crianças não são o público que gera mais preocupação quanto a Covid-19 e, mesmo quando pegam a doença, tem baixa hospitalização e ainda menor mortalidade.
O desenvolvimento das vacinas contra a Covid-19 aconteceu em tempo recorde, tendo em vista que o mundo estava em risco. Em condições normais, jamais esses imunizantes já estariam chegando ao braço da população. Uma vacina demanda tempo – anos! – de pesquisa. A Covid-19 não permitiu tal espera. Agora, com idosos e adultos vacinados, cientistas correm os ensaios clínicos para estudar se elas são seguras para crianças e qual seria a dosagem adequada de acordo com a maturidade do sistema imunológico dos menores de 12 anos (a vacina da Pfizer-BioNTech já foi autorizada para crianças). Há ocorrências de maior efeito colateral entre adolescentes, além de complicações, como miocardite.
No Comitê Britânico de Saúde não há consenso nem mesmo a respeito dos adolescentes: o órgão não recomenda dar vacinas anti-Covid a pessoas com menos de 15 anos. Enquanto isso, a agência reguladora americana (FDA) exige dados de acompanhamento de longo prazo em crianças antes de liberar sua utilização neste público. Crianças com menos de 5 anos, por exemplo, só devem ser vacinadas em 2022, com mais informações em mãos.
O que já podemos assegurar, com certeza, são os danos que o confinamento causou à saúde mental de crianças e adolescentes. Com a imunização completa dos professores, é de se esperar a normalização do funcionamento das escolas. O risco às crianças, que já era baixo, torna-se insignificante. Enquanto cientistas e autoridades estudam e deliberam sobre a vacinação dos menores de idade, é hora de tentar recuperar os males que os últimos meses longe da escola podem ter deixado nas crianças e adolescentes.
Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na pós-graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).