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Fábio Barbirato

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Psiquiatra infantil

Homeschooling: a importância da escola na saúde mental dos jovens

A frequência escolar significa a essência da socialização das crianças e adolescentes

Por Fabio Barbirato
14 jun 2022, 09h57
Crianças de costas, de mãos levantadas em sala de aula.
Sala de aula: inadimplência cresce no ensino particular  (Shutterstock/Reprodução)
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Foi aprovado mês passado na Câmara dos Deputados e agora está em apreciação no Senado Federal um projeto polêmico: o homeschooling, ou “ensino em casa”, ou seja, a possibilidade de crianças receberem educação domiciliar. A ideia é que os pais fiquem responsáveis pelo ensino do conteúdo programático aos filhos. De acordo com o projeto, o estudante deve estar regularmente matriculado em instituição de ensino, que deverá acompanhar a evolução do aprendizado.

Segundo o projeto de lei que está no Senado, ao menos um dos pais ou responsáveis deve ter escolaridade de nível superior ou em educação profissional tecnológica. A comprovação dessa formação deve ser apresentada perante a escola no momento da matrícula. De acordo com alguns deputados favoráveis ao projeto, a mudança garante a eles o direito de educar os filhos em casa, com supervisão do poder público.

Este ponto, por si só, envolve muitas questões. Estariam estes pais preparados para transmitir conhecimento acadêmico aos filhos? Para ensinar uma disciplina a uma criança, não basta dominá-la, é preciso saber transmiti-la. Durante o auge da pandemia, com o ensino on-line, com os estudantes em casa, tivemos uma pequena demonstração do que este sistema significa. Há relatos de que a experiência foi traumática para pais e filhos. É este método que o poder público deseja instituir como alternativo ao oficial, que funciona há décadas?

Outra questão que foge aos olhos dos congressistas é a função da escola. Ela é mais do que um ambiente de aprendizado de conteúdo formal. Um centro de ensino é um microcosmo do mundo, um exemplo de pluralismo de ideias. É no ambiente escolar que as crianças desenvolvem noções de sociabilidade, de convívio com a diferença, de amadurecimento emocional.

Um terceiro ponto importante a ser considerado é o quanto a experiência radical do ensino em casa impacta no futuro da criança. Um jovem que passou a vida aprendendo sob a tutela dos pais terá condições de se inserir no mercado de trabalho em pé de igualdade com aqueles que estudaram em escolas formais? Quanto perde o aluno que não frequentou a escola na hora de disputar uma vaga de emprego? Todas essas variantes podem impactar significativamente na saúde mental do jovem.

Instituições de ensino são grandes parceiras na formação de crianças também no que tange a vida fora da escola. O projeto ignora, por exemplo, o papel fundamental que as escolas exercem em funções básicas, como a alimentação, já que muitas famílias revelam que as únicas refeições que as crianças fazem durante o dia são na escola. Além disso, são valiosas aliadas na identificação de primeiros sinais de transtornos mentais, como autismo, depressão e deficit de atenção.

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O homeschooling faz sentido em alguns casos muito específicos, como crianças que moram em rincões longes demais de escolas ou as que tem severas questões de mobilidade em razão de deficiências físicas. À exceção destes casos, o ensino em casa pode significar um enorme atraso na vida da criança ou do jovem. As estatísticas confirmam que o ensino público no Brasil é um dos piores do mundo. Preocupar-se com a melhora da qualidade do ensino deveria ser a maior – se não a única! – preocupação dos parlamentares.

Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na Pós Graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).

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