“MMA – Meu Melhor Amigo”: Mion ajuda a diminuir preconceito contra autismo
Filme de Marcos Mion mostra boxeador descobrindo ser pai de menino autista

A arte tem a incrível capacidade de nos reapresentar a vida. Apenas ela, a arte, consegue essa façanha. Toda vez que um filme, uma peça, livro, série ou novela aborda um tema latente, é como se todos nós fossemos contextualizados novamente sobre quem somos como sociedade. Isso aconteceu há pouco com a fantástica série “Adolescência”, que mobilizou espectadores do mundo todo e se tornou o quinto programa em idioma inglês mais visto da Netflix (e parece que uma segunda temporada vem por aí…)
Quanto aos transtornos mentais, há décadas a ficção é uma enorme aliada na tentativa de mitigar preconceitos e ampliar entendimentos. Por que quando uma pessoa está com câncer ninguém a olha como se ela fosse uma ameaça? Depressão, bipolaridade, autismo, apenas para citar alguns transtornos, não são muito diferentes de qualquer patologia, apenas estão em órgãos diferentes do corpo humano. Obras como “Rain Man”, “Uma mente brilhante”, “Nise”, “Divertidamente” e tantos outros, cada um a sua maneira, colaboram concretamente para desmistificar o que cerca os transtornos mentais.
Um novo filme é bastante eficiente neste sentido. “MMA – Meu Melhor Amigo”, dirigido por José Alvarenga Jr e que acaba de estrear no Globoplay, é mais uma oportunidade de esclarecimento ao grande público quais são as características de quem recebe o diagnóstico do autismo. No filme, o apresentador Marcos Mion interpreta um lutador de boxe que vive a vida de forma bastante individualista até ser informado que teve um filho com uma mulher que já faleceu.
Sem nunca ter pensado na possibilidade de ter filho, o personagem conhece o menino, mas se surpreende ao saber que o garoto é autista. O aprendizado do personagem de Mion sobre como é ser pai de autista é uma linda e generosa oportunidade de informar também ao público. Assim, entende-se porque autistas tem questões com ambientes muito barulhentos ou se alteram sua rotina, por exemplo. Ao se tornar pai, o personagem de Mion faz um resgate afetivo com o próprio pai, interpretado brilhantemente por Antonio Fagundes.
O projeto é do próprio Marcos Mion, um apoiador de primeira hora da causa, que há anos faz um trabalho de informação nas suas redes sociais de suma importância. Pai de Romeo, diagnosticado no espectro autismo, Mion compartilha, com seus mais de 20 milhões de seguidores, curiosidades de quem convive com um autista.
A desinformação é a matriz de qualquer preconceito. Quem não conhece, julga. Por isso, no Abril Azul, mês de conscientização sobre a inclusão de pessoas com TEA (Transtorno do Espectro Autista), a chegada de “MMA – Meu Melhor Amigo” ao streaming é um belo passo a frente na busca por maior conhecimento do público sobre o autismo.
Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na pós-graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).