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Fabio Szwarcwald

Por Fabio Szwarcwald, colecionador de arte e gestor cultural Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
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A cena independente das artes visuais no Rio

Espaços independentes de arte e experimentação subvertem a carência de políticas públicas e investem na qualificação de novos agentes para o setor

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Atualizado em 8 abr 2022, 11h41 - Publicado em 5 abr 2022, 18h13

Com o avanço do percentual de vacinação e o arrefecimento da pandemia, o setor cultural, um dos mais afetados, está se adaptando ao reencontro com o público na retomada gradual dos espaços.

No entanto, não bastassem as adversidades impostas por todo esse período de exceção, o segmento sofreu ainda um corte orçamentário que abalou as perspectivas das instituições de cultura, com um recuo significativo da verba federal. Sem falar na mudança na Lei Rouanet que limitou o valor de captação por projeto, como uma estratégia do governo de minimizar o papel do Estado na Cultura. Portanto, vejo um ambiente de incertezas em 2022, com baixíssima expectativa de crescimento para o setor que há muito padece de vulnerabilidades estruturais.

Diante desse cenário, me chama imensa atenção a atuação de espaços independentes de arte e experimentação, que subvertem a carência de políticas públicas. São células disruptivas que inovam em condições de adversidade e investem na qualificação de jovens artistas, curadores e pesquisadores, chegando a crescer durante a pandemia ao estabelecer um diálogo mais próximo entre os agentes que constituem o campo das artes.

Como entusiasta da cultura como vetor estratégico, decidi transformar esta coluna numa plataforma de visibilidade para iniciativas louváveis que vêm consolidando o Rio como um hub de projetos autossustentáveis de grande impacto social e educativo em seus territórios. Muitos, inclusive, sem o amparo de leis de incentivo. Mensalmente, vou apresentar aqui alguns espaços da cena carioca independente dedicados à experimentação e às práticas artísticas. A Casa da Escada Colorida abre a série.

Fundada e dirigida pelo carioca Bruno Girardi*, economista com foco em empreendedorismo social, 46 anos, filho de professores, a Casa da Escada Colorida é um espaço independente de arte que, desde junho de 2019, abriga programas multidisciplinares de residência artística e curadoria.

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A gestão é compartilhada com Camila Pinho, Rachel Balassiano e Jacqueline Melo. Em 2022, juntaram-se ao grupo Roberta Ristow, como Diretora Institucional, e Ana Elisa Lidizia, como curadora-residente. A  missão deste espaço independente é democratizar a formação artística e cultural por meio de cursos livres mediados por profissionais atuantes no sistema de arte brasileira, promover residências artísticas que gerem experimentações no campo das artes visuais, realizar exposições coletivas cuidadosamente conceituadas pelos participantes e curadores e, por fim, incentivar os encontros entre estudantes, artistas, pesquisadores, colecionadores, gestores, produtores e professores de arte na cidade do Rio de Janeiro.

Ocupando um sobrado centenário na Lapa, na Escadaria Selarón – terceiro ponto turístico mais visitado da cidade – o espaço conta com ateliês e área expositiva, e realiza uma programação dinâmica com cursos, oficinas, laboratórios, palestras, cineclube e exposições dos residentes e artistas convidados.

Os programas de residência, com duração de três a seis meses, se dirigem a finalidades específicas: jovens artistas, acompanhamento crítico e curadoria. Cada ciclo é coordenado por diferentes profissionais da área a convite da direção da Casa, como Fernanda Lopes, Pollyana Quintella, Bia Petrus, Daniela Avellar e Catarina Duncan, entre outrxs.

Ao longo de quase três anos, Bruno avalia que já passaram pela Casa da Escada Colorida cerca de cem residentes: “Entre eles, nomes que despontam na cena artística, como Pedro Carneiro, Maria Baigur e Clara Machado”. Num balanço desse período, o diretor ressalta que a demanda só cresceu: “A partir do nosso terceiro ciclo de residências, a relação candidato/vaga chegou a 10 por 1”.

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Atualmente, a sustentabilidade financeira do projeto é garantida por subsídio cruzado, em que a renda gerada por alunos pagantes garante bolsas para os que não podem custear os cursos: “Ao menos 30 pessoas já receberam bolsas integrais para cumprir os programas”, informa o diretor. “E durante a pandemia, geramos renda ao remunerar nossos facilitadores e professores, colaborando também para movimentar a economia do setor num período de exceção”, avalia Girardi, que aponta outras formas de viabilizar economicamente o projeto, como as parcerias firmadas com artistas e espaços de São Paulo (“essa troca geográfica é importante”) e a captação de alunos estrangeiros para o formato online.

O impacto na região é outro ponto ressaltado por ele: “No início do projeto, em 2019, colaboramos com uma assistente social na realização de um mapeamento geográfico do território no entorno da Casa, que é a Lapa, um lugar democrático e caótico, de efervescência histórica. O objetivo era costurar relações com as comunidades próximas, mapear riscos e fortalecer o elo com outras iniciativas culturais independentes da região, como o coletivo Rato Branko. De lá pra cá, podemos afirmar que esse diálogo vem sendo estabelecido de forma muito positiva”, celebra.

A cada dois meses, a Casa da Escada Colorida lança novos cursos. Em maio, terá início a proposição “Arte e Terreiro”, com a artista Luanda, que é filha de santo rodante de terreiro de umbanda, doutora em artes pelo ppgav-ebaufrj e mestre em artes pelo ppgav-eca-usp. O curso apresentará reflexões em torno das questões da arte contemporânea brasileira na encruzilhada artística, espiritual e política, tecendo uma conversa teórica a partir do território Atlântico Sul.

*Bruno Girardi – Fundador e Diretor Executivo da Casa da Escada Colorida. Com graduação em Economia pela University of London e MBA pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), Bruno tem 20 anos de experiência em gestão estratégica e aceleração de empresas jovens. Ele atualmente trabalha com investimentos de impacto social e ambiental, é apaixonado por negócios e empreendorismo cultural.

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** Se você dirige ou integra um espaço independente de arte e experimentação, entre em contato com a coluna. Talvez possamos divulgá-lo aqui: fabio.vejario@gmail.com.

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