Fantasia de carnaval
Bom seria se o alcance de público da folia carioca se estendesse ao circuito artístico da cidade
A primeira edição do carnaval, pós-isolamento social, teve recorde de público no Rio. O êxtase provocado pela maior manifestação cultural do Brasil e a potência de seu discurso atraem gente do mundo todo. É preciso pensar em estratégias pra que esse alcance também se reverta para a cena artística carioca. Já pensou se esse público tão diverso – inspirado pela visualidade dos desfiles das escolas de samba e pelo caráter político-libertário dos blocos de rua – estendesse seu cortejo a museus, galerias e ao circuito artístico alternativo?
Encerrada a folia, deixo aqui uma relação de exposições e espaços pra que você siga botando seu bloco na rua.
CCBB | Walter Firmo: no verbo do silêncio a síntese do grito
Com cerca de 266 fotografias, a exposição do artista carioca Walter Firmo traça um panorama dos mais de 70 anos de sua trajetória. Produzidas desde o início da carreira do fotógrafo até 2021, as imagens retratam a população e a cultura negra de diversas regiões do país, revelando ritos, festas populares e religiosas, personagens e cenas cotidianas. Firmo é responsável por registros icônicos de grandes nomes da música popular brasileira, também encontrados em um dos segmentos da mostra. Curadoria: Sergio Burgi e Janaína Damaceno
Casa Roberto Marinho | Alegria aqui é mato – 10 olhares sobre a Coleção Roberto Marinho
Reunindo cerca de 200 obras, a mostra é composta pelo olhar de dez personalidades de vertentes variadas, que se dedicaram por meses ao estudo da Coleção Roberto Marinho. A atriz Fernanda Montenegro, os músicos Adriana Calcanhotto e Paulinho da Viola, o cineasta Antonio Carlos da Fontoura, o fotógrafo Walter Carvalho, o arquiteto Glauco Campello, o designer Victor Burton e os artistas plásticos Gabriela Machado, José Damasceno e Marcos Chaves foram convidados a organizar suas salas com peças selecionadas a partir do acervo, dialogando com trabalhos de sua autoria e/ou de outras coleções particulares.
Instituto Inclusartiz | Da Avenida à Harmonia: mais de um século de carnaval no Centro do Rio de Janeiro
A mostra apresenta registros históricos e trabalhos contemporâneos que evidenciam as diversas manifestações do carnaval carioca. Com curadoria de Victor Gorgulho, a coletiva mistura obras de artistas consagrados a nomes emergentes.
Oi Futuro | Prenúncio da saliva + Simbiose – A conexão pelos fungos
A obra “Prenúncio da saliva”, criada pela artista Mariana Manhães especialmente para o projeto Ressonâncias, é uma máquina instalação que propõe uma realidade própria na esfera da imaginação. A artista transformou a galeria do nível 4 do Centro Cultural Oi Futuro em seu ateliê. A obra foi praticamente toda construída dentro da galeria, numa produção integrada com o espaço expositivo. Curadoria: Fernanda Vogas.
Com criação da Deeplab Project e curadoria de Eduardo Carvalho, a mostra Simbiose – A conexão pelos fungos apresenta, de maneira lúdica, a surpreendente imensidão do universo dos fungos.
Museu de Arte do Rio | Margens
Com um olhar documental sensível e detalhista, a mostra apresenta 68 fotografias em preto e branco do cotidiano de comunidades brasileiras feitas pelo renomado fotógrafo francês Ludovic Carème. O trabalho é resultado das vivências do artista no país, onde chegou a morar por mais de dez anos no final da década de 2000. Seja no Acre, no meio da Floresta Amazônica, ou em uma favela de São Paulo, suas fotos dialogam entre si e revelam histórias. A curadoria é do crítico de fotografia Christian Caujolle.
Ateliê Sanitário | Margens Plácidas
A coletiva curada por Fernanda Lopes apresenta obras de residentes do Ateliê Sanitário, um espaço dinâmico e autônomo de formação, trabalho e convivência artística, localizado na Gamboa.
EAV Parque Lage | Geometrias do habitar + Abre gira
Duas exposições apresentam os trabalhos de integrantes da Escola de Artes Visuais. Abre Gira é a primeira individual de Bruno Miguel, artista e professor da instituição há 13 anos. A mostra ocupa as Cavalariças, sob a curadoria de André Sheik. Já Geometrias do habitar, montada na Capelinha do Parque, reúne trabalhos de Carmen Verônica da Costa Souza, funcionária e aluna da EAV, que adotou o nome artístico Dona Carmen para seguir sua trajetória na cena das artes visuais. A curadoria é de Adriana Nakamuta.
MAC Niterói – Colección Oxenford | Un lento venir viniendo – Capítulo I
Com curadoria do poeta argentino Mariano Mayer, a exposição apresenta uma seleção inédita de obras da Colección Oxenford, do empresário Alec Oxenford, uma das principais coleções de arte contemporânea da Argentina.
LURIXS | Abre o jogo, de Raul Mourão
Individual de Raul Mourão, com texto crítico de Luisa Duarte. A mostra celebra os 20 anos da galeria e reúne mais de 60 obras do artista, de diferentes séries de sua produção multimídia.
Mul.ti.plo | Rotação e Translação, de José Resende
José Resende, com mais de 50 anos de trajetória artística, apresenta 14 obras inéditas em materiais como latão, mola latonada, cobre e cabo de aço. A mostra, em cartaz na galeria Múltiplo, no Leblon, se encerra no dia 24 de fevereiro.
Prestigiando também a cena alternativa da cidade, recomendo muito uma visita ao Instituto Pretos Novos (R. Pedro Ernesto, 32-34) e ao Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (R. Pedro Ernesto, 80), ambos na Gamboa.