O prazer que resulta de uma grande realização é das coisas que mais me movem na vida. Inauguramos ontem, pra centenas de pessoas, o Projeto Maravilha que reúne natureza, arte, educação e tecnologia no Parque Bondinho Pão de Açúcar®, para reimaginar a experiência cultural num dos mais importantes monumentos naturais do Brasil, patrimônio histórico e cultural do Rio de Janeiro.
Pioneiro, o projeto comissiona grandes nomes da arte brasileira para a produção de obras inéditas e esta primeira edição, curada por Ulisses Carrilho, apresenta trabalhos do grande Carlos Vergara, em diálogo com a Mata Atlântica. É uma iniciativa de impacto na cena cultural e turística do Rio, que projeta a arte brasileira para visitantes do mundo todo.
Essa edição inaugural marca também os 60 anos de carreira do Vergara, que completa agora em novembro 83 de vida e segue em pleno vigor artístico, produzindo diariamente. Uma das grandes alegrias que o Maravilha me trouxe foi a oportunidade de convívio com esse mestre. Frequentar o ateliê e testemunhar o seu processo foi uma experiência arrebatadora, uma aula de vida.
Quando fiz o convite pra que fosse o primeiro artista do projeto, o desafio foi aceito logo de cara: artista corajoso, Vergara concebeu três obras de grande formato, sendo uma monumental (pesando 700kg), em menos de cinco meses. “Depois de 60 anos de trajetória, cada vez levo mais a sério o gesto de fazer arte”, me disse. “Às vezes me pergunto por que criar uma escultura… A resposta é: para criar um lugar”.
E é exatamente o que Vergara, em parceria com o Projeto Maravilha, fez: instaurou um novo espaço de arte contemporânea ao livre, o Bosque das Artes, em zona de preservação ambiental a 360 metros acima do nível do mar, no cume do Pão de Açúcar.
Quem tiver a oportunidade de visitar, verá a força poética de Vergara traduzida em obras como a “Pauta Musical”. Com sete metros de comprimento, a peça remete a uma partitura e se insere na natureza do Bosque de forma deslumbrante, em perfeita integração com a fauna local. Ao pousarem sobre as “linhas” de aço corten, os pássaros tornam-se as notas de uma composição efêmera. Com muita poesia, o artista instaura um espaço de potencial meditativo, que protesta contra a aceleração.
Já “A idade da pedra” celebra a beleza natural e histórica do morro do Pão de Açúcar, formado a cerca de 600 milhões de anos. Com este código matemático, um número escrito por extenso, o artista aponta para a diminuta escala temporal da vida humana. Ao fazer coexistir o tempo da sua biografia e o tempo do Pão de Açúcar, Carlos Vergara demonstra sua sensível atenção para a instabilidade das formas e a inexorável passagem do tempo. Como escreveu Manoel de Barros, de quem ele é fã, “o tempo só anda de ida”.
Destaque do Maravilha, a monumental “Parênteses” remete a elementos da natureza, como folhas e troncos, que se unem aos sinais de pontuação de três metros de altura. A abertura de um espaço entre os Parênteses e a perfuração do material, que gera uma dinâmica entre luz e sombras, podem ser compreendidas como a busca por travar um diálogo com o mundo exterior. “Nessa obra, o artista traz a sua inteligência ecológica e propõe uma forma horizontal, bipartida e aberta. Apesar das grandes dimensões, os recortes na chapa de aço permitem que a entrada de luz integre a escultura ao entorno, sem interromper a paisagem”, descreve Carrilho.
“Mudando de posição, o espectador pode colocar entre parênteses o que quiser. Eu posicionei uma réplica em pequenas dimensões na janela da minha casa, onde tem uma bandeja com comida para os passarinhos. Lá, eles comem entre parênteses”, diverte-se o artista.
A escolha do aço corten para dar corpo às três peças escultóricas está relacionada às propriedades do material, que permitem uma evolução estética por conta da camada de óxido que se forma na sua superfície ao longo do tempo. No entanto, o Ulisses afirma que essa escolha não é apenas estética, mas também política e poética. Além de garantir a durabilidade das obras, o aço corten possui uma opacidade que se alinha à marca subjetiva da obra de Vergara, cujo significado não se revela de imediato ao espectador. Essa interação do metal com o passar do tempo cria um contraste singular com o que está ao seu redor e desperta uma reflexão em torno dos ciclos e mutações dos materiais e formas de vida.
Entregar essa maravilha toda ao público do Rio e aos turistas das mais diversas partes do mundo que visitam o Bondinho é um marco. Uma realização singular que contou com a dedicação e o esforço de uma equipe brilhante e incansável. Imaginem a logística insana que foi levar essas obras até o cume do Pão de Açúcar…
Missão cumprida com louvor e carbono neutro! Neutralizamos todas as emissões geradas pela exposição, apoiando projetos que capturam CO₂ do ambiente e promovem a sustentabilidade. Posso dizer que cada visita, cada passo dado aqui, faz parte de um projeto pensado para contribuir para um futuro mais verde e consciente, reforçando nossa crença de que a cultura pode e deve caminhar de mãos dadas com a preservação ambiental.
Agora, esperamos receber mais de 10 mil crianças no projeto e não tenho dúvidas que o passeio pela exposição vai mudar, nem que seja por um instante, o modo como elas se relacionam com o mundo. Pra isso, contamos com uma ampla jornada digital – desenvolvida pelo meu parceiro Thiago Yaak, expert em tecnologia – que amplia a experiência do público e o impacto cultural do Maravilha. Queremos atrair a atenção para a importância desse bioma preservado em unidade de conservação, onde se instala a nossa iniciativa. Tenho total convicção de que a arte é a ferramenta mais efetiva e transformadora de educação e, por isso, todos os projetos que desenvolvo através da minha empresa A-PONTE têm alto investimento em seus programas educativos.
O Projeto Maravilha foi viabilizado por meio da Lei de Incentivo à Cultura, com patrocínio exclusivo da China National Petroleum Corporation (CNPC), apoio do Parque Bondinho Pão de Açúcar® e realização da A-PONTE.