Cirurgia plástica muito além da estética
A importância das cirurgias reconstrutivas, como nos casos de queimaduras e de mastectomia, na qualidade de vida e autoestima
Quando se fala em cirurgia plástica é natural que se pense em estética e vaidade. Realmente, muitas pessoas procuram esta especialidade com a intenção de aprimorar contorno corporal e transformar partes do corpo e do rosto, aproximando-se da imagem que idealizam e que podem alcançar, na medida do possível e das características individuais. Mas é preciso lembrar que a cirurgia plástica vai além da estética e é fundamental para a qualidade de vida.
Dentro da especialidade, existem as chamadas cirurgias de reconstrução e restauração. Elas têm como objetivo restaurar a função e a aparência de partes do corpo após traumas, acidentes, doenças e até mesmo condições congênitas. Vitais para melhorar a qualidade de vida dos pacientes, elas quase sempre contribuem também para superar limitações físicas e impactam positivamente na saúde mental.
Entre os exemplos mais conhecidos de cirurgias reconstrutivas está a de reconstrução mamária, feita após a mastectomia no tratamento ou prevenção do câncer de mama para devolver o formato e volume dos seios. Sobre este procedimento, vou escrever na semana que vem para falarmos sobre a importante campanha do Outubro Rosa. Além da mastectomia, outras cirurgias oncológicas, como a remoção de tumores de pele ou no rosto, podem deixar deformidades que a cirurgia plástica pode amenizar e corrigir. Além destas, são muito amplas as possibilidades de procedimentos cirúrgicos na reconstrução pós-trauma e de acidentes de trânsito, quando podem ocorrer danos severos em ossos e tecidos.
Algumas destas cirurgias de reconstrução podem e devem ser feitas já nos primeiros meses de vida, como nos casos de bebês nascidos com a condição congênita de fissura labial. O procedimento permite que a criança se alimente, fale e respire adequadamente. A cirurgia corretiva de lábio leporino promove uma melhora da parte estética na face como uma consequência, pois o principal objetivo é recuperar a funcionalidade.
O Brasil é, inclusive, referência também nas cirurgias de reconstrução e tratamento de queimaduras. Atualmente, no Brasil, as lesões decorrentes de queimaduras correspondem a cerca de 100 mil casos que necessitam de atendimento hospitalar, segundo estimativas do Ministério da Saúde. Os principais hospitais públicos do país têm departamentos específicos para queimaduras e cirurgias reparadoras, dentre eles, o Souza Aguiar, no Rio de Janeiro, que já teve o cirurgião plástico Ivo Pitanguy (1923-2016) como um de seus chefes. Além de restaurar função da pele, as plásticas afetam diretamente o impacto estético e emocional ligado à aparência resultante deste tipo de acidente e das cicatrizes.
A mesma evolução tecnológica dos últimos anos que contribui para avanços significativos nos procedimentos estéticos cirúrgicos e não-cirúrgicos também tem aumentado a eficiência das intervenções reparadoras. Isso vai desde reconstrução facial com auxílio de computador a impressão 3D de tecidos, o que contribui para resultados mais individualizados. Podemos esperar muitos avanços nos próximos anos. As transformações físicas e emocionais são tão impactantes nas cirurgias que vão além da estética que, não raramente, emocionam o paciente, familiares e até mesmo a equipe médica.
Guilherme Ferretti é médico e cirurgião plástico. Membro especialista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Atua na cirurgia de contorno corporal, estética, reparadora e lesões de pele e tem mais de uma década de experiência na especialidade da cirurgia plástica reparadora pós-bariátrica.