Kika Gama Lobo
Por Kika Gama Lobo, criadora de conteúdo para a maturidade
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Madames endinheiradas
O livro “Coisa de Rico” (editora Todavia) do antropólogo carioca Michel Alcoforado bateu forte em mim
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Atualizado em 3 set 2025, 13h54 - Publicado em 3 set 2025, 13h31
Deve ser recalque, dirão meus inimigos. Talvez seja mesmo. Com sua escrita debochada, ardida, quase raivosa o autor que se diz zero acadêmico, retrata um cenário único dos ricos no Brasil.
Alguns tópicos eu listo ali na frente, mas a minha coluna de hoje é quase um publi, um convite para você ler esse livro. Detalhe: eu nunca vi o autor Michel Alcoforado na vida, não recebi um centavo da editora e nem estou atrás de viralizar com essa crônica. Só balancei mesmo. E explico. Em uma ocasião, numa viagem para a Itália, Taormina, na Sicília dei uma pirada. Fui de navio de luxo, tipo 6 estrelas, e a bordo, um grupo de ricas cariocas – mega simpáticas e zero ariscas comigo, me pegaram em um dia ruim. Um calor de mil graus na pérola do mar Jônico, eu barrada no hotel que serviu de locação para a série White Lotus, uma vendedora de uma loja olhou enviesada para minha cara como seu eu fosse uma mendiga e, nesse mood , encontrei com as “cariocas ricas” no centrinho italiano daquela cidade que é um desbunde. Eu havia ganho a viagem da minha prima pelos meus 60 anos e, como era tudo all inclusive, levei comigo 300 euros para emergências. E ralei muito para conseguir comprá-los pois se multiplicarmos a moeda nacional pelo euro, é quase um pré infarto. E não é que reencontro parte desse grupo de cariocas glam que proferiram sem a menor maldade: “acabamos de ver uns vestidinhos super baratos na loja tal, só 300 euros”. Aquilo caiu como uma tijolada na minha cabeça de perrengue. Voltei para o navio e escrevi um post recalcado que me gerou muitos danos. Nunca apaguei. Larguei lá no meu feed para eu nunca mais tomar como pessoal, nada que não me pertence. Corta a cena e volto ao livro do Michel. Caraca, fui à forra. O estilo literário do rapaz que mistura dados de antropologia com tiradas sarcásticas sobre os ricos brasileiros me fez voltar praquele dia em Taormina. Só que vingada. Eu não estava errada, apenas estava levando para o lado íntimo algo que é um fenômeno antropológico. Rico brasileiro tem certas características e quem diz é ele. Vamos a elas:
– Brazuca empresário nunca tem tempo para nada. Chegam a inventar uma secretária para mostrar que sua agenda é lotada
– Gostam de mandar em gente. Figurar na lista Forbes e ter esse reconhecimento social através do empreendedorismo. Se for under 30, 40, 50`s melhor ainda
– Herdar é chic, mas multiplicar é top
– Mesmo tendo 15 Birkins vale mais usar uma marca que não é conhecida democraticamente como Loro Piana, The Row, Bottega Veneta ou Patek Philippe. O tal quiet luxury
– Filhos em escolas internacionais. Depois que o Brasil instituiu as cotas em faculdades, rico não quer se misturar com as minorias. O negócio é começar criancinha na Avenues e depois rumar para Harvard, Princeton, Stanford, MIT, Oxford
– Viajar de primeira classe? Não, luxo é ter avião particular
– Os que vem do mundo do dinheiro novo precisam ser magros ( alô Mounjaro), ter sobrenome chic ( inventado) e usar itens que sejam percebidos como “ de rico”. Gerente compra Ricardo Almeida, Diretor vai de Zegna e Presidente sempre gravatas Hermès….
– Rico que é rico não posta. Não tem nem rede social
– Se tiver, melhor entrar no LinkedIn do que Instagram
– Obrigatório ter residência fixa no Jardim Europa, casa na Fazenda Boa Vista para fim de semana, vila em Trancoso para férias curtas , terreno em Pata ( Patagonia chilena) para fds chic – tudo para fechar negócio e pasmem, isso é parte do trabalho
– Fazer curso de cerâmica, aulas de filosofia ou para ler Ilíadas no original, curso de meditação, IA e gastronomia fit
– Os muito ricos ficam encastelados e não sabem o que rola no mundo da rua…. Esse é o seu maior gargalo caso precisem voltar para a vida real
Michel, muito obrigada. Fazia tempo que não curtia tanto um livro e invariavelmente me apequenava com as suas colocações. Me senti recalcada em muitas passagens e super vanguarda em outras. Me vi em muitas situações que você lista e tive um misto de vergonha e mérito. Mas sobretudo me senti vingada daquela tarde em Taormina. Foi uma espécie de sessão de análise. Obrigada.
