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Lu Lacerda

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Jornalista apaixonada pelo Rio

Crônica, por Eduardo Affonso: Minhoca

"Não creio em reencarnação. O que é uma pena, porque seria ótimo retornar com um 'apigreide'"

Por lu.lacerda
8 dez 2024, 07h00
minhoca
 (IA/Divulgação)
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Não creio em reencarnação. O que é uma pena, porque seria ótimo retornar com um apigreide, tendo a chance de viver de novo como um ser mais completo, mais sábio, mais evoluído. Minhoca, por exemplo.

Minhoca mora na própria comida. Deu fome, não precisa descongelar lasanha no micro-ondas, entrar em fila de restaurante a quilo, contar calorias, verificar se contém glúten: é só abocanhar o que estiver mais perto – a parede, o teto ou o piso (o gosto, como no caso do hambúrguer e sua embalagem – costuma ser o mesmo).

Sendo hermafrodita, o risco de uma minhoca ficar chupando dedo num sábado à noite é praticamente nulo. E não só porque ela não tenha dedo: se não aparecer ninguém mais interessante, ela se vira consigo mesma.

Claro que sempre há a possibilidade de se nascer uma minhoca trans ou gay – e aí temos de convir que os embalos de sábado à noite teriam um complicador e tanto.

A probabilidade estatística de uma minhoca de orientação sexual alternativa encontrar, sem Tinder, Happn ou Bate-papo do UOL, outro anelídeo compatível é quase a mesma de haver vida inteligente em certos partidos. Isso sem contar que “minhoca gay” é um cacófato e tanto.

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Mas suponhamos que, na ficha de reencarnação, eu possa escolher não só a espécie (“minhoca”) como também a orientação sexual (“hermafrodita cis heteronormativa opressora”). Os benefícios serão infinitos.

Primeiro, minha parte feminina não vai precisar fingir orgasmo: a parte masculina terá plena consciência de tudo, e não se deixará enganar com um mero revirar de olhinhos, pés contorcidos e unhas cravando no travesseiro – até porque não haverá pés nem unhas nem travesseiro.

Por outro lado, qualquer falha do meu lado masculino ficará em completo sigilo – só eu mesmo ficarei sabendo. E nem precisarei tentar me iludir dizendo que isso nunca me aconteceu antes, careca que estarei de saber do meu histórico de micos.

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Não precisarei inventar uma enxaqueca para não transar nem terei de mentir, cinco segundos depois de acender o cigarro, ao perguntar a mim mesmo se foi bom pra mim.

Se alguém ocupar mais da metade da cama, serei sempre eu – e dormirei de conchinha comigo mesmo, antes que eu comece a roncar.

Minha sogra vai gostar de mim – afinal, ela é minha mãe. E não será doida de não me aceitar como genro. Ou nora.

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Não poderei nunca pular a cerca sem ser descoberto por mim mesmo (nada é perfeito), mas o melhor de tudo é que jamais levarei um pé na bunda. Não só por não ter pé, mas, principalmente, por não ter bunda.

Eduardo
(arquivo pessoal/Arquivo pessoal)
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