Gastronomia: Bruno Calixto provou O Glorioso Sushi
O Glorioso Sushi de rua que não flerta com a tradição, mas leva a sério as técnicas japonesas


“Não queremos flertar com a tradicionalidade, mas levamos a sério as técnicas da cozinha japonesa”, me contou o chef Edu Araújo, amigo das antigas, de fala mansa, como se essa fosse a única explicação para o fato de as pessoas próximas da minha mesa não pararem de olhar o que aportava à minha frente. Um saquê numa garrafa de cerveja geladinho embrulhado numa “camisinha” de isopor; handrolls (uma versão de temaki em formato de charuto); Taco Noris (tacos feitos com tempurá de alga nori e recheios como spicy tuna ou guacamole com cogumelos) e o criativo Cigarrete Roll, que homenageia o clássico sanduíche de pernil com queijo e abacaxi, transformado em um hot Philadelphia com copa lombo, provolone e geleia de abacaxi. Alguns dos hits do novíssimo Glorioso Sushi, aberto nos primeiros dias de 2025, em Botafogo (Fernandes Guimarães com Arnaldo Quintela), pelas mãos do Edu com o sócio Jonas Aisengart.

Para os apreciadores da gastronomia japonesa tradicional, olha que surpresa: o fígado marinado por 48 horas em koji, salteado com nirá, molho tonkatsu e ponzu, e finalizado com amendoim, é uma opção que te pega de jeito.
No Japão, quando você vai a um izakaya – um estabelecimento japonês informal, que não é exatamente um restaurante nem uma taverna, que trata a alimentação como uma fortificação para beber – você pede repolho primeiro, como um teste. Se a cozinha provar que consegue preparar um prato tão simples, você fica e pede mais comida. No Glorioso, você pode começar pelo ovo de codorna com kimchi golf, quanta criatividade.

“O menu é uma mistura afetiva das duas culinárias que o carioca mais ama: a japonesa adaptada e os sabores dos botequins do Rio”, reforça Edu, que me oferece uma dose de soju para provar, o destilado de arroz que serve de base para vários drinques da casa. Os coquetéis autorais são um capítulo à parte, como o Totoro (whisky infusionado com abacaxi e capim-limão, finalizado com soda de capim-limão, por R$ 34). A influência de Tóquio e Rio de Janeiro marca toda a carta assinada por Jonas Aisengart, que também foi responsável pela ambientação do espaço.
Aliás, antes de entrar, repare na máquina de chope Brahma (o único) na porta da casa, um sucesso, com esse calorão….

O ambiente são dois, lá dentro uma playlist de jazz japonês e pedrinhas pretas no chão. Lá fora, mesinhas para compartilhar na calçada (respeitando as regras municipais). Uma praça de alimentação a céu aberto, descolada, com pessoas de todas as idades bebericando e com alguma comidinha entre as mãos e a boca. Bacanérrimo!

O estreito salão calmo, de mobiliário clarinho e a uma prateleira sinuosa de garrafas de saquê são o cartão de visitas. Edu Araújo (Quartinho, Dainer, Café 18 do Forte…) tem uma habilidade incrível de combinar pessoas com produtos, ao som de boa música e perfume. Tudo vai bem nas suas casas, porque incrivelmente ele consegue estar em todas elas. Ainda vou entender como. Quando você menos espera, ele aparece para aquele abraço afetuoso. O dono da casa que fica na casa, um luxo o Edu!



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Por enquanto, o Glorioso (“era para estar na Glória”) só abre à noite, em breve terá almoço. E pode pedir o saquê na garrafa que vem no isopor que cai super bem com temperaturas tão altas. Refresco que vem do oriente!
