Gastronomia: Bruno Calixto visitou o boteco Jurema, entre Glória e Lapa
A rua tem alma!

Se o molho vai ser a tendência do ano — segundo a última coluna via “The New York Times” —, o novo Jurema não economizou na boa vontade em criar e inovar. Caramelo de vinho tinto romeno, chutney de tomate, coalhada da casa e amendoim com tamarindo são algumas das bases molhadinhas das porções que fazem sucesso no ponto que é um verdadeiro farol no corredor entre a Lapa e a Glória. O CEP é mais um que se junta aos botecos Suru Bar e Suru Bafo a caminho do icônico e único Beco do Rato, onde tem samba e feijoada todo dia. Não é para toda cidade um privilégio desses.

De cara, o Jurema vende o que é: boteco com cara e alma de boteco. O barulho de jovens falando alto é um bom sinal: ali o público esquece o WhatsApp. Mas é no desfile das comidinhas do chef Pedro Attayde que a nova casa brilha e anima os aventureiros da Zona Sul. Hortaliças, grãos e raízes, um show de menu, que tem “bala de barriga” – cubos de barriga curados e assados em caramelo de vinho tinto e tomilho (R$ 30); cogumelo chamuscado com babaganoush de jiló e molho romanesco (R$ 25) e uma série de sanduíches fantásticos feitos com pães da Nema.

“Nossa cozinha se inspira na proximidade e sinergia com a Feira da Glória, como uma homenagem às cores e sabores que encontramos quando passeamos entre as barracas”, diz Attayde.
As frituras, claro, são um sucesso à parte: enroladinho de salsicha empanada na folha de arroz, com conserva de tomate verde e maionese picante (R$ 18 – 2 un); coxinha de frango confitado empanada e frita, servida com coalhada da casa (R$ 18) e croquetas de couve-flor com curry, empanada e frita, servida com chutney de tomate (R$ 18 – 2 un).

“Considerada patrimônio histórico do Rio, a Rua Morais e Vale é formada por um conjunto arquitetônico de sobrados em estilo eclético. Por lá, já residiram figuras, como Madame Satã, Manuel Bandeira e Chiquinha Gonzaga”, contou-me Jady Cady, jornalista e frequentadora, que recomenda os bons drinques da casa, assinados pelo bartender Zurriê Firmo, idealizador do movimento Carta Black, onde há a preservação da cultura afro-brasileira e a inclusão nacional.

Cajuína e Guaraná Jesus são os hits da carta. “Cada coquetel autoral tem um destilado principal, que pode ser substituído por uma cachaça selecionada, promovendo a experimentação e valorizando a cachaça”, explica Zurriê, pai do Romeu e Julieta – tequila, triple sec, goiaba, borda de sal de urucum e queijo meia-cura (R$ 35). Delícia para acompanhar as friturinhas, e funciona bem como sobremesa, mas também tem brulée de milho verde (R$ 20).


No mais, são 70 lugares, cozinha aberta, decor que privilegia o metal mesclado com madeira, tijolinho perfurado, plantas e obras de artistas locais, como Preah e João Cordel. Golaço dos sócios do Jurema, uma busca por resgatar e valorizar a rica história e cultura daquele endereço.
