Homenagem a Luiz Buarque de Hollanda, que deixou ótimas memórias
Recém-inaugurada galeria Flexa abre a mostra “Um olhar afetivo para a arte brasileira: Luiz Buarque de Hollanda”
































Que tal esse programa para acalmar a ansiedade coletiva de fim de ano? A recém-inaugurada galeria Flexa, no Leblon, abriu a mostra “Um olhar afetivo para a arte brasileira: Luiz Buarque de Hollanda”, nesse fim de semana, com curadoria de Felipe Scovino e expografia de Daniela Thomas.
A exposição é uma homenagem ao advogado e grande colecionador, morto em 1996, que criou a Galeria Luiz Buarque de Hollanda & Paulo Bittencourt, seu sócio, em funcionamento entre 1973 e 1978.
Nos anos 1960, Luiz desceu de um ônibus na Rua Barata Ribeiro, em Copa, entrou na Galeria Bonino e comprou o trabalho de uma artista em começo de carreira: Lygia Clark. Foi o começo de uma das maiores e mais diversas coleções do Rio, construída em 30 anos, com nomes, por exemplo, Carlos Vergara, Carlos Zilio, Cildo Meireles, Debret, Glauco Rodrigues, Iberê Camargo, Iole de Freitas, J. Carlos, Mira Schendel, Rubens Gerchman, Sérgio Camargo, Thereza Simões e Waltércio Caldas. Muitos deles estavam na galeria.
São 150 trabalhos divididos em núcleos de interesse do colecionador-galerista: “Paisagem: do encantamento à hostilidade”, “Aproximações improváveis: o retrato entre o social” e o libidinoso, “Corpo partido e Linguagens construtivas e desdobramentos disruptivos”.
“A exposição investe, tanto curatorial quanto expograficamente, em como Luiz adquiria, organizava e mostrava a sua coleção. Ele se cercava daquilo que lhe dava prazer e conscientemente construía um modo muito singular de olhar para a arte brasileira. A galeria foi inovadora ao responder pela interdisciplinaridade de gerações, mas, acima de tudo, na constituição de um ambiente acolhedor e próximo aos artistas. Sua imagem e memória estão ligadas ao campo do afeto e da inteligência”, diz Scovino.
Uma das suas características era virar amigo dos artistas que admirava e ir além de comprá-lo, por exemplo: produziu um livro de Mira Schendel – que hoje integra a coleção do MoMA, em Nova York – e o disco “Sal sem carne”, de Cildo Meireles, ambos nos anos 1970. Também estão expostos documentos impressos, cartazes, convites, críticas e notícias sobre as exposições.
“O espaço, que antes me pareceu imenso, da galeria de três andares, revelou-se pequeno quando vi, pela primeira vez, a lista de obras da coleção de Luiz. Por outro lado, me dei conta de que esta é a questão central para o colecionador: nunca há espaço suficiente para expor os itens da sua coleção. Mesmo assim, ele tenta, quando decide que tudo é superfície: as paredes da escada que leva aos andares superiores da sua casa, por exemplo; do chão ao teto, tudo está sempre em jogo. Não são poucas as descrições da densidade de ocupação na casa de Luiz. Arte por toda parte. Resolvi colocar em jogo, como Luiz fazia com suas casas, toda a galeria, desafiando as regras da ‘boa montagem’, por assim dizer”, conta Thomas.