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Lu Lacerda

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Jornalista apaixonada pelo Rio

Manuela Dias (“Vale Tudo”): “Antes de mais nada, sua benção, Gilberto Braga”

"Tem muita coisa boa na Internet, e uma galera sem noção também", diz ela

Por lu.lacerda
Atualizado em 24 mar 2025, 11h23 - Publicado em 23 mar 2025, 07h00
Manuela Dias
 (Jorge Bispo/Divulgação)
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Entre as ideias fixas da autora Manuela Dias — que entra com toda a sua energia no remake de “Vale Tudo”, no ar a partir do próximo dia 31, na TV Globo —, está a vontade de mudar o mundo e a aversão a gente que não quer mudá-lo. A frustração: “Ser muito difícil e complexo mudar o mundo”.

Manuela dedica 10 horas diárias à adaptação da novela de Gilberto Braga (1945-2021), Aguinaldo Silva (cuja nova trama entra depois do remake) e Leonor Bassères (1926-2004).

A cada chamada na TV, as redes quase piram. Os juízes do tribunal impiedoso da Internet estão atentos, comparando personagens, julgando e dando as sentenças antes da estreia. Pra aliviar as dores da digitação e da dedicação, segundo ela, “monástica”, Manuela faz acupuntura, massagem, fisioterapia, alongamento, ioga, tai chi, treina, tem uma alimentação vegetariana, entra na banheira de gelo, mergulha nas cachoeiras do seu sítio na Região Serrana do Rio… Tudo por um sonho: “chegar ao coração do público, os melhores parceiros do mundo. E a família mais parceira, a filha (Helena, de 9 anos, do casamento com o cineasta Caio Sóh), a mãe (a atriz e produtora Sônia Dias), o namorado (Lucas Vianna) e amigos compreensivos”. Já são quase dois anos de trabalho intenso, acordando antes de o galo cantar.

Outro escape, disse ela à coluna, é “uma praia deserta no sul da Bahia, com brisa, água de coco, minha filha, minha família, meus amigos, música… e um acarajezinho.  Na Bahia, fica tudo bem”.

A autora nasceu em Nova Viçosa, no sul do estado baiano, mas o Rio é sua casa. Ela está na Globo há quase 30 anos, onde já tem uma trajetória: escreveu de programas infantis a humor; passou por séries e minisséries (com as premiadas temporadas de “Justiça”), até sua primeira novela, “Amor de Mãe” (2019), quando ficou com, digamos, o prestígio ainda mais em pé, dentro e fora da TV.

Ambientalista insistente, que sofre de “impaciência crônica” (dito por ela), Manu tem a saúde como foco, teme o desmatamento e acha inútil a existência do plástico de uso único.

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Além de novelas, cinema, séries, minisséries, programas de TV, ela toca e está à frente de uma editora, a Voante, lançada no ano passado: “Somos uma gota no intenso oceano do mundo editorial. Cada título é selecionado e tratado como uma peça única, garantindo que cada leitor encontre algo verdadeiramente especial”, disse ela em entrevista também a esta coluna, à época.

1 – Você está acompanhando a repercussão da novela desde já nas redes. O que acha dos comentários, positivos ou negativos? Isso a afeta?

Ser roteirista tem a ver com receber críticas e retornos de todas as naturezas, o tempo inteiro – desde os parceiros, como o diretor (Paulinho Silvestrini, maravilhoso!), retornos de produção, dos pareceres da Globo, que são fundamentais. Retorno pós-estreia, da audiência — que é a rainha de tudo, do ‘group discussion’. O fluxo de retorno é contínuo; a Internet é um deles. Tem muita coisa boa na Internet, e uma galera sem noção também.

2 – Como é ter o “peso” de uma novela que tem sido falada mesmo antes de nascer?

Não vejo como um peso. Pra começar, nunca estou sozinha. Conto com um diretor incrível, com todo o suporte da direção de gênero, Zé Luiz Villamarim, com a minha equipe, com esses atores. Existe uma rede de segurança enorme. Sinto que estou trabalhando entre os melhores todo o tempo, em todos os departamentos: direção, produção, figurino, cenário, elenco, técnica, costureiras, maquiadores, fotógrafos, editores, trilheiros… Entende? É muita gente em sintonia, trabalhando dentro do mesmo conceito. Não é um “peso”, mas uma imensa oportunidade de tentar fazer a mágica da contação de histórias acontecer. Claro que nada está garantido nunca: na novela, na vida, no amor. As coisas se constroem diariamente — e vamos todos os 300 envolvidos juntos até a morte de Odete Roitman.

3 – E o que diria a Gilberto Braga se pudesse…

Antes de mais nada, sua bênção, senhor! E muito obrigada por ter escrito novelas que me alfabetizaram como espectadora, como brasileira e como futura autora. Muito obrigada por Odete Roitman, Heleninha Roitman, Maria de Fátima, Raquel. Muito obrigada por engrossar o incrível caldo da dramaturgia nacional. O senhor deveria ter sido convidado a se sentar numa das cadeiras da ABL — não tivemos essa sagacidade. Quem sabe, erro ainda corrigível com o convite ao Aguinaldo (Silva)?

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4 – Aguinaldo Silva disse que estava com ciúmes (“Estou querendo ver… mas com ciúmes. Ela não chegou a me procurar e acho que fez bem. É a versão dela”, disse ele). O que acha disso?

Aguinaldo Silva é gigante! Cresci vendo suas obras, tão brilhantes: “Roque Santeiro”, “Vale Tudo”, “Pedra sobre Pedra”, “Fera Ferida” (meu Deus! Eu amei “Fera Ferida”), “Senhora do Destino”, “Império”… e tantas outras! Aguinaldo escreveu e segue escrevendo uma parte essencial da história da teledramaturgia brasileira. Ter a honra de adaptar uma obra também escrita por ele é um desafio fantástico! Meu Deus! Que Aguinaldo Silva tenha algum ‘ciúme de mim’ é das coisas mais chiques que já vivi! Ter a audiência dele será um luxo para nós que estamos empenhados de corpo e alma no remake. P.S.: adoraria tomar um café qualquer dia.

5 – Você é acostumada a um público de TV e streaming, estreando como atriz, e depois o lado escritora/roteirista, para todo tipo de gênero, de comédia a especial de Natal etc. Como você acertou o tom de formatos tão diferentes?

Primeiro, obrigada por achar que acertei. Eu não tenho fórmula para nada, não sei “como dá certo”. O que eu tenho é minha insegurança e sobretudo minha ansiedade criativa e comunicativa. Quero me comunicar, mas sempre podemos errar. É muito importante saber sempre que eu não sou a mina, apenas mais um garimpeiro nessa Serra Pelada das histórias.

6 – De uma história tão “Amor de mãe”, vem “Justiça” e agora “Vale Tudo”. Numa produção, você se envolve em todo o processo?

Eu sou uma roteirista com um perfil bem “executivo”. Gosto da realização. Participo apenas dos pontos em que acho que posso somar. Tudo parte de uma parceria integral com direção e produção. E agora aconteceu um processo orgânico, colaborativo entre direção e autor. Os atores foram testados numa antessala antes de começar a escolha. Por exemplo, ‘Amor de Mãe’, ‘Justiça 1 e 2’, ‘Dona Lurdes, o filme’, todos esses trabalhos foram produzidos pela genial Luciana Monteiro. Ela é fantástica! Com cada diretor, eu vivo uma verdadeira história de amor criativo, cada um à sua maneira. Eu preciso participar da escalação e da criação estética do personagem – acho que isso influencia muito na dramaturgia. Quando necessário, faço visita de pesquisa de locação. E em todos os processos, estou aberta a me transformar através dos encontros que o processo propõe.

7 – E sua opinião sobre o desafio de remakes em geral?

Acho que as histórias precisam ser recontadas, sempre. É uma questão de memória, de ancestralidade. Ainda temos muita dificuldade de reconhecer o valor da teledramaturgia. Nunca nos questionamos sobre se é bom remontar um clássico no teatro, porque se reconhece o valor daquela obra. Na TV, essa valorização ainda nos causa estranhamento. Eu acredito que alguns autores de teledramaturgia deveriam estar na ABL.

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8 – Tem algum projeto dos sonhos?

Tenho sempre muitos sonhos e projetos criativos e descanso de um escrevendo o outro. Uma das coisas que mais cansa em fazer novela é escrever uma única coisa, porque tem uma hora que não tem jeito e afunila. Mesmo no meio de “Amor de Mãe”, no meio da pandemia, eu propus e escrevi o “Falas Negras”. Areja! Escrevi uma série sobre Canudos para a Globo, e estou muito ansiosa para que seja produzida. Precisamos assumir o compromisso de recontar a História do Brasil. Precisamos entender urgentemente que somos, sim, um país de luta — entender que já lutamos muito no passado pode nos dar força para lutar hoje.

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