Opinião, por Ajay Tejasvi: “Você não afia seu potencial se exaurindo”
O maior desafio na cultura “hustle” — ou da correria de hoje — é o estado de aceleração perpétua
Durante meus anos no Banco Mundial, o ritmo e a escala de responsabilidades muitas vezes pareciam esmagadores. Aprendi que pura inteligência ou força de vontade não eram suficientes. Eu precisava de ferramentas para me ancorar. Mais uma vez, o Sudarshan Kriya (SKY, técnica de respiração rítmica e cíclica) e a meditação se tornaram minha base. Eles não apenas me ajudaram a lidar com a pressão, mas também transformaram minha forma de liderar. Trouxeram muito mais clareza, paciência e conexão em ambientes de alta exigência.
O maior desafio na cultura “hustle” — ou da correria de hoje (no inglês, a tradução literal é labuta) — é o estado de aceleração perpétua. Uma narrativa insustentável em que o desempenho é medido quase exclusivamente por entrega, prazos e visibilidade. Os profissionais frequentemente lidam com estresse crônico, sobrecarga de informações e a sutil crença de que descansar é sinal de fraqueza. Mas a cultura “hustle” nos engana e está destruindo empresas. Burnout não é uma medalha de honra, é um risco de negócio. Muitos líderes confundem pressão constante com alta performance e confundem burnout com dedicação. Mas o estresse crônico altera fisiologicamente o cérebro, prejudicando atenção e memória — os próprios alicerces da liderança. Um medo comum: “Se eu eliminar o estresse, perderei minha vantagem?”. A resposta é: absolutamente não. Você não afia seu potencial se exaurindo, e sim cultivando resiliência, clareza e calma. Os melhores líderes não vivem movidos a estresse. Eles são sustentados pela clareza.
Felizmente muita coisa vem mudando nos últimos 10 anos nos ambientes de trabalho rumo a uma postura mais inclusiva e orientada por propósito. Os líderes têm priorizado cada vez mais inteligência emocional, autenticidade e transparência. A saúde mental ganhou reconhecimento como componente essencial do bem-estar geral. As organizações passaram a reconhecer a importância de apoiar a saúde mental por meio de políticas, recursos e criação de ambientes livres de estigma. A pandemia, em particular, destacou essa necessidade, levando a conversas mais abertas e serviços mais acessíveis. Como frequentemente diz Gurudev Sri Sri Ravi Shankar, a base da liderança bem-sucedida é composta por compaixão, compromisso orientado por princípios e liderança pelo exemplo, e não apenas pelo cargo ocupado.
Na prática, uma rotina simples de “M&M” (Meals and Meditation, ou refeições e meditação) tem se mostrado eficaz em muitas corporações nos EUA. Na prática é encorajar os funcionários a fazer uma breve meditação antes do almoço. Apenas 15 a 20 minutos diários já aliviam o estresse e aumentam a energia. Compartilhar refeições, por sua vez, ajuda a construir um forte senso de comunidade e conexão entre colegas. Empresas inteligentes estabelecem metas claras, mas também garantem que suas equipes tenham o suporte necessário para alcançar resultados sem esgotamento. Elas oferecem flexibilidade sempre que possível, verificam como as pessoas estão se sentindo e celebram as conquistas. Quando você cuida dos seus colaboradores, eles cuidam melhor do negócio.
Outra grande preocupação dos funcionários é o ritmo dos avanços em IA e sempre me perguntam: “O que isso significa para nossos empregos?”. Em vez de encolher diante do medo, por que não abraçar esse momento como uma oportunidade de crescimento? Em vez de ver a IA como ameaça, podemos enxergá-la como oportunidade de explorar nosso potencial ainda não revelado. Enquanto a IA gera respostas em milissegundos, apenas os seres humanos geram significado. A IA pode imitar a linguagem e prever comportamento, mas não pode replicar a base de confiança que sustenta a sociedade. O futuro não pertence apenas à inteligência artificial. Pertence àqueles que sabem fazer as perguntas certas, construir com sabedoria e liderar com características humanas únicas que máquinas jamais poderão reproduzir. O próximo grande passo no bem-estar corporativo será ajudar as pessoas a acessarem aquilo que nos torna exclusivamente humanos. O surgimento da IA levará a uma nova forma de inteligência: a Inteligência Absoluta. As empresas mais visionárias serão aquelas que ensinam práticas simples como técnicas de respiração e meditação para ajudar as pessoas a acalmar a mente e se conectarem com sua força interior. Essa quietude interior é a fonte da criatividade e da intuição. É o portal para a Inteligência Absoluta.
Algumas práticas:
Exercícios respiratórios — técnicas como pranayama e Sudarshan Kriya (respiração) harmonizam corpo e mente, eliminam estresse e fadiga, e aumentam energia e entusiasmo;
Meditação diária — em períodos de 15 a 20 minutos pela manhã e à noite podem trazer grande alívio do estresse;
Retiros de silêncio — algumas vezes por ano, reserve 3 a 4 dias para um retiro de silêncio. Esse tempo ajuda os executivos a alcançarem autoconhecimento mais profundo e renovarem seu senso de propósito;
Desenvolver a intuição — a meditação e o silêncio fortalecem as habilidades intuitivas, cruciais para a tomada de decisões assertivas nos negócios;
Liderança transformacional —combinar trabalho intenso com recuperação inteligente, trabalho profundo em vez de ocupação performática.
Pratique os 3 Cs — conexão, compromisso e comunicação.
Ajay Tejasvi é indiano, Ph.D. em Ciência Política pela Claremont Graduate University, com estudos em Liderança em Estados Frágeis, esteve por mais de 15 anos no Banco Mundial, à frente do programa de liderança corporativa para o desenvolvimento, formando parcerias com 42 instituições, em diferentes países. Atualmente, atua no escritório da organização internacional Arte de Viver em Washington (EUA). Ajay é sobrinho de Gurudev Sri Sri Ravi Shankar, líder humanitário e fundador da Arte de Viver. Neste domingo (14/09), ele vai dar palestra na sede da organização Arte de Viver, na Barra, com foco na saúde mental no meio corporativo.