Outros carnavais: a história do bloco “O Que É Que Eu Vou Dizer Em Casa”
Tiago Ribeiro, doutor e mestre em Arte e Cultura Contemporânea, conta como surgiram os blocos da Quarta de Cinzas

Imagine a cena: em pleno dia útil nos anos 1960, na hora do almoço, centenas de pessoas fantasiadas saindo juntas da prisão. Isso mesmo… Durante o carnaval, algumas pessoas eram identificadas pela polícia cometendo pequenos delitos, como brigas, falta de documentos ou embriaguez, eram presas e obrigadas a passar todos os dias do carnaval encarceradas, ainda fantasiadas, na Delegacia de Vigilância, na Avenida Marechal Floriano, no Centro. Só eram liberadas juntas, na Quarta-feira de Cinzas ao meio-dia.
Um evento que ficou conhecido na imprensa como o bloco “O Que É Que Eu Vou Dizer Em Casa”. Aguardado por curiosos, que se amontoavam em frente à delegacia, o “cortejo” deixava as grades tentando fugir das lentes dos fotógrafos e cinegrafistas. Símbolo do encerramento do carnaval carioca dos anos 1960, o “bloco” era imitado em outras cidades e estados brasileiros, com o mesmo nome ou nomes parecidos.
Já nos anos 1970, depois de muitas críticas ao evento, ou melhor, considerada uma humilhação pública para pessoas que, na maioria das vezes, cometiam delitos sequer previstos no Código Penal, o bloco foi proibido.
Tiago Ribeiro é jornalista, doutor e mestre em Arte e Cultura Contemporânea (UERJ). Professor de pós-graduação da disciplina História do Carnaval, com passagens pela Universidade Veiga de Almeida e Faculdade Censupeg. Tiago lança o livro “Os Blocos do Carnaval Carioca”, depois de cinco anos de pesquisa, a partir das 18h, no Espaço Multifoco, no Centro (Mem de Sá, 126).