Ana Beatriz Barbosa: “A vida não se sustenta na soma de prazeres fugazes”
"Vivemos em uma sociedade hiperconectada, mas, paradoxalmente, marcada por solidão e desorientação", diz Ana

Vivemos em uma sociedade hiperconectada, mas, paradoxalmente, marcada por solidão e desorientação. O que explica o sofrimento de tantos, mesmo diante do conforto material? Muitas vezes, a resposta está na ausência de diálogo sobre o que realmente importa: encontrar significado e cultivar relações genuínas.
A busca incessante pela felicidade frequentemente nos conduz a um caminho isolado, no qual o foco na satisfação pessoal assume um tom hedonista. Esse desejo de prazer imediato, embora momentaneamente satisfatório, costuma resultar em um vazio profundo, afastando-nos do que realmente nos nutre.
Ao longo da minha trajetória como psiquiatra, presenciei inúmeros casos de pessoas que, mesmo possuindo tudo materialmente, sentiam-se infelizes. Isso acontece porque lhes falta um propósito, algo que transcenda a mera existência. Afinal, a verdadeira felicidade não é um destino a ser alcançado, mas um processo contínuo, tecido pelas relações e pelo impacto que geramos ao nosso redor. Ser feliz isoladamente é um paradoxo, pois a essência da humanidade reside na conexão.
Quando nos enclausuramos em nossas próprias prioridades, ignorando a dimensão coletiva, corremos o risco de nos tornarmos egoístas e desconectados. O ser humano, em sua essência, é relacional: encontra sentido no encontro, no pertencimento e na construção de algo maior do que si mesmo. Sem esses elementos, a sensação de vazio se torna quase inevitável.
Cada um de nós é singular, com histórias, desafios e potencialidades únicas. Em um mundo de 8 bilhões de indivíduos, reconhecer e celebrar essa diversidade é essencial para atribuir significado à vida, e talvez a questão essencial não seja como alcançar a felicidade, mas como dar sentido à própria existência. A resposta, embora singular para cada um, parece sempre atravessar o outro. Somos feitos de encontros, de gestos que nos desvelam e nos ligam a algo maior que nós mesmos. A vida não se sustenta na soma de prazeres fugazes, mas na tessitura sutil dos laços que nos ancoram e nos refletem. É na troca autêntica, no olhar que nos reconhece e na presença que acolhe, que a existência se ilumina — não como um destino a ser alcançado, mas sim como um caminho a ser vivido.
Ana Beatriz Barbosa Silva é médica psiquiatra, nome destacado em sua área, escritora de 15 livros, best-seller, palestrante, consultora do comportamento e autora do podcast PodPeople.