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Do papa e outros papos

O primeiro papa do qual me lembro muito bem foi Eugênio Pacelli, entronizado como Pio XII, em 1939, e que morreu em 1958. Seu papado cobriu, portanto, parte da minha infância até a idade adulta. Foi reverenciado, como muitos outros. Minha mãe, por exemplo, fazia o sinal da cruz quando falava nos papas. Não só […]

Por Daniela Pessoa Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 25 fev 2017, 19h01 - Publicado em 3 ago 2013, 00h02
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    O primeiro papa do qual me lembro muito bem foi Eugênio Pacelli, entronizado como Pio XII, em 1939, e que morreu em 1958. Seu papado cobriu, portanto, parte da minha infância até a idade adulta. Foi reverenciado, como muitos outros. Minha mãe, por exemplo, fazia o sinal da cruz quando falava nos papas. Não só ela, mas todos os católicos praticantes, como são chamados, até hoje, os que vão à missa, confessam, comungam, jejuam e seguem os Dez Mandamentos da lei de Deus.

    Nunca me incluí nesse contingente, apesar dos quatro anos que vivi num internato de padres espanhóis, sem contar os tempos de coroinha e congregado mariano. Fui sempre um católico da boca para fora, chegando a dormir de roncar em algumas missas, omitindo pecados no confessionário, pecando contra a castidade. E uma vez mastiguei uma hóstia consagrada. Enfim: fui sempre um capeta que o tempo serenou.

    Com a vinda ao Brasil do papa Francisco, por causa de seu carisma e simpatia, os papos religiosos voltaram às mesas familiares e às rodas de amigos, com muita gente se dando conta, pela primeira vez, da existência de uma autoridade de grande poder.

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    — Ele lidera mais de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo!

    O comentário exclamativo era de um amigo que gostava de proclamar sua descrença religiosa. Eu só ouvia, sem saber se a informação era ou não correta. Mas um outro frequentador do círculo, um que nunca escondeu sua religiosidade, perguntava com ironia:

    — Tá sabendo disso hoje?

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    — Tinha ouvido falar, li qualquer coisa, mas a fonte era sempre a Igreja Católica. E essa não é minha praia. Mas agora, com pesquisas oficiais e insuspeitas, confesso minha surpresa.

    Alguém minimizou a grandeza da informação:

    — Essa gente toda, 2 bilhões ou até mais, não congrega só católicos praticantes, mas toda e qualquer pessoa que se diz católica. Como a maioria.

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    — Mesmo assim. Se alguém se diz católico, está dizendo que não é protestante, nem budista, nem espírita.

    O papo mudou de rumo:

    — Espiritismo não é religião, é uma doutrina baseada na crença de que vivos e mortos se comunicam.

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    — Mas, já que você gosta tanto de pesquisa, fique sabendo que existem no mundo quase 20 milhões de espíritas.

    E essa espécie de competição religiosa se alongou por quase toda a tarde. Quando saí do Severino, eles lá ficaram, abrindo uma segunda garrafa de vinho e sacando de vários argumentos que favoreciam uma ou outra religião.

    Chegando em casa, pensei em consultar o Google, colher informações confiáveis etc., mas minha mulher, com seu bom-senso e sua objetividade, me fez desistir dessa busca:

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    — Para que vai se dar a esse trabalho? Religião é um tema inesgotável e não conclusivo porque se baseia na fé, e não em evidências.

    Pensei no verso de Fernando Pessoa, que já citei aqui: “Nada se sabe, tudo se imagina”. Minha mulher completou:

    — E fé é ausência de perguntas.

    E emendou:

    — Agora vamos jantar. Mandei fazer seu prato predileto.

    E vieram as panquecas, que consumi com fervor quase religioso.

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