Um dos maiores cartunistas e escritores dedicado ao público infantil do país, Ziraldo lança neste sábado (7), às 16h, na Livraria Saraiva do Rio Sul, o sétimo livro da série Meninos do Planeta, intitulado Nino, o Menino do Saturno. Na ocasião, em que ele autografará as obras, o criador de O Menino Maluquinho também relança a coleção ABZ, com aventuras inspiradas nas letras do alfabeto, sucesso da década de 90, ambas publicadas pela Editora Melhoramentos.
Abaixo, ele conta mais detalhes sobre os trabalhos, fala sobre seus projetos futuros e analisa o atual cenário de pequenos leitores do Brasil. Confira:
Carolina – Como surgiu a ideia de relançar a coleção ABZ?
Ziraldo – A primeira vez que lançamos ABZ, há uns 20 e poucos anos, as capas as obras tinham apenas o desenho das letras grandes. As pessoas achavam que os livros eram pra crianças que estavam começando a ler, mas na verdade não era nada disso. A obra tinha pretensão literária. Mesmo assim, eles foram um sucesso e nunca saíram do catálogo. Então, conversando com a Melhoramentos, decidimos relançar a coleção toda de 26 livros com outro formato. Colocamos na capa a frase “Leitura para crianças inteligentes”, além da letra referente à história daquele livro, para mostrar que não são para ensinar a ler. Estamos relançando essa coleção nesta época para ser um presente. O livro é o único presente do mundo que vem com elogio.
Carolina – Desta versão para a original, sucesso na década de 90, quais foram as principais mudanças?
Ziraldo – Se você ver os livros de hoje, eles são dez vezes mais bonitos que os de 20 ou 30 anos atrás. Antes era fotolito, com as cores mais próximas possíveis do original. Hoje sai exatamente igual, perfeito! As histórias e desenhos continuam os mesmos. Mas claro que ninguém republica sem dar uma mexidinha. O livro é uma obra viva, sempre pode melhorar, nunca fica pronto. Então, fiz apenas algumas alterações.
Carolina – Conte-nos: de todos os títulos sobre o alfabeto, você tem algum preferido? Qual e por quê?
Ziraldo – Eu sempre achei letra algo mágico. Minha mãe me alfabetizou me ensinado que as letras tinham vida. Por exemplo, o X é um H com uma cintura bem apertada. Então, foi fácil transformar a letra em algo vivo. Além de dar vida à elas, eu gostei muito de trabalhar com a descoberta, sempre quero surpreender o leitor. E, para mim, a maior surpresa é a letra N. O N é a letra mais bonita de todas e casou com o número 8. Desse casamento nasceu a noite, que é a soma do “N” com “oito” em todas as línguas do mundo: noite, night (em inglês), noche (em espanhol), nuit (em francês) e por aí vai. N e 8 também são símbolos do infinito. Não é lindo?
Carolina – Como você vê a sua literatura para o público infantil atual? Eles ainda dão muito retorno?
Ziraldo – Dão, sim. As crianças brasileiras estão lendo cada vez mais. Isso se dá muito por conta dos professores. As escolas no meu tempo não tinham tanto comprometimento com livro. Hoje, há um esforço muito grande nas escolas brasileiras. Se as crianças não pegam o gosto pela leitura desde pequenas, não vão virar adultos leitores. Só se educa uma nação com leitura. Tem que ensinar a criança a ler e gostar de ler. E é isso que vejo as instituições de ensino fazendo hoje.
Carolina – Fale um pouco sobre Nino, o Menino de Saturno. Como surgiu a inspiração?
Ziraldo – Eu estou fazendo uma coleção de personagens que são crianças que habitam o sistema solar. O Nino é o menino de Saturno. Quem nasce em Saturno é saturnino, por isso, se chama Nino. Um dia as cores dos anéis de Saturno somem e ele tem que recolorir. Para isso, decide ir para o único planeta do Sistema Solar que tem cores: a Terra. O resto deles é monocromático. Aqui, ele conhece vários artistas, a exemplo de Picasso e Van Gohg, que mostram várias maneiras de recolorir os anéis com todas as cores que existem. A inspiração eu não sei te explicar. Acho que inventar deve ser uma deformação no cérebro, não é normal. E ainda bem que temos isso! Imagina se todos fossem normais? Não teria nada de novo para ver.
Carolina – Como foi o processo de produção da obra? Quanto tempo levou?
Ziraldo – Tem gente que nasce escritor e outros que decidem se tornar um. Os que nascem simplesmente escrevem o livro em uma sentada. Os que decidem precisam caprichar, parar em cada frase. O meu caso é o segundo, eu não nasci escritor. Então, faço tudo com o maior capricho. E tudo ao mesmo tempo: a história, o texto e o desenho. Às vezes, primeiro um, às vezes, o outro. Não tenho muito método, mas eu capricho bastante.
Carolina – Por que o livro promete fisgar os pequenos (e os maiores um pouco, claro!)?
Ziraldo – Não sei te dizer. Espero muito que fisgue mesmo.
Carolina – Vi que o enredo aborda a “necessidade” de Nino encontrar novas cores para os anéis do planeta. Flicts também é uma obra sobre cores, com outro tipo de mensagem na história, é claro. Há alguma relação entre os dois trabalhos?
Ziraldo – Eu acho que há sempre relação entre os trabalhos. O escritor, em geral, tem o universo dele, cria o mar dele e nada nas mesmas águas. Quando eu saio da Terra e vou para os Planetas, estou atrás de coisas que posso inventar, mas que eu conheço. Flicts e Nino são diferentes em relação à história e o uso das cores, mas, mesmo assim, estão de alguma forma ligados.
Carolina – Qual a previsão de lançamento dos últimos títulos da coleção?
Ziraldo – Já estou com os próximos três livros na cabeça. São 10, no total, e já escrevi sete deles. Agora faltam apenas Júpiter, Netuno e Plutão. Eu fiz um por ano para garantir mais 10 anos de vida (risos). Mas acho que quero lançar os próximos três em dois anos. Talvez comece uma nova obra depois.
Carolina – Quais são seus projetos futuros?
Ziraldo – Estamos fazendo o desenho animado do Saci Pererê, o longa-metragem de O Menino Maluquinho (desenho também) e o desenho do Bebê Maluquinho – programas de um minuto cada. Além disso, em dezembro teremos a Ópera do Menino Maluquinho, do Maestro Ernani Aguiar. É a primeira ópera brasileira para crianças. E para terminar, já estamos pensando em um filme sobre a namorada do Menino Maluquinho, chamada Julieta. É preciso fazer um filme infantil com uma garota como heroína. O resto é tudo garoto: Pedrinho, Peter Pan… Agora vamos fazer Uma menina chamada Julieta.
Carolina – Quais são as principais recompensas de escrever para o público infantil?
Ziraldo – O público infantil, quando te encontra, te abraça e te beija. Concordo com o Ignácio de Loyola Brandão, que sempre diz que queria começar a escrever para crianças só para receber o carinho que elas dão. Ser querido dá muita alegria para a gente.