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Patricia Lins e Silva

Por Patrícia Lins e Silva, pedagoga Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Educação

Estudantes de Educação Básica reparam um erro histórico

Entender os erros do passado evita que sejam repetidos

Por Patricia Lins e Silva Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
1 set 2022, 13h42
A figura central desta ilustração da sala de audiências de 1876 é geralmente identificada como Mary Walcott.
Sala de audiências, 1876, (Wikipedia/Divulgação)
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Em 1692, uma cidade norte-americana no estado de Massachussets tornou-se famosa pelos julgamentos de mulheres acusadas de bruxaria, episódio conhecido na História como As Bruxas de Salem.  É preciso levar em conta que a região era comandada pela Igreja Puritana e que a vida rural colonial era conturbada, com disputas com províncias vizinhas e medo dos ataques dos povos originários. Tudo começa quando algumas meninas locais apresentam problemas de saúde, com dores que as faziam se contorcer e gritar muito, e um médico atribui o mal a forças sobrenaturais. O pânico se instalou. Prenderam mais de 150 suspeitos de bruxarias, com 20 execuções. Dois cachorros foram condenados à morte, acusados de cúmplices das bruxas. Até uma menininha de 4 anos foi acusada e passou oito meses na cadeia.

Quando a caça às bruxas chegou à pequena cidade de Andover, onde vivia a jovem Elizabeth Johnson, de 22 anos, as mulheres acusadas tinham percebido que quem confessava culpa costumava ser poupado da morte. Elizabeth Johnson foi acusada, confessou culpa, o que não impediu sua condenação, mas a fez escapar da morte no último minuto por uma ordem do governador. A perseguição às bruxas termina com as condenações revistas e retiradas entre o final do século 17 e o início do século 18.

Hoje, o episódio das Bruxas de Salem é um exemplo de histeria coletiva nos estudos de Direito. Em 2001, um projeto de lei suspendeu a acusação de bruxaria de todas as mulheres executadas. Mas  a jovem Elizabeth Johnson não chegou a ser executada, o que, tecnicamente, a fez continuar como bruxa.

Em 2021 começa uma linda batalha de alguns estudantes para mudar a história de Elizabeth Johnson. Uma aluna da oitava série da escola pública de Andover, Arina E. Miller, propôs à sua turma repararem a injustiça sofrida por Johnson, pois embora tivesse sobrevivido e saído da prisão, ela permaneceu condenada como bruxa toda a vida. Morreu impotente, sem voz e sem descendentes para pedir em seu nome.

A turma encampou o desafio e partiu para o trabalho de pesquisa dos julgamentos das bruxas de Salem. Leram os processos, estudaram os direitos dos cidadãos, entenderam a importância de investigar a história e, mais relevante, deram voz a quem não a tem, seja no passado, presente ou futuro. Aprenderam o que foi a caça às bruxas e seu significado metafórico em episódios posteriores da história.

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Junto com sua professora procuraram uma senadora estadual e trabalharam com ela para enviar um projeto de lei à casa legislativa de Massachusetts e depois ao comitê judiciário. Os estudantes estavam determinados a obter o perdão para Johnson, dado pelo governador em exercício ou por uma emenda aprovada por lei do estado. Escreveram centenas de cartas e telefonaram para muita gente, explicando, advogando e conscientizando sobre a história de Johnson. Afinal, com a ajuda de alguns senadores, uma emenda entrou num projeto de lei e foi assinada e aprovada. Elizabeth Johnson estava absolvida graças àquela oitava série. Que orgulho saber que alunos tão jovens mudaram o passado para fazer justiça!

Alguns talvez perguntem qual a importância de absolver uma mulher que viveu há três séculos? Primeiro, sabemos que entender os erros do passado evita que sejam repetidos. Segundo, Elizabeth Johnson tinha uma situação precária porque era mulher, solteira e pária em sua comunidade. Defender sua causa é defender a necessidade de direitos iguais para todos e recusar que a classe social, o casamento, o gênero ou qualquer outra identidade de uma pessoa seja motivo para negar seus direitos e que, numa sociedade, todas as vozes podem e devem ser ouvidas. Os alunos puderam fazer uma relação direta com o momento atual em que os direitos das mulheres ainda são desafiados, as pessoas vistas como diferentes são perseguidas e o estado laico é questionado.

Professores que acreditam que seus alunos, mesmo que jovens,  conseguem se empenhar em resolver problemas sérios e relevantes, inspiram a ação, o estudo e a dedicação dos alunos, que se sentem (e são) capazes de descobrir e inventar soluções necessárias.

O esforço e a tenacidade da oitava série da escola de Andover faz confiar que as novas gerações vão conseguir construir um futuro melhor.

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