Consegue visualizar o que são 7 milhões de flores desabrochando ao mesmo tempo? Pois é isso mesmo que o parque Keukenhof, também conhecido como Jardim das Tulipas, nos arredores de Amsterdã, oferece para os seus visitantes a partir do próximo dia 21. E prepare-se para mais um número de cair o queixo: essas flores estão espalhadas por uma área 32 hectares. Isso quer dizer que são 320 mil metros quadrados. São tantos metros que nem vale a pena fazer aquela clássica comparação com campos de futebol. É coisa à beça.
Claro que estamos falando das tulipas, a flor símbolo da Holanda. Logo no início da primavera europeia ela vive seu ápice e o Keukenhof , maior jardim de flores do mundo, se prepara para receber milhares de visitantes entre 21 de março e 10 de maio. A busca pela selfie perfeita lá no parque pode acontecer a pé, de barco ou de bicicleta – bem holandês, né?
Bom, tudo isso acontece lindamente na Europa. Nós estamos aqui às vésperas do nosso outono fake carioca e com o euro nas alturas. Tem jeito de ver tulipas por aqui? Tem, sim! Pela imensa diferença climática de seus locais de origem, a produção aqui no Brasil é complexa, mas origina flores muito belas. Alguns produtores importam bulbos diretamente da Holanda para que a tulipa dê o ar de sua graça por aqui. Entre eles está a Planten, um sítio que fica em Holambra (SP) e produz também dálias e peônias, outras raridades em terras tropicais.
Produção no Brasil o ano todo
Desde 1999 a Planten produz tulipas durante o ano inteiro. Isso só é possível graças a um processo bem específico pelo qual os bulbos passam, como explica Anna Schouten, uma das proprietárias do sítio. “Antes de chegarem aqui eles passam por um tratamento térmico para a formação da flor. Quando chegam ao Brasil, os bulbos são plantados em caixas e armazenados em local refrigerado para frear o seu desenvolvimento. Dessa forma conseguimos ter uma produção de tulipas o ano todo. E conforme a demanda do mercado, essas caixas são transferidas para o ambiente de cultivo, onde se desenvolvem para a colheita. Esse ciclo dura em torno de cinco semanas”.
As tulipas da Planten são comercializadas com exclusividade pela Cooperflora, uma das maiores cooperativas de produtores florais do Brasil, que faz a ponte entre as plantações e os revendedores. Chegam no Rio como flor de corte através de representantes oficiais, que trabalham no Cadeg. Já a versão plantada em vasos é encontrada em supermercados e gardens.
O sonho da tulipa própria
A flor é bem sensível, principalmente a tulipa de corte usada para compor arranjos e buquês e encontrada em algumas floriculturas mais especializadas. Aqui, as atenções básicas para manter arranjos de flores vivos por mais tempos devem ser redobradas: mantê-los em ambiente bem fresco, longe da luz direta do sol, cortar a ponta das hastes e trocar a água todos os dias, usando sempre água gelada. Para a versão plantada, vale o mesmo cuidado de manter em local fresco e longe do sol, com o substrato sempre úmido, mas não encharcado para não apodrecer a raiz.
Claro que a flor plantada tem a durabilidade maior que a versão de corte. Mas ainda assim, não é daquelas plantinhas que você terá por muito tempo e que dará mudas com floração anual. “Aqui no Brasil é inviável com o nosso clima. Do bulbo velho nascem pequenos bulbinhos. Para florescerem, eles precisariam crescer até o tamanho do bulbo mãe, para então depois passarem por um tratamento térmico e produzir a flor. Não é algo que acontece naturalmente. Os campos de tulipa na Holanda são exatamente para este processo todo que dará origem a novas floradas”, explica Anna.
Ao mesmo tempo que é uma pena, parece que conhecer todo esse complexo caminho da floração torna as tulipas ainda mais especiais!
De onde veio?
Tem algumas histórias legais para a origem da palavra tulipa. Em uma das versões ela é derivada das palavra turca tulbend, que significa turbante, objeto com o qual a flor se assemelha. Uma outra teoria é de que os homens do Império Otomano carregavam tulipas em seus turbantes e por isso as flores teriam ganhado esse nome.
Ela tem origem na Ásia Central e na Turquia. Foi levada até a Holanda no século XVI e ficou muito popular por lá no século XVII. Muito popular mesmo! A flor chegou a valer mais do que ouro, tornou-se símbolo da riqueza. Este hype ficou conhecido como “febre das tulipas”, e o filme “Amor e Tulipas”, do diretor Justin Chadwick conta um pouco dessa história. Fica a dica para quiser ter um fim de semana mais florido, o filme está na Netflix!
Paula Pizzi é jornalista e florista à frente da Petalis Flores. Acredita que a beleza, o amor e a leveza das flores e plantas são capazes de transformar ambientes, relações, humores e vidas.