DiscoZeca: uma festa para Ezequiel Neves
Ezequiel Neves (1935-2010) aproveitou do jeito que quis seus 74 anos, quatro meses e 23 dias de vida. Ensaiou uns passos como ator, em São Paulo, no Teatro Brasileiro de Comédia, foi um pioneiro da crítica de rock no Brasil, passou-se para a produção musical (entre outros trabalhos, foi um dos responsáveis pelo surgimento […]
Ezequiel Neves (1935-2010) aproveitou do jeito que quis seus 74 anos, quatro meses e 23 dias de vida. Ensaiou uns passos como ator, em São Paulo, no Teatro Brasileiro de Comédia, foi um pioneiro da crítica de rock no Brasil, passou-se para a produção musical (entre outros trabalhos, foi um dos responsáveis pelo surgimento do Barão Vermelho) e tornou-se compositor, gravado por uma turma enorme, que vai de Luiz Melodia a Arnaldo Antunes, passando por Ney Matogrosso Rita Lee, Cazuza e o próprio Barão. Amigo dessa tremenda figura, Guto Goffi, baterista do Barão e dono da escola de música Maracatu Brasil, em Laranjeiras, herdou parte da gorda coleção de Zeca Jagger, como Ezequiel era conhecido. Em agosto do ano passado, Guto descobriu uma maneira de tirar os discos do fundo do armário e homenagear o parceiro: a DiscoZeca, que volta a acontecer na próxima sexta, dia 6 de junho.
No começo funcionava assim: um músico convidado, além de se apresentar ao vivo, assumia os pickups e botava os presentes para dançar usando os álbuns da coleção de Ezequiel. A coisa cresceu, no bom sentido – a festa ganhou DJ residente e atrações musicais variadas. Na próxima sexta (6/6), Peninha, percussionista do Barão, comanda o som latino da banda Gungala às 21h30. Antes, às 19h30, o público presente vai assistir à apresentação inédita de um trio de baixistas, formado por Pedro Peres, João Gravina e Jorge Albuquerque. E depois, a partir das 23h, o repertório fica aos cuidados do quarteto do baterista Wilson Meirelles, atração residente.
A parte da coleção de Zeca Jagger confiada a Guto Goffi gira em torno de 1.700 LPs, hoje somados a exemplares doados e outros pertencentes ao próprio baterista do Barão. “Estamos com cerca de 2.200 discos, que a galera encontra listados num catálogo e pode pedir para o DJ tocar”, conta Goffi. “O Zeca era fissurado por Stones, Miles Davis e Nina Simone. Na coleção dele tem dezenas de coisas boas e raridades desses três, mas tem música brasileira, muito mais. Como crítico e produtor, ele ganhava muitos discos. Jogava muitos fora também. Ele gostava de fazer o que chamava de lançamento nacional, alguns voaram pela janela mesmo”, lembra.
Aberta e gratuita, com bebes à venda na Cantina da Zeza, a festa também celebra feras da percussão. Peninha é o próximo homenageado na calçada da fama local. Já ganharam a placa em forma de prato de bateria, entre outros, Robertinho Silva, Wilson das Neves, Oscar Bolão e Mestre Odilon. “Outro dia apareceu por lá um casal que trabalhou com o Ezequiel no Jornal da Tarde, em São Paulo, a primeira redação em que ele entrou. Eles ficaram emocionados de encontrar o armário com os discos dele, além de um disco de platina do álbum O Tempo Não Pára, do Cazuza, que o Zeca recebeu como produtor. No final das contas, acho que fizemos uma festa legal e uma bela homenagem a ele”, conta Guto.