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Teatro de Revista

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Espetáculos, personagens, bastidores e tudo mais sobre o que acontece na cena teatral carioca, pelo olhar do crítico da Veja Rio

Charles Möeller fala sobre os musicais premiados no Tony 2013

Apaixonado pelo Tony Awards, a mais importante láurea do teatro americano, o diretor de musicais Charles Möeller acompanha a cerimônia há anos — e já conferiu pessoalmente a entrega dos prêmios em três ocasiões. Na última edição, realizada no domingo passado, ele fez praticamente uma cobertura ao vivo: em seu perfil no Facebook, brotavam a cada minuto […]

Por rafaelteixeira
Atualizado em 25 fev 2017, 19h05 - Publicado em 12 jun 2013, 21h44
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Apaixonado pelo Tony Awards, a mais importante láurea do teatro americano, o diretor de musicais Charles Möeller acompanha a cerimônia há anos — e já conferiu pessoalmente a entrega dos prêmios em três ocasiões. Na última edição, realizada no domingo passado, ele fez praticamente uma cobertura ao vivo: em seu perfil no Facebook, brotavam a cada minuto comentários sobre o que rolava no Radio City Music Hall, em Nova York. A convite de VEJA RIO, Möeller analisou o prêmio de forma mais detalhada, comentando mais especificamente a área na qual é especialista: a o dos musicais. Vale lembrar que, nessa categoria, Kinky Boots foi o grande vencedor, com seis estatuetas, ficando a frente de Matilda (o preferido de Möeller), com quatro  (confira todos os vencedores aqui). Além dos dois espetáculos, o diretor falou também sobre Pippin, premiado como o melhor revival de musical, que ele e Claudio Botelho vão montar em breve no Brasil (conforme antecipou o blog, veja aqui).

O prêmio Tony, mais famoso do teatro musical americano, realmente pontua a temporada. Podemos ter sempre um panorama do que do que foi o ano e pra onde a indústria está caminhando. A premiação em si já é um grande espetáculo, pois o que acontece no palco do Radio City Music Hall representa o melhor da comunidade teatral americana! Gosto de estar em Nova York para assistir à premiação. É um deslumbre de produção e organização, e a engenharia por trás de tudo é fascinante. Tudo acontece magicamente na sua frente, sem deslizes ou erros. É de tirar o chapéu e o fôlego, desde os roteiros elaboradíssimos aos apresentadores sempre geniais, passando pelos ensaios milimetricamente cronometrados para que todos os elencos em cartaz e convidados estejam reunidos no maior espetáculo da Terra, em total integração! E é impressionante como tudo dá certo. E o melhor: eles ainda riem deles mesmos, todos realmente se divertem muito na festa, é uma celebração da indústria do entretenimento musical e do teatro.

Em matéria de novidades, este ano, o 67º do prêmio, foi o mais fraco dos últimos tempos, mas foi fortíssimo de revivals. O teatro musical é uma arte por excelência criada pelos americanos. Desde o seu híbrido começo com a opereta até hoje, eles são os maiores criadores e fomentadores do gênero no mundo, e por isso mesmo faz sentido premiar os revivals. Esta categoria significa a chance de manter o gênero sempre vivo, se redescobrindo, se reinventando. O que hoje está estreando daqui a vinte anos poderá ser recriado. É uma fábrica de criar e recriar clássicos. Pippin (vencedor como melhor revival de musical) é um acerto de contas com Stephen Schwartz – mesmo compositor do maior fenômeno de bilheteria deles, Wicked, que completou uma década neste ano e perdeu o Tony de melhor musical para o adorável Avenida Q, o maior azarão de todos os tempos. Tentaram esse acerto no ano passado, com um tímido e desastrado Godspell, também de Schwartz, e neste ano vieram com tudo, pois Diane Paulus (diretora do musical, que ganhou o prêmio em sua categoria) fez com Pippin o que havia feito com Hair e Porgy and Bess: desconstruiu para reinventar um clássico.

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Sempre vi a Broadway, e isso inclui os off e os off-off, como um reflexo da sociedade, e o prêmio Tony é um Narciso refletido: foi criado em 1947 só pra premiar produtores, em 1949 ampliou sua lista de indicados e, desde 1967, é transmitido pela TV, e a cidade literalmente para! Os brasileiros generalizam muito quando falam de Broadway, colocam Cole Porter e Disney no mesmo saco. A Broadway é o mundo, é uma torre de Babel, falam-se todas as línguas nesse complexo de esquinas e avenidas em que o entretenimento anda de mãos dadas com o experimentalismo, e coexistem todas as tendências e todas as diferenças, lado a lado, todos os dias! O Tony é mais do que um prêmio, é a historia desse organismo vivo e mutante em uma única noite! É só refletir sobre as últimas recentes vitórias: O Despertar da Primavera ganhou em um momento em que a Broadway precisava valorizar o off, frequentado pelos americanos, e reconquistar os jovens, trazer de novo a juventude americana para as bilheterias. In the Heighs jogava luz na comunidade latina, cada vez maior e mais expressiva, conquistando sua pseudoigualdade graças à crise americana – tanto que, um ano depois, West Side Story ganhou uma versão com os latinos falando sua língua de origem. Fela não ganhou, mas abriu as portas para os africanos, movimento que começou disfarçadamente em O Rei Leão, e consolidou os all black casts. Em Once, o minimalismo da montagem refletia importância de premiar pequenas produções numa América economicamente abalada, além do olhar carinhoso para o imigrante, o músico de rua que é incentivado pela imigrante ilegal a nunca desistir dos seus sonhos.

Assim, apesar de achar Kinky Boots (o grande vencedor entre os musicais da noite, com seis estatuetas, incluindo a de melhor musical) um musical fraco, e Matilda (que levou quatro prêmios) ser muito melhor (os dois são baseados em filmes, tendência mais do que estabelecida), o primeiro tinha atributos que os americanos amam: ressuscitar um ídolo pop como Cyndi Lauper (vencedora do prêmio pela trilha do espetáculo), que já estava em todos os reality shows a preço de banana. E o tema da tolerância abordado no musical é mais do que propício, já que a reeleição de Barack Obama e sua campanha foi sempre por uma sociedade mais moderna, a favor dos direitos civis dos gays, incluindo casamento, adoção… Não acho que seja só um reflexo de uma América mais tolerante ou questão de humanidade evoluída, acho que estamos falando de um segmento gigantesco com poder aquisitivo cada vez maior e, por isso, cada vez mais retratados, inclusive na TV americana. O que mantém a TV? Anunciantes! Os gays são consumidores vorazes, querem ser retratados ou identificados no contexto social. Do mestre de cerimônias da noite (e também dos últimos anos), o fora-do-armário e genial Neil Patrick Harris – em um dos melhores números de abertura que já vi – à participação de Mike Tyson, já se previa que seria um ano no qual se olharia pra minorias. Que, diga-se, não são mais minorias: duas mulheres venceram na categoria Direção (Diane Paulus, por Pippin, e Pam Mac Kinnon, por Quem Tem Medo de Virginia Woolf?), atores negros levando em três das quatro categorias para papéis principais (Cicely Tyson, atriz em peça, por The Trip to Bountiful, Billy Porter, ator em musical, por Kinky Boots, e Patina Miller, atriz em musical, por Pippin), três musicais protagonizados por crianças. Kinky Boots conta a história de uma fábrica de sapatos falida, que é salva graças a um negro, gay, pobre, operário e drag, que vira sócio do tímido herdeiro branco, hétero e bege. É claro que é mais forte como reflexo social, como marcação de território nesse momento político. Mas Matilda (O Despertar da Primavera com crianças) é um musical muito melhor!

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