Uma conversa com Rodrigo Sant’anna sobre o monólogo Lotação Esgotada
Conhecido pelo papel do travesti Valéria, do programa Zorra Total, o comediante Rodrigo Sant’anna estreou nesta semana, no Teatro do Leblon, o monólogo Lotação Esgotada. Com direção de Moacyr Góes, o espetáculo é uma montagem de Fully Committed, sucesso escrito pela dramaturga, atriz e produtora de TV americana Becky Mode, que estreou na Broadway em 2000. […]
Conhecido pelo papel do travesti Valéria, do programa Zorra Total, o comediante Rodrigo Sant’anna estreou nesta semana, no Teatro do Leblon, o monólogo Lotação Esgotada. Com direção de Moacyr Góes, o espetáculo é uma montagem de Fully Committed, sucesso escrito pela dramaturga, atriz e produtora de TV americana Becky Mode, que estreou na Broadway em 2000. A história tem como protagonista o atendente de telefone de um concorridíssimo restaurante. Sozinho em cena, Sant’anna vive, além do funcionário, outros dezessete personagens, de clientes a outros empregados do restaurante, passando por seu patrão. O ator conversou com o blog sobre a peça. Confiram.
Como o texto chegou até você, e por que resolveu montá-lo?
O Wilson Rodriguez, um dos sócios do Teatro do Leblon, assistiu à montagem lá fora, gostou muito, comentou com o Moacyr, e perguntou a ele qual ator poderia fazer este texto. E o Moacyr sugeriu meu nome. Fizemos uma leitura, e inicialmente fiquei um pouco receoso, porque achei a situação daquele personagem muito distante da nossa. Mas, com o tempo e os ensaios, percebi que aquele personagem é tão humano, a situação que ele vive poderia ser perfeitamente a de um atendente de uma loja de departamentos brasileira.
Que mudanças foram feitas no texto de forma a torná-lo mais familiar para o público brasileiro?
Os personagens do texto original americano foram substituídas por personagens daqui, nossas modelos famosas, socialites, e até contraventores, e os lugares citados, por lugares brasileiros. Um cara atendendo às ligações telefônicas para reservas de um restaurante é muito parecido ao mais comum dos atendentes de telemarketing, uma situação universal. Não tivemos muitas preocupações quanto a isso, basicamente ambientamos no Brasil.
Você já havia trabalhado com o Moacyr Góes. O que o motivou a repetir a parceria?
Nem chego a considerar que trabalhamos juntos. Foi numa montagem da ópera A Flauta Mágica, e minha participação era bem pequena, nem pude aproveitá-lo como diretor. Queria trabalhar com ele num projeto em que houvesse realmente uma troca, e esta é a primeira oportunidade.
Qual foi contribuição do Moacyr neste espetáculo?
Trabalhando num monólogo de uma hora de duração, chega um momento em que não sabemos mais o que é contribuição minha e o que é do Moacyr. Foi uma construção que veio acontecendo, aos poucos, o Moacyr está ali em vários momentos. Ele foi muito generoso, respeitou muito meu tempo de humor, e se diluiu ao longo do espetáculo, sem forçar a sua marca.
Para quem se acostumou a atuar em textos próprios, como está sendo a experiência de estrelar uma peça escrita por outro autor?
Na verdade, esta não é minha preocupação. Não precisa ser um texto meu, precisa ser um bom texto. E, com a adaptação que fizemos, fomos moldando o texto do nosso jeito, tivemos a possibilidade de trazer para nossa realidade, a realidade brasileira.
Como é o trabalho de viver tantos personagens em uma mesma peça?
O maior desafio é a memorização dos registros de cada personagem. Por exemplo, no primeiro ensaio aberto, de repente me esqueci da voz de um dos personagens, e tive que colocar uma outra em cima da hora, e precisei sustentá-la até o final da peça. Neste tipo de trabalho, o que identifica cada personagem para o público é o seu registro vocal e os seus trejeitos, que tem que estar bem afiados, para eu acessar rapidamente e o público por sua vez identificar rapidamente. Tenho que eleger uma ação ou atitude bem definidas e que caraterizam cada personagem, e acessar dentro de mim imediatamente. E isso só na prática, tenho que estar muito bem ensaiado para entrar e sair destes registros. A respiração também é muito importante, para que eu consiga fazer as quebras de ritmo de um personagem muito acelerado para outro que tem o ritmo mais lento, por exemplo.