Por Marcelo Copello
Os amigos sabem que não sou monoteísta. Adoro o vinho e o deus Baco, mas nas horas vagas também faço minhas rezas para os deuses da cerveja (que são muitos).
Gosto muito por exemplo de tomar um (único) copo de cerveja antes de uma refeição regada a vinho. O saudoso amigo Saul Gavão chamaria isso de “lavar a serpentina”.
A origem da cerveja se confunde com a do pão, sendo impossível determinar com exatidão. Remonta a 7 ou 8 mil anos. Na Antigüidade, descobriu-se que mastigando o trigo e deixando-o secar ao sol formava-se uma massa que poderia ser guardada para ser consumida no inverno. Esta massa foi molhada por acaso e, por isso, fermentou naturalmente. A cerveja é, então, um pão que tomou chuva.
Enumero aqui 7 dicas de como melhor consumir este “pão” nosso de cada dia:
1-Copos: devem ser transparentes, de vidro fino, para que se possa apreciar o líquido dourado. O melhor formato é o ovalado e alongado, para reter os aromas e ajudar a boa formação da espuma, e com base e haste, para evitar que o líquido esquente com o contato das mãos. Gelar o copo é uma boa prática. Convém, contudo, molhar seu interior depois de gelado, assim as paredes ficarão lisas e deixarão o líquido descer macio.
2 –Temperatura: nós, brasileiros, temos por hábito beber a cerveja gelada demais. Mas se a loura estiver ‘estupidamente gelada’, prejudicará tanto a formação da espuma, quanto irá adormecer as papilas gustativas. O ideal seria quanto mais leve mais gelada, ou quanto mais encorpada menos gelada, por exemplo:
– De 0ºC a 4ºC – Eu particularmente não gosto de nenhuma cerveja nesta temperatura, pois máscara muito os sabores. Portando sugiro usar apenas para as muito leves, o Chopp, as cervejas Pale Lager mais simples, como as grandes marcas brasileiras.
– De 4ºC a 8ºC – Ideal para as de leve a médio corpo, como as Premium Lager, Dark Lager, Weiss (de trigo), Pilsner, e as com sabores de frutas.
– De 8ºC a 12ºC – as encorpadas, de alta fermentação, as Ale, Porter e Lagers escuras, Weiss escuras,
– De 12ºC a 14ºC – as especiais ou muito fortes, amargas, cervejas de inverno, como as Bitter ou Premium Bitter, Brown Ale, Pale Ale, Sout e Bock.
– Acima de 14ºC prefiro tomar apenas cervejas muito específicas, quando sugerido pelo produtor e analisadas caso a caso.
3-Espuma: tomar cerveja sem colarinho é heresia. A alma desta bebida está representada em sua espuma. Dois dedos é o ideal para reter os aromas e evitar a liberação do gás.
4-Visual: avalia-se pureza, cristalinidade e coloração. Se está brilhante ou turva, se há partículas em suspensão. A cor vai de louríssima a preta.
5-Aroma: para avaliá-lo, agite o líquido no copo. Aproxime lentamente do nariz para sentir o odor numa distância maior e em seguida mais próximo. Os aromas característicos lembram malte e lúpulo, matérias-primas da fabricação da cervejas. Podem ser notados muitos outros, como frutas e caramelo.
6-Sabor: quanto mais jovem for consumida, melhor será seu sabor. Na boca, se verifica o equilíbrio, corpo, acidez, doçura, amargor e teor alcoólico, que devem ser harmônicos – o que chamamos de ‘descer redondo’. O teor de gás deve passar uma sensação refrescante e picante na língua. O amargor, provocado pela adição do lúpulo ao mosto, deve ser perceptível, mas agradável.
7-Conservação: este é o problema das importadas. Cervejas viajam mal, sofrem com o calor e com o chacoalhar. As garrafas devem ser guardadas de pé, em lugar escuro e fresco, fora da geladeira. Depois de geladas, devem ser consumidas. Nunca as coloque direto no freezer, pois a violência do congelamento acabará com o ciclo da bebida.
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