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O brilho de Ipanema e o apogeu dos peixes marcam a gastronomia em 2022

Bairro ensolarado da Zona Sul voltou a ditar a moda nas mesas, em ano com recorde de inaugurações e muitos cardápios dedicados aos frutos do mar

Por Pedro Landim
29 dez 2022, 12h02
Da horta à mesa: o frescor da matéria-prima dita o cardápio -
Lasai: da horta à mesa com tecnologia a apenas 10 comensais no balcão da cozinha (Tomas Rangel/Divulgação)
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Se 2022 fosse um prato, certamente seria de peixe. No forno, na grelha ou cru, marinado ou mesmo curado por muitos dias antes do serviço. De preferência, perto do mar de Ipanema. Foi o ano onde o bairro de histórica influência cultural na cidade renasceu para a gastronomia. E os restaurantes e bares, sobretudo estes, descobriram bons caminhos na direção dos pescadores, dedicando-se a obter produtos mais frescos para a criação de pratos e petiscos dedicados aos frutos do mar.

+ Ipanema de garfo e faca: restaurantes de peso chegam ao bairro em 2023

Das manjubinhas fritas aos crudos de pescados do dia, a festa ocorre do novíssimo Dias, gastrobar praiano no Leblon, ao cardápio de inspiração baiana do Dois de Fevereiro, no Largo da Prainha. Louvamos também o sucesso e a variedade de estabelecimentos como a pequena Boutique do Mar, na Gávea, a Polpo Taberna do Leblon, e o empolgante Labuta Mar, de Lucio Vieira – chef do ano no Veja Rio COMER & BEBER -, que teve curta carreira em Copacabana e está de mudança para a Glória.

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Dias: bar chegou no fim do ano coroando os frutos do mar (/Vini Bordalo/Divulgação)

Ainda sobre embarcações, foi notícia aplaudida a reforma do Haru Sushi, estabelecimento querido pelos admiradores da culinária japonesa tradicional, que abriu salão bonito e confortável e levou o serviço de suas iguarias a outro patamar em Copacabana. E o chef Gerônimo Athuel deixou clientes e críticos de boca aberta ao inaugurar em sua casa o Ocyá, na Ilha Primeira, na Barra da Tijuca. É um restaurante onde matura em câmeras frias os peixes que ele mesmo pesca, criando um repertório instigante de sabores marítimos num endereço onde se chega de barco.

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Ocyá: Gerônimo Athuel encantou com o trabalho sobre peixes maturados
Ocyá: Gerônimo Athuel encantou com o trabalho sobre peixes maturados (/Rodrigo Azevedo/Reprodução)

Navegando de volta à Zona Sul, ao bairro onde Tom e Vinicius compuseram uma canção de sucesso planetário em homenagem à certa garota a caminho do mar, encontramos muitas novidades. No espaço de um semestre, abriram em Ipanema casas como o francês Bisou Bisou, o espanhol Izär e o italiano Nino Cucina, direto de São Paulo. Vindas de outras freguesias, aportaram na região casas como o Didier, do chef bretão Didier Labbé, e a premiada pizzaria Ferro e Farinha. Todas elas ocupando imóveis do antigo casario do bairro, reformados com esmero e atenção ao ambiente, à composição do cenário como ponto de crescente importância no conjunto da experiência.

Izär
Izär: paellas do chef Pepe López no espanhol de Ipanema (Tomás Rangel/Divulgação)
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Entra para o time dos destaques o Gajos D’Ouro, que se mudou e abriu as portas, no período natalino, em casa histórica da Rua Aníbal de Mendonça, atualizando o ambiente sui generis do saudoso Antiquarius, do qual é legítimo herdeiro. A nota triste vem do Bazzar, que encerrou as atividades depois de 24 anos de ótimos serviços prestados em garfos e taças ao bairro e à cidade.

Chanchada: berinjela na coalhada e sanduba de peixe acabam de chegar
Chanchada: berinjela na coalhada e sanduba de peixe acabam de chegar (/Vini Bordalo/Reprodução)

Partindo em direção à Baía de Guanabara, das mesas mais requintadas aos tira-gostos tratados com atenção especial, foi o ano de notável “upgrade” no chamado Baixo Botafogo. Não nos deixa mentir o sucesso estrondoso do boteco Chanchada, muito bem planejado pelo chef Bruno Katz, em sociedade com a turma dona de bares como o vizinho Quartinho. E a chegada triunfal do Belisco, um bar de vinhos com qualidade gastronômica e de garrafas como há muito não se via, obra da chef Monique Gabiatti em parceria com a sommelière Gabi Teixeira.

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Belisco: bar tem cerca de 30 rótulos servidos em taça (//Divulgação)
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Na alta gastronomia carioca, foram igualmente consideráveis os movimentos de evolução. O chef Alberto Landgraf colocou pela primeira vez o Rio na lista dos 50 melhores restaurantes do mundo, com o Oteque aparecendo na 47ª posição no prestigiado The World’s 50 Best. O chef Rafa Costa e Silva, por sua vez, levou seu Lasai a novo endereço que atende 10 pessoas por noite, no balcão da cozinha, em modelo inédito de serviço. E Claude Troisgros, um ídolo de todos, retornou à esfera do “fine dining” com a Mesa do Lado, uma experiência de gastronomia com música e projeções a cargo do artista Batman Zavareze – algo diferente de tudo que já havia sido feito num restaurante.

Mesa do Lado
Claude Troisgros: chef criou experiência de sabores, sons e projeções (Tomas Rangel/Divulgação)

Ganha menção honrosa e grandes expectativas a ascensão do chef Rafa Gomes. Com restaurante em Paris e conhecido pelas performances campeãs em realities culinários, ele mostrou face animadora de seu trabalho autoral no restaurante Tiara, recém-aberto no shopping Rio Design Leblon, pouco depois de ter levado seu Itacoa para o mesmo centro comercial.

Padella
Padella: caneloni do chef Nelo Garaventa forma filas na porta em Botafogo (Rodrigo Azevedo/Divulgação)
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Não há como falar em sair para comer fora no Rio sem passar pelos italianos, e a boa notícia do ano é que o Grado, quatro vezes campeão do Veja Rio COMER & BEBER, deu cria: o Padella é sucesso absoluto na saborosa rua Conde de Irajá, tendo à frente o casal-dupla-dinâmica formado pelo chef Nelo Garaventa e a designer e gerente Lara Atamian. Na Barra, o imenso imóvel que abrigou o Gero em épocas passadas foi reformado com requinte transbordante para a inauguração do Casa Tua Cucina, onde come-se muito bem com a presença constante de Atagerdes Alves, por décadas o braço forte de Rogério Fasano nos salões, e agora restaurateur dedicado, em sociedade com o empresário Alexandre Accioly.

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Bar do Momo: botequim da Tijuca virou Patrimônio Cultural (Tomás Rangel/Divulgação)

Tradição? Temos. O prefeito Eduardo Paes chegou com a caneta alegre para declarar novos patrimônios culturais, e a plaquinha azul ganhou a parede de bares como o Galeto Sat’s e o Bar do Momo, além da setentona Churrascaria Palace. Na lista dos endereços que fizeram história, a volta do Cervantes merece um brinde entre sanduíches de pernil, agora sob a regência do empresário cearense Antônio Rodrigues, criador da rede Belmonte.

Bocca del Capo
Negroni: versão negra do Bocca del Capo leva uísque defumado (Tomás Rangel/Divulgação)
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Na área da coquetelaria, não se pode dizer que o negroni é uma novidade, longe disso, mas a paixão pela criação italiana aumentou e foi possível encontrar diferentes versões do drinque em cada bar, e até mesmo cartas em sua homenagem, como é o caso do novo Bocca del Capo, no Leblon.

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De sobremesa, entre os tantos artigos de confeitaria que encantam os cariocas – sim, gostamos, e muito, de um docinho -, foi a vez de um redondo notável chamado choux. A massa leve e recheada do clássico francês conquistou a vitrine de empórios e padarias, atingindo seu melhor momento em pequena loja que é um verdadeiro achado em Copacabana: a Le Wilt, de Adriana e Solange Wiltgen. Um trabalho digno de joalheria dedicado a delicadezas capazes de fazer da hora do café o momento principal do dia.

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Le Wilt: o choux como o Rio não tinha ainda visto (//Reprodução)

Depois do vendaval dos momentos de pico da pandemia, o ano de 2022 foi de brindes em sequência a cada nova inauguração, e o setor da restauração conseguiu recuperar metade dos empregos perdidos, segundo dados do Sindicato de Bares e Restaurantes (SindRio). Que 2023 traga consciência e consistência a um cenário que poucas vezes acenou com tantas alegrias ao redor das mesas.

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