O Rio que respira: bem-estar vira verbo na cidade que sempre correu
No meio da pressa do Rio, nasce um desejo novo: desacelerar. Assim surgem práticas como o Wellness Day no Fairmont — um convite pra simplesmente respirar.

Numa cidade onde tudo parece sempre urgente — o trânsito, os boletos, a violência, a beleza —, é curioso perceber o surgimento de uma nova urgência: a de parar.Sim, parar. Respirar. Sentir. Cuidar. Num Rio de Janeiro que sempre se vendeu pela imagem da euforia, da praia cheia, do corpo esculpido, uma nova paisagem começa a surgir silenciosamente: a dos corpos em silêncio. A dos olhos fechados. A dos pés descalços em cima de um tapetinho, cercados pelo verde, em lugares onde antes só se imaginava festa, luxo ou performance. É o movimento do wellness, que há anos tem força em cidades como Nova York, Londres, Bali e Tulum, e que agora parece fincar raízes — de verdade — no Rio.
Mas aqui, claro, com o nosso sotaque. Um bem-estar que não precisa de poses nem filtros, mas que brota de um desejo cada vez mais coletivo de se reconectar com o essencial. É o luxo de estar em paz. Mesmo que por algumas horas.
Não é à toa que hotéis cinco estrelas, como o Fairmont Copacabana, já estejam abrindo espaço em suas programações para manhãs inteiras dedicadas à experiência do silêncio, da respiração e do corpo presente. E eu mesma fui convidada a conduzir a prática de yoga do Wellness Day, um evento que o hotel realiza agora no dia 12 de julho, com meditação, sound healing e outras vivências voltadas para o autocuidado. Tudo isso numa manhã que começa cedo, e termina só depois que a alma se ajeita no corpo.

Participar desse tipo de encontro é sempre especial. Mas o mais interessante é perceber o que ele representa. Eventos como esse mostram que o bem-estar deixou de ser visto como algo alternativo ou reservado a pequenos grupos. Ele se tornou um valor — e um posicionamento. O wellness agora faz parte do planejamento estratégico de grandes empresas, hotéis, marcas. Não porque está na moda, mas porque está fazendo sentido. O luxo contemporâneo deixou de ser só conforto externo. Virou experiência interna.
Segundo Netto Moreira, diretor do Fairmont, “a ideia é oferecer experiências que se conectem com o que as pessoas realmente precisam hoje: momentos de verdade, de presença, de pausa”. E de fato, cada vez mais gente tem procurado exatamente isso. Não mais uma vida perfeita, mas uma vida que faça sentido. Onde haja espaço para desacelerar.

Essa nova onda de práticas que envolvem yoga, respiração, alimentação consciente e contato com a natureza não está chegando ao Rio como um pacote importado, mas como um reencontro com o que sempre esteve aqui. Afinal, somos uma cidade que pulsa com sol, vento, mar, verde. A diferença agora é que estamos aprendendo a ouvir tudo isso.
Recentemente, estive num desses encontros, num prédio com vista para o mato, cercada de árvores e silêncio. Um lugar que poderia muito bem servir de cenário para uma reunião de negócios ou um brunch sofisticado. Mas ali, naquele momento, éramos apenas corpos em pausa. Vi mulheres de todas as idades chorando, rindo, se olhando com ternura. E percebi que não é sobre a técnica ou o nome da prática. É sobre o espaço que isso tudo abre dentro da gente.
É impressionante como, depois de uma prática de yoga ou meditação, quase sempre ouço a mesma coisa: “Por que eu não fiz isso antes?”. E o mais bonito é ver que essa pergunta vem de um lugar profundo. Um tipo de reencontro com o que estava esquecido. Uma permissão. A prática, no fundo, é só a chave. O que se abre é muito maior.
O Rio está, finalmente, aprendendo a respirar. E talvez seja isso que vá salvá-lo.