Esquinas do Esporte

Por Alexandre Carauta, jornalista e professor da PUC-Rio Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Pelos caminhos entre esporte, bem-estar e cidadania
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É preciso ouvir o doce chamado do outono

Temperaturas e luzes suavizadas convidam ao playground a céu aberto, mas hábito esportivo ainda enfrenta barreiras crônicas de inclusão

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Atualizado em 4 abr 2024, 19h51 - Publicado em 4 abr 2024, 18h59
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  • O outono chama. Temperaturas e luzes suavizadas convidam a caminhar, correr, pedalar.

    A estação resplandece o pendor carioca para sacudir o esqueleto. Da altinha ao eterno pique-bandeira, o vasto repertório espana o sofá.

    As cores e brisas doces que abril inaugura abrandam asperezas. O Rio das violências crônicas, das promiscuidades entre representantes públicos e mafiosos também é o Rio dos afagos ao corpo e à cuca.

    O Rio das tretas no trânsito, da indiferença apressada das telas, dos preconceitos encruados também é o Rio dos pés sorridentes nos campinhos de terra, do golzinho de chinelo na areia. Das bicicletas que cortam a mata quando o sol se espreguiça, dos herdeiros do rolimã imunes às leis da física.

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    O Rio do frescobol, surfe, futevôlei, beach tênis – inquilinos no trono praiano. Das peladas no Aterro, na Lagoa, na Quinta. Do cinco-corta no play, do voleizinho no clube, do queimado no recreio.

    Do basquete na favela, das braçadas em Copa, da corridinha na Urca. Das incursões nas trilhas costeiras. O Rio da ioga ao cair da tarde, da remada na canoa havaiana. Do breaking, do funk, do passinho.

    Tamanha fartura corteja a prática esportiva, tão preciosa ao bem-estar. Meia hora diária de atividade moderada já ajuda a conter ameaças como diabetes, infarto, câncer – principalmente se acompanhada de refeições que harmonizem frutas, legumes, verduras, carnes magras, grãos, sem excesso de açúcar, sal, gordura.

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    Boa parte da população mantém-se, contudo, pouco ativa, sedentária. Desperdiça o playground a céu aberto. Menos por preguiça do que por carências materiais, estruturais.

    Os atributos naturais e culturais do Rio favorecem o desenvolvimento de uma política de Saúde centrada na inclusão esportiva. Uma política de Estado que agregue esforços governamentais, privados, comunitários voltados à democratização desse hábito como propulsor de lazer, integração social, cidadania. De vida saudável.

    Uma política acima de desavenças e oportunismos. Uma política articulada aos inadiáveis avanços de acessibilidade. Igualmente comprometida com o recuo de hospitalizações, de tratamentos caros, sacrificantes às famílias e aos cofres públicos.

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    Inspirações não faltam. Por exemplo, o programa Praia para Todos promove, desde 2008, modalidades adaptadas para pessoas com deficiência: surfe, frescobol, vôlei, stand-up. Organizada pelo Instituto Novo Ser, a 16ª edição segue até o fim do mês, aos sábados e domingos, em Copacabana, Ipanema, Barra, Recreio, Flamengo.

    O outono chama. Apela a um Rio mais suave, equilibrado, inclusivo. Seria ótimo ouvi-lo.

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    Corrida solidária

    Por falar no entrelace entre esporte e cidadania, a 11ª edição da Wings for Life World Run reunirá, em 5 de maio, milhares de participantes mundo afora. Sem chegada fixa, a corrida de rua global destina o valor arrecadado com as inscrições a tratamentos de lesão na medula óssea.

    Os corredores poderão participar de qualquer lugar, a partir das 8h (de Brasília), por meio do aplicativo oficial. Meia hora depois da largada, a linha de chegada virtual, representada pelo Catcher-Car, começa a acelerar. O último ultrapassado pelo veículo vence a brincadeira.

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    O piloto Lucas Moraes, primeiro brasileiro a faturar uma etapa do Rali Dakar (categoria carros), em janeiro deste ano, será a voz do carro perseguidor virtual. Já a jornalista e corredora Carol Barcellos, fundadora da ONG Destemidas, comandará informações no aplicativo.

    Integram também a experiência craques como o ciclista Henrique Avancini, o surfista Adriano de Souza, a ultramaratonista Fernanda Maciel, o piloto Felipe Fraga e o campeão olímpico no vôlei de praia Alison Cerutti. Nascida em 2014, a prova acumula quase 1,3 milhão de participantes em 195 países.

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    Alexandre Carauta é jornalista e professor da PUC-Rio, integrante do corpo docente da pós em Direito Desportivo da PUC-Rio. Doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação FísicaOrganizador do livro “Comunicação estratégica no esporte”.

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